Saída de Mansueto impõe desafio de manter agenda após pandemia

A saída do secretário do Tesouro Nacional, o cearense Mansueto Almeida, da equipe do ministro Paulo Guedes (Economia) desfalca o governo num momento decisivo para o País: o início dos processos de retomada das atividades econômicas em diversas regiões, desde o isolamento social imposto pela crise causada pelo novo coronavírus.

"As pessoas precisam ter em mente que sou o único que estava no governo anterior e permaneceu no atual, estou desde 2016 e não aguento ficar até o fim do governo porque eu preciso descansar", afirmou Mansueto ao jornal Folha de São Paulo, ressaltando que fará uma transição coordenada do cargo.

Segundo defendeu, "ou saía agora, ou não saía, porque é preciso que seja o mesmo secretário acompanhando esse novo momento".

Entrosamento

A falta de entrosamento e de definição da retomada econômica pelo Governo Federal pode ter influenciado na saída de Mansueto Almeida do cargo de secretário do Tesouro Nacional. Na opinião da economista Tania Bacelar, Almeida não deve ter se sentido à vontade no Governo.

"Mansueto é um quadro competente e é um servidor público. Então eu acho que quando as coisas começaram a desandar, ele não deve ter se sentido à vontade. Ele é capaz de exercer esse lugar, mas eu acho que a proposta central do Governo - de ajuste fiscal - foi atropelada pela pandemia", diz.

Segundo ela, a falta de rumo na política econômica do Governo Federal reforçou a decisão de Mansueto. "Essa falta de entrosamento deve ter influenciado na decisão dele. Quando você tem rumo, você sabe o que fazer. Ele é uma pessoa competente que sabe o que vai fazer. Ele deve estar inquieto com os rumos do Governo. O que eu vejo é um Governo com muita dificuldade de entrosamento, inclusive na área econômica. A gente não tem uma definição de como vai acontecer a retomada da economia. Não falo dessa retomada de curto prazo. Em 2020, a economia vai entrar no fundo do poço", acrescenta a economista.

Perda

De acordo com conselheiro federal de economia, Lauro Chaves, a saída de Almeida é uma perda considerável para a equipe do ministro Paulo Guedes (Economia) e traz impactos negativos ao Governo Federal no momento da pandemia do novo coronavírus.

Chaves explica que Mansueto tinha um papel importantíssimo no planejamento econômico do Governo, além de ser uma peça valiosa para a articulação dos planos do Ministério da Economia no Congresso Nacional. Ele ressalta que Mansueto era conhecido por uma capacidade política notável, tendo recebido diversas vezes os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM).

Segundo Chaves, o ministro terá, agora, de reforçar, a partir da escolha de um sucessor para Almeida, a importância da agenda de reformas e a necessidade de não deixar faltar recursos às áreas afetadas pela pandemia de Covid-19 no Brasil.

"Com certeza o governo teve a perda de uma competência de um dos melhores economistas. É uma perda significativa em termo de qualificação, mas o que é mais importante é que, enquanto durar a pandemia, o Governo precisa mostrar comprometimento de não faltar recursos para saúde ou para os vulneráveis ou para as empresas", disse Chaves.

Reformas

Lauro Chaves ainda afirmou que o ministro Paulo Guedes precisará encontrar um nome que possa dar continuidade à agenda de reformas, citando a atualização do sistema tributário nacional e o modelo administrativo público como exemplos, além dos ajustes fiscais necessários. "Guedes terá de ajustar o cenário e teremos de negociar com o Congresso novamente, então perder o Mansueto pode ser um problema", disse.

Considerado o principal nome da equipe do Ministro Paulo Guedes, Mansueto Almeida sai em momento crucial para a economia do País, justamente quando os setores produtivos voltam à ativa depois da crise do novo coronavírus.