A prioridade do eleitor

Nenhum assunto preocupa mais os eleitores do que a saúde pública. Embora a escalada da violência tenha colocado a Segurança na lista de temas primazes, a maior parte da população nomeia a Saúde como prioridade máxima. Foi o que constatou a pesquisa do Ibope, encomendada pela TV Verdes Mares, a qual ouviu 1.204 pessoas entre 13 e 15 de agosto.

O levantamento solicitou que os entrevistados citassem os setores que enfrentam os problemas mais graves na administração estadual. Eles poderiam dar múltiplas respostas. Conforme a pesquisa, 73% dos entrevistados apontaram a Saúde; enquanto 54% mencionaram a Segurança Pública; e 40% indicaram a Educação. Esses foram os três temas mais lembrados pelos cidadãos.

Quanto ao primeiro, entende-se o grau elevado de apreensão que ele causa em grande porção dos habitantes. Por mais que, nos últimos anos, o Estado tenha ampliado sua estrutura de assistência médica na Capital e no Interior - com a entrega de hospitais e outros equipamentos, além de projetos que estão em andamento -, muitos cearenses ainda enfrentam filas martirizantes para receberem o devido atendimento. Trata-se de um problema com raízes nacionais.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é um mecanismo gigantesco de suporte médico popular, o que faz do Brasil uma referência em atenção primária com recursos puramente públicos. O SUS é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o maior sistema de saúde gratuito do mundo.

É responsável por um modelo de transplante de órgãos que é padrão internacional; oferece, de graça, todas as vacinas aconselhadas pela OMS; atende pacientes em variadas especialidades; oferece medicamentos, exames e cirurgias, entre outros procedimentos.

Mas, apesar dos elogiáveis aspectos democráticos e humanitários inerentes aos princípios que o regem, tal sistema esbarra em severos problemas de financiamento, o que dificulta o acesso de milhões de pessoas ao que ele deveria ofertar. Manter essa complexa rede de assistência demanda muito dos cofres públicos, sobretudo levando-se em conta que sete em cada dez brasileiros dependem exclusivamente do SUS.

União, estados e municípios desembolsam em torno de R$ 240 bilhões para cobrir 150 milhões de pessoas. Contudo, no comparativo com o resto do mundo, o investimento nacional é proporcionalmente baixo. De acordo com dados da OMS relativos a 2014, a Saúde representava 6,8% dos gastos públicos no Brasil, taxa inferior à média mundial, que é de 11,9%. Nas Américas, a média fica em 13,6% e, na Europa, em 13,2%.

Em tempos de aridez fiscal, com as contas públicas em situação alarmante, torna-se ainda maior o desafio de prover a Saúde com os recursos financeiros de que ela precisa. O congelamento dos investimentos em Saúde pelos próximos 20 anos, estabelecido pela PEC do teto de gastos, de 2016, adiciona mais dificuldades ao setor.

Diante dos óbices orçamentários, o planejamento preciso e a utilização eficaz dos montantes provenientes do erário de todas as esferas administrativas serão de importância medular para a sustentação do sistema. No entanto, é provável que, por mais tempo, os anseios populares em relação à Saúde não se coadunem com a realidade, mesmo com a vultosa carga de tributos paga pelos contribuintes. Isso somente será viável quando o País se reabilitar financeiramente e passar a gerir com o rigor necessário os seus recursos.