Infância na periferia

Escrito por Adriano Leitinho - Defensor Público e titular da 3ª Defensoria da Infância e Juventude ,

Toda criança e adolescente têm direito à saúde, moradia, alimentação, educação e lazer. Como garantir isso em tempos de pandemia, principalmente, nas camadas mais pobres da população, em que a orientação, por vezes, não chega, não há lazer ou espaço físico para que as crianças possam se desenvolver?

Com a pandemia do novo coronavírus, muitas famílias tiveram que se reinventar para conciliar o home office aos cuidados com a casa e os filhos. Nas periferias e favelas, estas rotinas se tornam ainda mais difíceis, pois os espaços para educar e entreter as crianças e adolescentes são quase inexistentes, situação agravada pelo isolamento social e reforço nos hábitos de higiene. As famílias mais carentes vivem em imóveis bem pequenos, em sua maioria, desprovidos de água potável, coleta de lixo, energia elétrica, saneamento básico, televisão ou internet.

Fazer com que a criança e o adolescente da periferia e das favelas fiquem em casa é tarefa árdua. Falta informação e diálogo dentro de casa e, muitas vezes, a casa é o ambiente opressor, com casos de violência doméstica, falta de dinheiro ou estrutura adequada.

A realidade do confinamento é bem distinta para as camadas mais pobres e, o que somente ocorria à noite com a chegada de todos os membros às casas, passa a ser um dilema cotidiano: filhos ativos, inquietos, ansiosos e acostumados a ir à escola, praças e campos de futebol. A insegurança financeira acentua ainda a problemática, pois o esgotamento de recursos adiciona gatilhos para novos conflitos sociais, que refletem diretamente nos direitos das crianças e dos adolescentes.

A Defensoria Pública, atenta a toda essa problemática, vem trabalhando com as comunidades, com os movimentos sociais, baixando recomendações e entrando com ações judiciais sempre pensando no melhor interesse da criança e do adolescente. Mesmo em tempos de pandemia, os direitos de crianças e adolescentes estão em prioridade e devem ser respeitados.

Assuntos Relacionados
Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024