Escola: eu tô aqui pra quê?

Escrito por
Clarice Gomes Costa producaodiario@svm.com.br

E lá se vai mais um semestre em que a palavra de ordem é fazer reforço e simulado como preparação dos (as) estudantes para as provas do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (SPAECE) que acontecem no mês de novembro, comprometendo o próprio currículo escolar. 

Pensando nisso, relembro a música de Gabriel Pensador feita nos anos de 1995, intitulada Estudo Errado. Nela o compositor faz uma crítica ao ensino tradicional que ainda trabalha com o método da transferência de conhecimento e da memorização, a fim de que o (a) aluno (a) possa tirar o esperado 10 (dez) na prova, apesar de não ter aprendido suficientemente. Assim, questiona o próprio sentido e o significado da escola: “Eu tô aqui pra quê?”

Depois de quase 30 anos do lançamento dessa música, observo o cotidiano de muitas instituições do ensino público da educação básica e percebo conforme Freire (1986) que as mudanças na educação estão muito além da sala de aula, passam por um contexto também fora dela. Precisamos, portanto, estabelecer uma nova relação entre conhecimento e sociedade, pois quem determina qual conhecimento é importante para que nossas crianças, jovens e adultos aprendam, inclusive os (as) educandos(as) que possuem algum transtorno ou deficiência? Na prática, a maioria deles (as) são excluídos do direito de aprender, ainda que do ponto de vista legal tenham esse direito assegurado.

Atualmente quem determina qual conhecimento é necessário para aprender é a lógica empresarial, porque compreende qualidade como a elevação das notas da escola em tudo que pode ser medido, no caso na aprendizagem de disciplinas básicas, tais como português e matemática. Não por acaso as outras disciplinas são consideradas menos importantes, como por exemplo história, artes, educação física etc.

Nesse sentido, a crítica que Gabriel O Pensador fazia na década de 1990 acerca dos objetivos da escola permanece válida, uma vez que continuamos com práticas conservadoras de educação, antidialógicas, agravadas ainda por uma concepção empresarial de educação cujo fundamento é a pedagogia de resultados para alcançar a chamada Escola Nota 10. 
Portanto, corre-se o risco de o (a) aluno(a) repetir: “Manhê! Tirei um dez na prova, decorei toda lição, não errei nenhuma questão, não aprendei nada de bom, mas tirei dez”.

Clarice Gomes Costa é doutora em educação, professora da educação básica, membro da Coordenação Colegiada do Fórum EJA/CE