As asneiras oficiais

Escrito por Gilson Barbosa - Jornalista ,

É incrível como, recentemente, temos ouvido uma avalanche de asneiras oficiais, partidas de figurões que ocupam cargos importantes na administração federal. Na área da cultura, o início deste mês foi marcado por declarações estapafúrdias, vindas de pessoas recém-nomeadas para cargos importantes na Fundação Nacional de Artes (Funarte) e na bicentenária Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. No caso da Funarte, seu novo presidente, o maestro Dante Mantovani, é autor de livros sobre música clássica, apresenta um programa de rádio e ainda mantém, no YouTube, um canal que leva seu nome. Neste canal, com pouco mais de 6 mil inscritos, ele tem compartilhado reflexões e teorias da conspiração em assuntos como arte e política. Entre elas, Mantovani afirma que o fascismo é uma ideologia de esquerda, chama a Unesco - divisão da ONU para a educação, ciência e cultura - de "máquina de propaganda em favor da pedofilia" e disse que os Beatles surgiram para combater o capitalismo e implantar o comunismo. Isto, ao explicar um comentário recente de Olavo de Carvalho, guru do atual Governo, de que o filósofo alemão Theodor W. Adorno, da Escola de Frankfurt, teria escrito músicas dos Beatles - outro absurdo! Pelo visto, sobrou até para John Lennon (1940-1980), o ex-Beatle que pregava a paz!

No caso da Biblioteca Nacional, o novo presidente, Rafael Nogueira, deixou entrever que ideias tem sobre o livro e a literatura. Pouco conhecido do mercado editorial, ele se confessa um leitor que perde livros em sua própria biblioteca e critica a falta de um herdeiro atual para Machado de Assis. Em 2017, associou artistas consagrados, como Caetano Veloso e a banda Legião Urbana, ao analfabetismo, pois letras de suas músicas estão em alguns livros didáticos. Preocupa-nos saber que pessoas com tal tipo de pensamento estejam à frente de instituições tão importantes. A cultura nacional vive tempos difíceis!

Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024