Água Bananal, a cura na torneira

Até meados do século passado, poucos médicos e odontólogos residiam ou clinicavam nos sertões cearenses, mesmo naqueles de cidades mais desenvolvidas.
Assim, as boticas e os boticários exercitavam algumas tarefas de profissionais da saúde, somente encontrados em hospitais e clínicas dos centros desenvolvidos. Geralmente, nas capitais.

Aqueles práticos da medicina popular tratavam desde unhas encravadas a desconhecidas e complexas enfermidades. Quiméricas fórmulas, manipuladas misteriosamente nos fundos das drogarias, alardeavam-se curadoras, plenamente milagreiras.

Município de nosso Estado, onde se registrou surto de conjuntivite grave, quase endêmica, e também crescente número de pessoas acometidas de ceratoconjuntivite, aconteceu ferrenha concorrência entre os donos das duas únicas farmácias.

Um, para mostrar-se altamente conhecedor do problema e preocupado com a população, instou o bispo a determinar a secagem da pias batismais e de água benta das igrejas, afirmando evitar o contágio.

O outro buscou maior evidência e lançou um produto dito de efetivo poder fármaco: Água Bananal. Vendido engarrafado, devia ser usado nas lavagens dos olhos durante o dia. Êxito de vendas. Incontáveis doentes, pelas ruas, portando as garrafas da cura.

Incrédulo e indignado, o primeiro conseguiu um olheiro e descobriu a “composição secreta” da tal medicação. O competidor enchia frascos de um litro com água da torneira e, seguidamente, fazendo o gesto ofensivo de “dar uma banana”, dizia: “Toma fio duma égua!”.

Tempo depois, chegou um oculista e abriu consultório. Um dos “farmacêuticos” chamou o balconista e falou: “Fulano, vai cortar vara de marmeleiro! Agora, vamos ganhar muito dinheiro vendendo bengala pra cego!”.

Mesmo dado como verdadeiros, evitou-se nominar localidade, proprietários e estabelecimentos onde teriam ocorrido os fatos.


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