Lembrando a autonomia das capitais

Escrito por Mauro Benevides ,

Numa trajetória de vida política, quando percorri todos os escalões da hierarquia legislativa, nenhuma das minhas iniciativas obteve tanta ressonância como a autonomia das capitais, pondo fim a uma discriminação odienta, que punha à margem da disputa um eleitorado de escol, em condições de decidir, por vontade própria, o dirigente de sua respectiva metrópole.

Pregando nas pequenas, médias e grandes reuniões, realizadas em praças públicas, defendi, naquela empreitada constitucional a reabilitação de uma prerrogativa nitidamente democrática, aplaudida e elogiada pela opinião pública, eufórica pelo resgate de uma franquia conspurcada, irrefletidamente, privando os cidadãos do direito de escolha em urnas livres.

Sem que essa rememoração possa significar exaltação pessoal, reitero, mais uma vez, a mobilização espontânea que respaldou a proposição submetida ao Congresso, levando-me aos mais variados recantos do País, quando, em nossa Fortaleza, peregrinei por muitos bairros populares, como na concorrida concentração, em plena Praça do Ferreira, - esta, sempre palco de grandes eventos, no contexto de nossa historiografia política.

Recordo, também, que, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, na maior arregimentação política de que participei, senti-me retemperado democraticamente, por ver a minha Emenda Constitucional acolhida, estrepitosamente, diante de um palanque com próceres ilustres, sequiosos para exaltar um projeto que restauraria as liberdades nulificadas por atos discricionários.

Ao empalmar tal bandeira de luta, jamais dimensionaria tão impactante apoio, numa receptividade comovente, menos pelo autor e muito mais por uma ideia que ia ao encontro de uma nobre aspiração coletiva dos brasileiros.

Tantas décadas depois, relembro esta batalha hercúlea, revitalizadora do Brasil como Nação democrática.

Já se disse, em nosso repertório musical, que "Recordar é viver...".

Mauro Benevides
Jornalista e senador-constituinte

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