Contra a desumanização

Escrito por Victor Breno ,

Na conjuntura gerada pelo vírus, além das dramáticas perdas de vidas humanas, acentuou-se um processo de desumanização da vida em sociedade. Parafraseando a filósofa judia-alemã Hannah Arendt, “tempos sombrios” — como os nossos — podem produzir o enfraquecimento de certas virtudes do humano gerando uma “banalização do mal”. 

Diante do marco de mais 200 mil mortos pela doença no País, do aprofundamento das desigualdades socioeconômicas, do aumento da violência contra diversos grupos, entre outros problemas, parece haver uma insensibilidade e apatia em parte dos indivíduos e instituições sociais.

A retração dessa “ser-humanidade mínima” propala, tanto nas micro quanto nas macros relações, a viralização de práticas desumanizadoras, especialmente para contingentes mais vulnerabilizados pelos efeitos devastadores da crise pandêmica. 

A fragilidade imunológica da moral desta mesma sociedade pode conduzir à uma metástase capaz de desintegrar componentes fundamentais à um vínculo saudável e equilibrados de cada sujeito como integrante desse organismo-mundo.

Portanto, torna-se necessário uma discussão que permita o surgimento de uma “ecologia política do humano”, capaz de produzir alternativas éticas à estas situações. 

Nesta expectativa, Arendt afirma que “mesmo no tempo mais sombrio temos o direito de esperar alguma iluminação, e que tal iluminação pode bem provir, menos das teorias e conceitos, e mais da luz incerta, bruxuleante e frequentemente fraca que alguns homens e mulheres, nas suas vidas e obras, farão brilhar em quase todas as circunstâncias e irradiarão pelo tempo que lhes foi dado na Terra”.

Que apesar das vidas tragicamente tiradas pela pandemia, não permitamos que seja subtraída também a humanidade em nós necessária pra alimentarmos a vitalidade de novos tempos.

Victor Breno
Professor

 

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