A ditadura da beleza

Escrito por Redação ,

Fiquei sensibilizado ao ler sobre a alta incidência do Transtorno da Dismorfia Corporal no Brasil, que já atinge a casa dos 150 mil casos por ano. Como se sabe, tal transtorno consiste na autorrejeição às formas corporais, por fugirem ao padrão divulgado como o normal e desejável pelas pessoas, o que gera baixa autoestima, e daí, variadas dificuldades na vida, inclusive de realização amorosa. 

Isso ocorre porque uma parcela da população adotou, de modo nada democrático, um padrão de beleza idealizado, divulgando-o ostensivamente nas mídias, via telas de tevê e cinema, peças publicitárias, e concursos de beleza feminina. Embora sejamos predominantemente mestiços de um país tropical, entre nós prevalece o modelo europeu de pele clara, cabelos lisos, rosto ovalado e corpo esguio, porém com curvas salientes. 

Tal padrão estético é assim de natureza cultural e tem mudado ao longo do tempo e lugar, remontando à Grécia Antiga, que cultuava o corpo humano belo por apresentar harmonia e proporção em suas partes, como uma dádiva divina. No Império Romano, o arquiteto Vitruvius deu-se até a pachorra de estabelecer as medidas que harmonizariam o corpo humano, estipulando, por exemplo, que a cabeça correspondesse a não mais que 1/8 do corpo. 

Claro que ele não tinha a menor ideia dessa proporção no cearense típico. Por ocasião do Renascimento, Leonardo Da Vinci reproduziu tais medidas humanas no desenho “Homem Vitruviano”. 

É inadmissível que em pleno século XXI, em que se combate discriminações e preconceitos, inclusive contra minorias, se aceite passivamente a rejeição aos feios e, sobretudo, às feias, que “não são de jogar fora” e são as maiores vítimas desses estereótipos. Portanto, cabe protestar e conclamar: “Feias e Feios do Mundo, Uni-vos!”.

Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024