'Nosso foco será voltado para clusters de desenvolvimento', diz novo presidente do BNB

Ao tomar posse no cargo, novo gestor do BNB quer fortalecimento de cadeias, como turismo e indústria, que devem estar na esteira dos projetos financiados

Escrito por Ingrid Coelho , ingrid.coelho@svm.com.br
Legenda: Cabral tomou posse na manhã de ontem (2) na sede do BNB no Ceará
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

Ao tomar posse como presidente do Banco do Nordeste, Alexandre Cabral ressaltou a importância do BNB na redução da desigualdade socioeconômica na Região e afirmou que clusters de desenvolvimento deverão ser o foco de sua gestão. Citando o Pecém e o Turismo, o novo presidente afirmou que o desenvolvimento de infraestrutura e logística deve ser estimulado para "viabilizar o aumento da produção, o aumento da geração de emprego e renda, que é o nosso objetivo maior, com sustentabilidade". Já para o microcrédito, o presidente afirmou pensar em um "spinoff" do Crediamigo com o objetivo de alcançar ainda mais pessoas, além de planejar levar o modelo a todo o País "por uma empresa já separada do próprio Banco".

Sobre a indicação dele para a presidência do BNB, Cabral negou que esteja no cargo por indicação de políticos do Centrão e ressaltou sua atuação no mercado, na Casa da Moeda e como funcionário de carreira como justificativa.

Qual marca Alexandre Borges Cabral, pessoalmente, quer deixar ao longo de sua presidência?

A marca deve ser do ponto de vista da infraestrutura. O Banco, quando foi criado em 1952, já possuía o pressuposto que iria atuar na área de infraestrutura, na área do crédito rural, na área de crédito industrial e suplementarmente na parte de comércio e câmbio. Essas necessidades continuam. Temos falhas ainda na nossa parte logística, temos falhas ainda na nossa infraestrutura de saneamento básico, mas o nosso foco é voltado para clusters de desenvolvimento. A nossa missão não é fazer saneamento amplo geral e irrestrito. Para isso tem a Caixa. Mas se a gente vai desenvolver um polo turístico, a gente precisa de saneamento.

Então, a gente precisa fazer o saneamento daquele polo turístico e assim sucessivamente. Se a gente vai ter o nosso polo industrial aqui do Pecém e não tiver uma estação de tratamento de efluentes e se isso for feito por meio de PPP ou de concessão com a iniciativa privada, o Banco tem interesse de viabilizar isso, porque isso é um gargalo para o desenvolvimento sustentável do meio ambiente do Porto do Pecém. E isso vale para toda a Região. Mas a gente não faz isso sozinho, vamos nos articular, a nível de Governo Federal, com outros órgãos para ver se a gente consegue bancarizar e achar a equação financeira que viabilize esses projetos.

Então a gente deve investir, além do que a gente já faz com o financiamento do micro, do pequeno, do médio e do grande, para que haja uma atuação forte em projetos de infraestrutura, em projetos de saneamento, mas sempre focado em clusters, em condições específicas, que vão viabilizar o aumento da produção, o aumento da geração de emprego e renda que é o nosso objetivo maior, com sustentabilidade.

Há uma desigualdade persistente no Nordeste, acentuada pelas crises. Como o senhor imagina a atuação do BNB na redução dessas desigualdades?

É muito fácil entender a desigualdade. O Nordeste brasileiro tem cerca de 30% da população, mas só tem 12% do PIB do País. Então existe um gap muito grande entre o que a gente representa em quantidade de pessoas e o nosso desenvolvimento do ponto de vista sócioeconômico cultural. Então, para desenvolver você precisa de saneamento básico, de hospitais. Nesta pandemia está faltando hospitais. Então, hospital é uma demanda clara que o Banco deve estudar para dar suporte para ampliar a rede privada de hospitais. O Banco precisa fazer a logística de infraestrutura. É lógico que o recurso que é preciso é imenso, mas a gente tem que, através da equipe do Banco, dar suporte a todos os governadores da Região nos seus projetos de concessão de PPPs, nos seus projetos privados. Esse é o grande desafio de a gente fazer.

O senhor assume o BNB depois de anos vigorosos de crescimento nas operações de crédito. No entanto, estamos enfrentando uma crise severa no campo da saúde que impactou tremendamente a economia. Como manter bons resultados neste cenário?

O primeiro passo vai ser a gente avaliar o que o pessoal já está fazendo, validar aquilo que está sendo feito certo. E verificar se há a possibilidade da gente redirecionar, de fazer alguma coisa a mais, além do que já está sendo feito. Esse é o primeiro passo. Com relação à pandemia é isso: o Banco pode atuar também fortemente no processo de atração de investimento. O Banco tem escritórios de atração de investimento em São Paulo, no Rio de Janeiro, e a gente pode junto com o Governo Federal, atuar para trazer novos investimentos para o País. De forma que a gente direcione essa cadeia de suprimentos que hoje as pessoas dizem: 'não posso deixar 100% da minha cadeia de suprimento na China'. Ora, de repente, pode ficar no Nordeste, que fica mais perto de Miami.

FNE Sol, FNE infraestrutura devem ser continuados ou ainda vai ser avaliado? Governo federal já sinalizou que poderá abrir o FNE para outros bancos, como o senhor vê isso?

A política do FNE é discutida no Condel (Conselho Deliberativo da Sudene) com a presença de todos os governadores e da União federal. O que a gente pretende fazer é um novo planejamento estratégico e tentar reavaliar esses programas para ver se eles estão sendo efetivos ou não. Aquilo que for bom permanece e aquilo que possa ser melhorado vai ser melhorado. Aquilo que não está tendo efetividade a gente deve diminuir. E voltar a discutir isso a nível do Governo Federal e a nível da Sudene, para aí sim, dizer que a gente vai mudar. No momento, a gente não vai mudar nada porque a gente depende justamente do Condel.

Outra questão ensaiada pelo Governo Federal, principalmente no início da gestão do ministro Paulo Guedes, era a possível privati-zação do BNB. O senhor chegou a falar com o ministro sobre esse ponto? Como este assunto está sendo conduzido? Ainda é interesse do ministro?

O que eu posso dizer é que o BNB não está na lista da PPI, das empresas que estão previstas para o desinvestimento e a privatização. Então, enquanto não houver uma decisão de governo que isso vai acontecer ou não vai acontecer, nós vamos ampliar a atuação do Banco para cobrir as falhas de mercado, para tentar fazer todo esse desafio, porque no momento que a pandemia aumenta a incerteza, o banco privado não compareceu.

O BNB é um dos indutores da inovação na Região. Como o estímulo à inovação deve ser conduzido na gestão do senhor? Há possibilidade de criar linhas de crédito direcionadas?

Esse segmento, a gente precisa reavaliar, porque linha de crédito não é muito adequada para o setor de start-up, para o setor de inovação, para o setor desse tipo de empresa. Porque a taxa de mortalidade dessas empresas é considerada elevada. Se você der 10 empréstimos de R$ 100 mil, por exemplo, se três derem certo e sete derem errado, você vai perder R$ 700 mil e receber R$ 300 mil. Você gerou um prejuízo. O que agente deve procurar é ampliar a atuação que o Banco foi pioneiro no passado, que é a questão dos fundos de venture capital. A gente vai ter que discutir. O Banco já participa do Criatec junto com o BNDES, e vamos discutir para ampliar essa atuação de forma que aquela que der certo, que vira um unicórnio, pague as outras que, porventura, derem errado. Então, nosso sentido do Hubine é continuar a ampliação da divulgação da necessidade disso aí, mas ampliar os instrumentos para facilitar, porque quando a gente procura num eixo Brasil, eles consideram Microempresa, muitas vezes, aquilo que fatura acima de R$ 20 milhões, mas não estão conseguindo faturar nem R$ 1 milhão por ano.

Os modelos de microcrédito urbano e rural devem sofrer alguma alteração na sua gestão?

O que o banco pretende fazer é um spin-off da operação do microcrédito. É separar o microcrédito do Crediamigo de forma que você possa ter uma avaliação mais apurada da eficácia desse projeto tão exitoso para o Banco, que chega na base da pirâmide. Isso a gente deve continuar e ampliar e se for o caso estender isso para todo o País, com uma empresa já separada do próprio Banco.

Ainda sobre o Governo Federal: o senhor entra na presidência do Banco sobre rumores de indicação dos partidos do Centrão, num ensaio de aproximação entre o presidente Bolsonaro com estes novos aliados. O que o senhor tem a dizer sobre? Isso pode atrapalhar a sua gestão?

A minha indicação foi uma indicação técnica que foi levada à Presidência da República através do meu currículo, a minha experiência exitosa que eu tive na Casa da Moeda, quando a gente teve uma grande dificuldade lá, perdendo 60% do faturamento e conseguimos manter a empresa viva sem depender do Governo Federal, apesar de todas as dificuldades e que hoje, em 2019 já voltou a fechar com lucro operacional, embora ainda tenha dado um prejuízo contábil em função de uma reversão de provisão.

A nossa indicação aqui é meramente técnica para trazer resultados e trazer o desenvolvimento sustentável para a região Nordeste.

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