Carência em contratos de crédito

Aparentemente preocupados em ajudar clientes que buscam por opções de crédito no mercado, muitos bancos têm adotado a oferta de carência de seis até 12 meses para o início do pagamento das parcelas. Digo aparentemente, pois vemos pouca ou nenhuma preocupação em explicar aos consumidores as implicações e impacto de cada oferta.

Os riscos envolvidos são grandes, e podemos ter uma onda de inadimplência ou de retomada de garantias em um futuro. Afinal, a oferta é tentadora: adquirir um bem hoje e só começar a pagá-lo em alguns meses, principalmente em baixa liquidez e economia em paralisia, sem dúvidas, atrai a atenção. Entretanto, é crucial lembrar que não há “almoço grátis”.

No futuro, o saldo devedor será corrigido pela taxa de juros acordada junto a correção da inflação devido no período de carência, fazendo com que as parcelas sejam maiores quando retornarem os pagamentos. Não há avisos aos clientes também que o custo efetivo total (CET) da operação no período de carência e, portanto, não reflete taxações que deveriam servir de balizador para comparar as ofertas concorrentes.

O cliente mal-informado terá amargas surpresas ao receber as primeiras parcelas, e se a sua capacidade de renda não aumentar - na ocasião, a parcela a ser paga pode comprometer muito mais da sua renda mensal, até o ponto de levá-lo à inadimplência e, se o crédito for com garantia, há ainda a possibilidade de retomada do bem alienado.

Lembro que quanto maior o prazo de carência, maiores os riscos. É preciso muita cautela e responsabilidade ao buscar por uma oferta de crédito com carência. Ao cliente, cabe analisar sua situação financeira atual e futura, considerando os riscos. Às Instituições Financeiras, fica o alerta: a omissão, neste caso, as torna cúmplice nesta situação.
Transparência e informação clara e simples não deveriam ser a exceção, e sim a regra.

Elyseu Mardegan Jr.

Mestre em Administração de Empresa