A economia em dólares e em reais

Escrito por Fábio Sobral ,

Atualmente temos duas economias distintas coexistindo no Brasil. Uma é a economia dos preços dolarizados de bens de consumo. A outra é a dos salários, que são pagos em reais.

Sempre que há essa profunda distinção ocorre uma imensa concentração de renda e a piora acelerada dos índices sociais. Há um empobrecimento das camadas trabalhadoras, o que acaba por provocar redução do consumo, queda do mercado consumidor interno, ampliação da pobreza e miséria. A ausência de estoques reguladores do governo para os produtos agropecuários fez com que as exportações ditassem os preços internos. Ou seja, sem estoques para vender em momentos de alta dos preços as variações se tornam agressivas.

Soja, arroz e carne passam a reproduzir internamente os preços internacionais. Para piorar, os combustíveis estão dolarizados. Tudo o que for transportado será afetado em seus custos. A dolarização é transmitida em cadeia. Porém, os salários continuam em reais. O salário vê ser reduzido seu poder de compra, por ter que comprar os itens da cesta básica a preços crescentes. Há em jogo um tripé macroeconômico perverso: preços dolarizados; salários em reais; desemprego imenso. O desemprego impede reivindicações salariais. No curto prazo é um paraíso para o capital, mas a médio prazo significa o aprofundamento de uma crise do mercado consumidor interno. Pequenos e médios negócios serão afetados por perda de mercado. Os salários em reais são engolidos por uma inflação ditada pela desvalorização do real frente ao dólar. Ganham os especuladores em dólar; ganham os grandes atacadistas; ganham os exportadores; ganham os setores agropecuários de exportação. Perdem os assalariados; perde o setor de serviços; perdem os setores de pequeno e médio porte que não conseguirem repassar as altas de preços. Uma economia dupla. Uma tragédia social e econômica.

Fábio Sobral

Professor de economia da UF

Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024