Educação e a dança das cadeiras

Escrito por Davi Marreiro , davimarreiro@hotmail.com

Uma brincadeira relativamente inocente, mas, sob a perspectiva da politicalha brasileira, a dança das cadeiras tornou-se uma expressão idiomática depreciativa, cujo significado assemelha-se negativamente com outras elocuções, como: jogar verde para colher maduro; matar dois coelhos com uma cajadada só, ou até mesmo um “toma lá, dá cá”. 

O importante sempre foi “quebrar o galho” trocando “seis por meia dúzia”. Enfim, quando nos fracionamos para mancomunados protegermos ídolos e ideais absolutos, aparentemente perdemos o privilégio idiossincrático de questionar todas essas articulações melindrosas, por esse motivo é preferível chamá-las oficialmente de reformas governamentais. 

Com isso, nessa última semana, mais uma vez “dançamos conforme a música” e vimos a substituição dos ocupantes de seis cadeiras ministeriais. Como se isso já não bastasse, pela quinta vez, somente neste governo, a Secretaria de Educação Básica (SEB) do Ministério da Educação ficou sem seu titular oficial.

Ao que tudo indica você não precisa perder tempo tentando responsabilizar alguém porque em momentos de crise a máxima das circunstâncias geralmente é compartilhada por ambos os lados. Sendo assim, no ritmo da música evoco a Ópera dos três vinténs e seu famigerado questionamento: “Seríamos bons, em vez de tão brutais, se ao menos as circunstâncias não fossem como são?” 

Foram as circunstâncias ou alguns inculpáveis continuam temperando o choro, salgando o pranto? Afinal, até quando esta ominosa urdidura pandêmica servirá de cortinado para esconder incompetências e desazados? 

No meu último artigo, há duas semanas, relatei que o Brasil de forma inédita registrou em apenas um dia a calamitosa marca de 2,730 mortes pela Covid-19. Atualmente já suplantamos funestamente esse número e atingimos o recorde de quase 4 mil mortes em 24h. Definitivamente neste momento nenhuma brincadeira é conveniente. Não há limites? Parafraseando Juan Gelman: quem disse alguma vez: até aqui sede, até aqui fome, até aqui ódio, até aqui dor? Seríamos bons, em vez de tão brutais, se assumíssemos nossas responsabilidades e não exacerbássemos as pavorosas circunstâncias.  

Davi Marreiro
Professor da rede pública

Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024