Bingo do Limeira

Escrito por Gonzaga Mota ,

Sempre é bom recordar manifestações e atitudes de pessoas puras e sinceras. Gostaria de lembrar, neste resumido texto, a figura do inesquecível Zé Limeira. Torcedor do Ferroviário, admirador e amigo dos radialistas e comentaristas esportivos, bem como conhecedor da antiga música popular brasileira: Noel Rosa, Pixinguinha, Chico Alves, Marlene, Orlando Silva e muitos outros.

Zé, como eu o chamava, foi o chefe dos engraxates no antigo Abrigo Central, próximo à Praça do Ferreira. O Abrigo Central era um espaço extremamente democrático. Lá você encontrava políticos importantes, empresários, vendedores de mercadorias diversas, pedintes etc. Era o lugar onde Zé Limeira passava o dia. 

Gostava muito de política, não pertencia a nenhum partido, conseguia ser amigo de todo mundo. Por torcer pelo Ferrim, como eu, surgiu a nossa amizade. Passou a me acompanhar nas três campanhas políticas para Deputado Federal.

Percorremos vários municípios do Estado do Ceará, sempre por terra, numa D-20 e depois numa Ford Ranger. Viajávamos três: o motorista, chamado de sargento Garcia, por pesar mais de 110 kg, o Zé Limeira, que era o meu “marketeiro” e eu. 

Campanhas cansativas e muito difíceis. Não tinha dinheiro. Certo dia, chegamos num pequeno povoado, em busca de 120 votos, conforme disse o cabo eleitoral. Era a festa do Padroeiro: quermesse, roda-gigante etc. Houve o bingo de uma “porca”. Zé comprou uma cartela e ganhou. Foi receber o prêmio e lhe deram uma “porca” de bicicleta. 

Danou-se, brigou com quem estava lá, mas conseguimos tirá-lo da confusão e sair com rapidez. Perdi os 120 votos. Todavia, ganhei muito mais por trabalho do Zé. Ele não sabia ler nem escrever, no entanto fez dois livros: “Lembranças e lambanças”. O primeiro foi apresentado pela grande Raquel de Queiroz e o segundo tive a honra de prefaciá-lo. Assim era o Zé Limeira. Saudades. 

Gonzaga Mota 
Prof. aposentado da UFC 

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