Tombini diz que inflação converge para 4,5% em 2017

De acordo com ele, face aos cenários externo e interno, o “balanço de risco é desafiador”, mas o BC está alerta para a situação.

Escrito por Agência Brasil ,

O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, disse nesta terça-feira (22) que o Banco Central “não se furtará” de adotar medidas para fazer convergir a inflação para o centro da meta em 2017, que está estabelecida em 4,5% pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Afirmou que "em relação ao setor externo, encerramos 2015 com uma expressiva redução de mais de 40% no déficit de transações correntes do balanço de pagamentos, de US$ 104 bilhões, em 2014, para US$ 58,5 bilhões, em 2015. Ao final do último janeiro, esse déficit, acumulado em doze meses, já havia recuado para US$ 51,6 bilhões e nossas avaliações mais recentes apontam para valores abaixo de US$ 30 bilhões ao final de 2016".

Segundo Tombini, que participou de audiência na Comissão de Assuntos Internacionais, no Senado Federal, para falar sobre a Política Monetária do governo, face aos cenários externo e interno, o “balanço de risco é desafiador”, mas o BC está alerta para a situação.

Ele informou que o déficit em conta corrente, um dos principais indicadores das transações do Brasil com outros países, deve recuar para US$ 30 bilhões, com a balança comercial atingindo saldo de US$ 30 bilhões.

Na última segunda-feira (21), o Banco Central divulgou que as perspectivas para o déficit em conta corrente do mercado financeiro melhoraram e passaram de US$ 24,10 bilhões para US$ 21,21 bilhões, com o saldo da balança comercial em US$ 42,40 bilhões. Não houve alteração na projeção para os investimentos estrangeiros diretos, mantidos em US$ 55 bilhões.

Ajustes incompletos

Sobre as turbulências externas, Alexandre Tombini destacou que o Banco Central está capitalizado e independente de recursos externos. Ressaltou como importante o empenho de todos para dar prosseguimento à política fiscal. “Os ajustes não completaram o ciclo. A consolidação requer perseverança de todos”, disse.

Ontem (21), o Banco Central informou que analistas e investidores do mercado financeiro reduziram - pela segunda semana seguida - a estimativa de inflação para 2016 medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A nova perspectiva agora é de 7,43% ante os 7,46% previstos anteriormente.

Durante a apresentação no Senado, o presidente do BC fez um balanço da situação internacional e doméstica. Segundo ele, desde o final do ano passado o quadro econômico se tornou complexo e menos previsível após a desaceleração da China e o crescimento abaixo do esperado nos Estados Unidos.

Ele disse que a previsão de que o Produto Interno Bruto (PIB) americano poderia tracionar a economia mundial mudou de rumo e o ciclo de aperto monetário deverá ser mais suave do que o previsto. “Os problemas na zona da Europa e no Japão, com as questões financeiras globais, também preocupam”, afirmou.

Riscos de contágio

O presidente do BC destacou que existe o problema na queda dos preços das commodities [produtos básicos], o que afetou países emergentes, como o Brasil, que são exportadores. Ele disse, também, que as economias hoje são mais interdependentes com riscos de contágio.

Diante do quadro, a projeção de instituições financeiras para a queda da economia este ano piorou mais uma vez e passou de 3,54% para 3,60%. Para 2017, a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país, foi reduzida de 0,50% para 0,44%. Para a produção industrial, a estimativa é de uma queda de 4,50% em 2016.

Depósitos remunerados

O presidente do Banco Central disse que a utilização de depósitos remunerados pelo governo é uma ferramenta importante na política monetária. Ontem (21), o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, anunciou que o BC poderá usar depósitos remunerados para enxugar o excesso de moeda na economia.

"É um mecanismo que muitos países têm. É mais um instrumento para ajudar o Banco Central a administrar a política monetária e a liquidez. Não significa abandonar os outros instrumentos de política monetária. “Apoiamos e é positivo. Como tal seria mais uma ferramenta mais positiva”, disse.

A autorização para a criação do mecanismo consta de projeto de lei complementar com medidas de reforma fiscal a ser enviado pelo governo ao Congresso Nacional. Atualmente, o Banco Central dispõe apenas de três ferramentas para controlar a quantidade de dinheiro em circulação: a compra e venda de título por meio de operações compromissadas, a fixação da taxa de redesconto (cobrada para punir bancos que não cumprem requisitos de capital mínimo) e os depósitos compulsórios (quantia que os bancos são obrigados a deixar depositada no BC). Dessas ferramentas, as operações compromissadas são as mais usadas.

Alexandre Tombini defendeu, ainda, a manutenção das reservas internacionais porque, segundo ele, não deixam o Brasil vulnerável às turbulências na economia. Existe uma corrente que defende a utilização das reservas para investimentos em infraestrutura e para o abatimento da dívida pública. Hoje, as reservas estão acima de US$ 370 bilhões. Tombini disse que a dívida é sustentável, mas é preciso colocá-la em uma trajetória mais sustentável.

O presidente do Banco Central é contra a utilização das reservas internacionais como defenderam hoje (22) alguns parlamentares na Comissão de Assuntos Econômicos, do Senado Federal. Existe uma forte discussão se o governo deve ou não usar as reservas internacionais de mais de US$ 370 bilhões para investimentos em infraestrutura e também para reduzir a dívida pública. “Não devemos mexer nas reservas internacionais, por melhor que sejam as ideias. É nosso “colchão de liquidez”, disse. Para o presidente do BC, as reservas funcionam como uma espécie de seguro para a crise.

Na audiência no Senado, Alexandre Tombini traçou um panorama da economia e disse que, entre outros fatores, dúvidas em relação ao ritmo da desaceleração da atividade econômica na China alimentaram uma dinâmica desfavorável à recuperação econômica mundial.

Mercados

“Numa onda de aumento da aversão ao risco nos mercados internacionais, a pressão derivada de saídas de capital naquele país se acentuou, os preços do petróleo e das commodities [produtos básicos] em geral declinaram com mais intensidade e a volatilidade dos mercados financeiros globais aumentou”, afirmou.

Segundo ele, vive-se hoje em dia num mundo mais interconectado financeiramente e isso tem implicações significativas para a formulação das políticas no âmbito doméstico. Se, por um lado, as interconexões financeiras favorecem um compartilhamento de riscos mais eficiente, diminuindo os impactos localizados de riscos, por outro lado tornam as economias cada vez mais interdependentes, aumentando o risco de contágio.

“Em resumo, o que se vislumbra para este ano é um menor dinamismo para a economia global e a manutenção de níveis altos de volatilidade e de incerteza. Nesse contexto, o Banco Central do Brasil continuará atuando para assegurar a estabilidade e o bom funcionamento do sistema financeiro e dos mercados”, disse.

Em relação ao cenário doméstico, Tombini destacou que a economia brasileira está passando por ajustes nas áreas externa, fiscal e monetária. Segundo ele, esses ajustes, que foram intensos em 2015, são importantes para a solidez da economia e para o estabelecimento de um ambiente de negócios propício ao crescimento mais à frente. “Os ajustes nas três áreas mencionadas, naturalmente, se processam em velocidades e em intensidades distintas”, enfatizou.

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