A queda de Lula e o traumatismo craniano

Medidas simples, como fortalecimento muscular, uso de tapetes antiderrapantes e barras de apoio em áreas molhadas e o uso criterioso de medicamentos que possam causar tonturas ou fraqueza muscular (culminando em quedas), são práticas preventivas eficazes

O acidente envolvendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sofreu uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada, trouxe à tona um tema de extrema relevância que, infelizmente, muitas vezes passa despercebido pela sociedade: o risco de traumatismos cranianos, especialmente em pessoas idosas.

É evidente que eventos assim ganham devida atenção quando figuras públicas são afetadas, mas essa é uma questão que deveria ser sempre pautada, dado o impacto na vida de milhares de famílias brasileiras. Como neurocirurgiões, parte do nosso dia-a-dia é dedicada a tratar complicações de quedas aparentemente inocentes como a que aconteceu com o presidente.

Em idosos, algumas particularidades tornam o tema ainda mais carente de atenção. O envelhecimento traz consigo um processo de atrofia cerebral, o que torna o cérebro mais vulnerável a movimentar-se dentro do crânio e causar lesões. Mesmo traumas aparentemente leves, como uma queda contra o solo ou uma vibração brusca podem resultar em graves complicações, como o hematoma subdural, que é um sangramento na superfície do cérebro. Essa condição, embora pouco discutida no dia a dia, é uma das principais causas de internação de idosos após quedas, especialmente entre aqueles que fazem uso de medicamentos que afetam a coagulação sanguínea ou a função das plaquetas, como o popular AAS.

Medidas simples, como fortalecimento muscular, uso de tapetes antiderrapantes e barras de apoio em áreas molhadas e o uso criterioso de medicamentos que possam causar tonturas ou fraqueza muscular (culminando em quedas), são práticas preventivas eficazes.

Como quase um mantra que se aplica à medicina inteira, a prevenção é fundamental para garantir a qualidade de vida dos nossos idosos e evitar complicações graves, como as que podem advir de uma simples queda.

O ocorrido com o presidente infelizmente não é um caso isolado, e cabe a todos nós — profissionais de saúde, gestores públicos e a sociedade em geral — sermos promotores da segurança e do bem-estar destes homens e mulheres de mais idade, a quem tanto devemos.