LBGTQI+ para além de fechar a conta

Escrito por Gisella Colares Gomes ,
Gisella Colares Gomes é tecnologista em informações geográficas e estatísticas, graduada em economia pala UFC e doutora em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília
Legenda: Gisella Colares Gomes é tecnologista em informações geográficas e estatísticas, graduada em economia pala UFC e doutora em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília

Inicialmente quero dizer que este artigo não é uma resposta oficial do IBGE. Contudo, sou uma servidora do órgão e lendo o artigo “Carta ao IBGE: essa conta não fecha” foi suscitado em meu coração escrever sobre isto.

O artigo trouxe muitas questões pertinentes, mas quero trazer outra perspectiva sobre elas. O texto inicia dizendo que “Você declarou que apenas 1,9% da população se declara homossexual”. Mas quem é esse você? O texto ora trata o IBGE como uma instituição, ora trata como se ele fosse uma pessoa com vontade própria. O IBGE é realmente uma instituição complexa e isso reflete a dificuldade e a profundidade de sua missão que é “retratar” e não emitir opinião ou julgamento de valor. Não cabe ao IBGE dizer que 1,9% é muito ou pouco e só divulgar quando achar que o número é relevante. O papel do IBGE não é político, é produzir subsídios técnico-científicos para estudos acadêmicos que orientam política pública e não para legitimar o conteúdo de qualquer fenômeno. A legitimidade no direito de ser homossexual independe de sua medida.

Retratar relações sociais, invisíveis e subjetivas é uma ciência, mas não é exata. As pesquisas domiciliares do IBGE são autodeclaratórias e não são necessariamente respondidas pela própria pessoa. Essa metodologia é usada para todas as outras variáveis e está relacionada à viabilidade de encontrar todas as pessoas do domicílio. Talvez não seja a metodologia mais apropriada para este tema. Todavia, os resultados foram semelhantes aos de outros países. O IBGE aprende diariamente sobre como medir variáveis. Afinal, a metodologia precisa avançar para retratar o contexto cada vez mais rico e diverso. Com certeza, ainda vai aprimorar a metodologia para pesquisar a temática apresentada.

O IBGE vem sofrendo sucateamento de sua infraestrutura física, muitas aposentadorias e poucas vagas de concurso. A produtividade foi incrementada com uso da tecnologia, mas é preciso uma estrutura mínima de capital intelectual para realizar essa atividade tão grandiosa. Fazer uma pesquisa não é simplesmente fazer perguntas. Até porque uma das grandes dificuldades que a instituição enfrenta é a disponibilidade do cidadão para responder aos questionários por questões, dentre outras, de tempo, segurança e desconhecimento de que o IBGE é um órgão de Estado e não de governo.

Espero que as diversas comunidades e cada vez mais pessoas se unam à luta pela manutenção das condições de trabalho e produção de estatísticas públicas oficiais no Brasil.

Gisella Colares Gomes é tecnologista em informações geográficas e estatísticas, graduada em economia pala UFC e doutora em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília

Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024