A banalização da indiferença

Escrito por Victor Breno - Teólogo e cientista da religião ,

A indiferença tornou-se um sentimento naturalizado nas relações sociais. Nossa exposição cotidiana às mais variadas formas de violência, pobreza, corrupção – e tantos outros problemas – afeta a sensibilidade moral de cada um de nós, de maneira a banalizarmos o modo como lidamos com essas realidades. Somos dominados por um tipo de apatia e impassibilidade diante das mazelas ao redor, nos colocando como que imunes a elas.

Essa letargia moral está constituída, sobretudo, em função de uma cultura individualista que permeia as bases dessa sociedade. O individualismo, como estilo de vida moderno, está centrado na busca pela realização pessoal e hedonista como projeto principal da existência. Ele se impõe em detrimento das preocupações coletivas, fazendo dos “outros” meios ou empecilhos para se alcançar este determinado fim.

Destarte, tal sociedade torna-se um coletivo desagregado de sujeitos individualizados que concorrem desenfreadamente, de maneira particular e exclusivista, em torno dos seus próprios interesses e necessidades. A vida individualizada mina toda forma de empatia. Como consequência, enfraquece o componente ético nas pessoas. A indiferença banalizada pelo individualismo acaba por invisibilizar e acentuar as estruturas que geram conflitos e fraturas sociais.

Uma das pautas públicas fundamentais à reflexão ante esse cenário é a necessidade do resgate da responsabilidade pessoal como uma virtude humana e cidadã na construção de uma sociedade mais equânime. Por esta razão, as reformas políticas e econômicas que se colocam como pivô das expectativas da população com respeito a um “melhoramento”, desta mesma sociedade, podem se tornar ineficientes ou mesmo lograrem pouco êxito, caso não forem acompanhadas por uma reforma mais urgente: a da empatia moral, do altruísmo abnegado e da compaixão solidária.

Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024