Romaria chega a movimentar R$ 67,4 milhões

Escrito por Redação ,
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Embora o gasto dos turistas-devotos seja relativamente baixo, é esse dinheiro que faz girar os pequenos negócios


´De longe, distante. Tangidos por fé. De todos os cantos vêm a Canindé´. A estrofe da letra de música resume o espírito e a disposição de aproximadamente dois milhões de fiéis católicos que fazem de Canindé o segundo maior santuário franciscano do planeta. Encravada no sertão cearense, distante 120km da Capital, a cidade é o último ponto de parada da reportagem Mercado da Fé, que avalia o impacto do turismo religioso católico na economia regional, já tendo passado este ano por Juazeiro do Norte (CE), Vaticano e Aparecida (SP).

Durante os festejos de São Francisco, que acontecem no período de 24 de setembro até 4 de outubro, a população de Canindé aumenta mais de dez vezes. Passa de aproximadamente 75 mil habitantes (IBGE, 2006) para 800 mil pessoas, conforme estimativas da paróquia local. São turistas-devotos oriundos dos mais diversos rincões do Brasil — sobretudo dos estados do Norte e Nordeste.

´Só nos três últimos dias da festa, a gente chega a ter aqui de 800 a um milhão de pessoas´, afirma o secretário do Desenvolvimento Econômico do município, Jesus Romeiro da Silva Filho. A maior parte, no entanto, é formada por pessoas humildes: romeiros que ficam em abrigos mantidos pela Paróquia de São Francisco ou espalhados em acampamentos pelas praças e ruas.

Impacto

Segundo pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Estado (Sebrae/CE), os romeiros gastam em torno de R$ 94,62, com uma permanência média de 3,4 dias em Canindé. O gasto diário per capita é de R$ 28,10. As despesas se concentram principalmente em transporte, hospedagem e alimentação. Sobra algum trocado ainda para as compras — de artigos religiosos, pequenas lembranças, vestuário.

Fazendo uma estimativa grosseira, se a cidade recebe cerca de 800 mil pessoas só nos últimos três dias, e levando em conta que cada um passe lá todo esse período, gastando R$ 28,10 diários, a romaria movimenta pouco mais de R$ 67,4 milhões em 72 horas.

Receita x despesa

Mas a cidade recebe romeiros o ano todo, totalizando duas mil pessoas/ano. Além disso, o consumo movimenta mais a economia informal. ´Aqui, a arrecadação de impostos e taxas na época da romaria é de R$ 160 mil. A despesa só com pessoal envolvido na fiscalização e limpeza pública chega a R$ 104 mil. É receita por despesa´, diz o secretário Romeiro Filho. Este ano, o governo estadual entrou com apoio, mas o grosso das despesas é tarefa da paróquia e da administração municipal.

Embora o gasto dos turistas-devotos de São Francisco seja relativamente baixo, é esse dinheiro que faz girar os pequenos negócios na cidade. A rede extra hoteleira absorve 85,3% dos visitantes (incluindo aí casas alugadas, residências de parentes, abrigos, entre outros). Hotéis e pousadas ficam com 14,7% do público. No quesito alimentação, 32,5% dos turistas utilizam restaurantes; outros 23,5% fazem a própria comida, e 14,3% trazem os alimentos de casa.

SAMIRA DE CASTRO
Repórter

Culto a São Francisco remonta ao século XVIII

Canindé, no meio do sertão do Ceará, é um centro regional de peregrinação onde está o santuário-basílica de São Francisco das Chagas. O culto remota ao início do século XVIII, quando os franciscanos, em suas viagens de apostolado pelo Norte e Nordeste, agremiaram os fiéis na Ordem Terceira de São Francisco das Chagas do Recife. Por volta de 1775, foi principiada a construção de uma igreja, à margem do Rio Canindé, cujas obras demoraram até 1796, quando se inaugurou o Santuário com a chegada da imagem do padroeiro. Em 1817 foi criada a paróquia. Em 1898, o bispo de Fortaleza confiou o santuário aos capuchinhos que levantaram o atual templo. Os franciscanos da província de Santo Antônio assumiram a administração de 1923 até o presente. O santuário foi elevado à Basílica em 1925/1926.

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