Educação: o blockbuster
Recentemente, o portal Todos Pela Educação divulgou uma análise sobre as 3.068 emendas apresentadas por parlamentares ao Projeto de Lei do novo Plano Nacional de Educação (PL 2.614/2024), atualmente em debate na Comissão Especial da Câmara dos Deputados. O estudo revelou que 74% dessas propostas apresentam conteúdo idêntico, um dado que expõe como a atuação política, muitas vezes, se apoia menos na competência técnica ou autenticidade, e mais na repetição mecânica de práticas e discursos.
Preciso admitir: grande parte das ações políticas não é teatro. É uma representação pífia de um cinema mal produzido, com roteiro decorado, cortes mal calculados e “heróis” de talento duvidoso que apenas repetem falas vazias.
No teatro, ao menos, os artistas suam no palco, as máscaras caem com o peso da atuação, a plateia percebe o improviso, o tropeço, a vergonha alheia. Já na política-espetáculo, o fingimento é profissional e o constrangimento, coletivo.
Com base nas informações do raio-x divulgado, é possível afirmar que grande parte das emendas resulta de articulações de lobby ou redes de influência. Muitos parlamentares querem apenas sinalizar às suas bases que “participaram”. No chamado cineativismo parlamentar, o enredo é sempre reciclado. Os personagens trocam de terno como trocam de partido, e os aplausos continuam vindo dos mesmos camarotes.
Além disso, a análise evidenciou uma centralização desproporcional na autoria das emendas: três legendas concentram 75% do total apresentado, e apenas meia dúzia de parlamentares é responsável por metade das proposições. O processo legislativo se reduz a um espetáculo. Enquanto a base ensaia um protagonismo formal, a oposição lança o novo blockbuster do Congresso, voltado exclusivamente à viralização.
É exaustivo perceber que cada nova “estreia” política não passa de uma refilmagem mal roteirizada da velha enganação. E o mais trágico é que, em poucos anos, quase ninguém se lembrará de como esse roteiro foi escrito, por quem ou a quem serviu. Mas seus efeitos, profundos, silenciosos e duradouros, continuarão assombrando a educação brasileira como créditos finais que nunca terminam.
Davi Marreiro é consultor pedagógico