RMF teve menor taxa média anual de inflação

No acumulado do período, Fortaleza e as cidades do entorno também registraram o melhor desempenho

Escrito por Redação ,

O maior legado do Plano Real, conforme afirmam os especialistas, foi, sem dúvida, a estabilidade monetária e um dos mecanismos utilizados pelo governo federal para o controle da inflação foi o regime de metas, que define um índice central de 4,5% ao ano, com uma tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos - 3,5% e 6,5%, como limites respectivamente.

Segundo cálculos do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Estado do Ceará (Ipece), entre 1995 e o ano passado, a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), mesmo registrando uma média anual superior ao teto da meta, com um índice de inflação de 6,98% ao ano, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apresentou a menor média anual para o período, considerando este indicador, entre as dez regiões do País pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Quando se observa a taxa acumulada em igual intervalo de tempo, ainda levando-se em conta o IPCA, a RMF contabilizou inflação acumulada de 256%, sendo também a menor dentro da área de pesquisa do IBGE.

Comportamento recente

Entretanto, apesar de historicamente no período pós- Real, o IPCA de Fortaleza ter apresentado a menor taxa média do País, nos últimos anos houve crescimentos consideráveis neste indicador, a tal ponto de, no ano passado, a Capital cearense atingir o segundo maior índice entre as regiões pesquisadas pelo IBGE no Brasil, atingindo um a taxa de 6,38% ao ano, ficando apenas atrás de Recife (6,86%) e consideravelmente acima da média nacional, que chegou a 5,91% ao ano.

Alimentos e bebidas

A maior contribuição para esse crescimento, explica o coordenador de Contas Regionais do Ipece, Nicolino Trompieri Neto, foi do grupo Alimentação e Bebidas, o que se torna mais acentuado no caso das regiões metropolitanas de Fortaleza e ainda Belém, por conta dos maiores pesos que essa categoria tem dentro da composição do indicador.

Maior peso

"Em Belém e Fortaleza, essa pressão de Alimentos e Bebidas é maior por conta dos maiores pesos dentro da composição do IPCA geral. Enquanto que na primeira esse grupo apresenta o maior peso entre regiões pesquisadas, com 34,22%, em Fortaleza ele tem peso de 32,32%, sendo o segundo maior e um valor bem acima daquele verificado para o Brasil como um todo, onde Alimentos e Bebidas pesa 24,98% na composição do IPCA", justifica Trompieri.

Conforme disse, essa situação é agravada ainda em anos de seca, quando, então, aumentam os preços dos alimentos por conta da diminuição da oferta e também pelo repasse de custos de importação que crescem nesses períodos.

"Somado a esse fator, o aumento no número de turistas verificados nos últimos anos vem pressionando a elevação dos preços de alimentação fora de casa na Capital cearense (preços de refeições e bebidas em bares e restaurantes)", justifica ainda o coordenador do Ipece.

Pressão sobre os preços aumenta

Além do viés monetário, combinando a movimentação dos juros com o regime de metas para a inflação, a política econômica brasileira nesses 20 anos de Real apostou ainda nos campos fiscal, com metas de superávit primário, e cambial, com o câmbio flutuante, afim de assegurar a estabilidade monetária. Entretanto, nos últimos dois anos a pressão sobre os preços tem sido maior, fazendo com a inflação venha sempre a ultrapassando o centro da meta, ficando bem próximo ao teto. Mas por que depois de tantos anos esse fantasma, embora em proporção bem abaixo da época de implementação do plano, volta a assombrar o País?

Segundo o economista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Ricardo Eleutério Rocha, a flexibilização desse tripé, ou seja, dos fundamentos que asseguraram o sucesso do Real, pendendo em momentos diferentes para o abandono de um maior rigor no cumprimento do regime de metas para inflação, é o que desencadeou a atual conjuntura brasileira: menor crescimento do País conjugado com inflação mais alta.

Acima do teto da meta

De qualquer forma, relata, nas duas décadas de existência do plano, apenas em três momentos a inflação brasileira ultrapassou o teto da meta. "Mesmo quando o indicador ficou acima dos 6,5% máximos tolerados, ele só atingiu a casa dos dois dígitos em 2002, quando alcançou 12%, muito diferente da época pré-real quando a inflação chegava a quatro dígitos ao ano", relata Eleutério. "Mas ainda assim não podemos descuidar da política econômica, porque a inflação sempre foi um problema estrutural no Brasil e não pode ser posta de lado", fala.

Até porque, reforça o economista, a estabilidade monetária é condição necessária para pavimentar o caminho para o crescimento econômico. "Política econômicas requerem credibilidade. Se as expectativas são negativas, os empresários não investem criando-se um ciclo vicioso. O problema atual é de credibilidade, gerando esse ambiente de pessimismo", analisa.

Consequência

"O aumento no número de turistas verificados nos últimos anos vem pressionando a elevação dos preços de alimentação fora de casa na Capital"
Nicolino Trompieri Neto
Coordenador de Contas Regionais do Ipece

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