Apostas: o jogo que desemprega. Ou, além da queda, coice!

Escrito por
Assis Cavalcante producaodiario@svm.com.br
Legenda: Presidente da CDL de Fortaleza
Foto: Presidente da CDL de Fortaleza

 As apostas online, ou jogos virtuais, como muitos chamam, vêm se alastrando que nem praga entre os jovens e trabalhadores, com a velocidade de um clique e o impacto de uma dívida. O que começa como lazer ou esperança de acerto fácil logo vira armadilha, pesadelo. O salário evapora, o cartão estoura, o nome suja. E o corpo e a mente adoecem. Os casos não são poucos, infelizmente.

Dados recentes mostram que 44% dos jovens nordestinos adiaram a entrada na faculdade por conta dos gastos com apostas. Outros 17% já trancaram a graduação por esse motivo. O consumo caiu até na carne e na cerveja de fim de semana, substituídas pelas recargas em bets. É a renda sendo deslocada do consumo saudável para o jogo, sem retorno garantido - sem futuro.

No comércio, o efeito é direto: pedidos de adiantamento de salários, do 13º salário, das férias, sem contar os empréstimos feitos com juros altos, a ausência frequente no trabalho, as demissões. Evasão escolar, queda na produtividade, desmotivação são outras resultantes. E o ciclo se retroalimenta: quanto mais se perde, mais se aposta, na vã tentativa de recuperar o que se foi, o que raramente acontece.

O vício em apostas já consome 20% da massa salarial brasileira ao menos uma vez por ano. Não se trata mais de um comportamento pontual, e sim de um fenômeno econômico com efeitos concretos sobre o varejo. São bilhões de reais que deixam de ser investidos em alimentação, transporte, educação e saúde. O problema não está apenas na perda do dinheiro, mas no que ele deixa de gerar: bem-estar, convívio social, consumo responsável e, sobremodo, dignidade. A aposta se transforma em dreno silencioso de oportunidades.

Como empresário e educador, vejo com preocupação a escalada desse vício silencioso, que hoje já consome mais de R$ 20 bilhões por mês dos bolsos dos brasileiros. É dinheiro que, no popular, “gente besta não conta e sabido se atrapalha”, recursos que deixam de circular no varejo, na educação, na alimentação. É salário indo direto para o jogo, nocauteando esperanças.

A Faculdade CDL e a CDL Fortaleza reconhecem o tamanho do desafio. E talvez seja hora de irmos além da constatação. Cabe pensar, com responsabilidade, em ações de orientação, campanhas educativas e acolhimento aos trabalhadores que já vivem esse drama. O comércio pulsa com gente e precisamos cuidar dela.

Reparem ainda que, além da queda, o coice: a maior parte do dinheiro arrecadado pelas apostas online é drenada para fora do país, especialmente quando as plataformas são sediadas no exterior, como é o caso da maioria das grandes casas de apostas que operam no Brasil.

Assis Cavalcante é presidente da CDL Fortaleza

Elida Almeida é especialista em Marketing
Elida Almeida
04 de Dezembro de 2025
Álvaro Madeira Neto é médico
Álvaro Madeira Neto
03 de Dezembro de 2025
Kairo Alves é empresário
Kairo Alves
03 de Dezembro de 2025
Bosco Nunes é diretor de Planejamento e Gestão da CDL Jovem Fortaleza
Bosco Nunes
30 de Novembro de 2025