Queda na renda e alta de preços afetam serviços às famílias

A retração na renda das famílias e o avanço dos preços dos serviços têm levado os brasileiros a cortar gastos do dia a dia e adiar planos de viagens, segundo o gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Roberto Saldanha

Escrito por Estadão Conteúdo ,

A retração na renda das famílias e o avanço dos preços dos serviços têm levado os brasileiros a cortar gastos do dia a dia e adiar planos de viagens, explicou nesta quinta-feira (14) o gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Roberto Saldanha. Como resultado, o volume de serviços prestados às famílias encolheu 6,6% em novembro ante igual mês de 2014, a 18ª taxa negativa consecutiva.

"Houve uma queda significativa na renda, e isso reflete no setor", disse Saldanha. Em novembro, a massa de renda real das famílias diminuiu 12,2% em relação a igual mês de 2014. O rendimento médio mensal, por sua vez, caiu 8,8% no período.

"O fator preço também influencia. Apesar de a renda do trabalhador estar apresentando redução gradativa, os preços continuam resistindo. Mesmo com a queda na renda, os preços não estão baixando", afirmou o gerente do IBGE.

Outro sintoma da contenção de despesas entre os brasileiros é o Índice de Atividades Turísticas (IATUR), que reúne serviços de diversos segmentos (desde passagens até alojamento e aluguel de carros). Esse indicador encolheu 1,9% em novembro ante igual mês de 2014.

"Esse resultado é uma função direta da renda e do dólar. Quando o dólar aumenta, isso inibe o turismo. O próprio turismo interno é afetado, pois a passagem aérea recebe influência do dólar, porque o combustível (querosene) é cotado na moeda americana", explicou Saldanha.

No caso do IATUR, há ainda uma influência negativa do turismo de negócios, que também tem apresentado desaceleração nos últimos meses, acrescentou o gerente. 

Telecomunicações

O setor de telecomunicações, antes resistente à desaceleração na atividade de serviços, teve em novembro o maior tombo desde que IBGE iniciou a Pesquisa Mensal de Serviços, em janeiro de 2012. O volume de serviços prestados em telecom encolheu 4,7% ante novembro de 2014, devido à menor demanda corporativa e também à necessidade das famílias em cortar gastos.

"O setor de telecomunicações atua em duas vertentes, corporativa e para as famílias. Nos últimos meses, o desaquecimento dos negócios em geral provocou redução nas linhas corporativas", explicou Saldanha. Segundo ele, foram afetados serviços de telefonia fixa, móvel, internet e outros mais específicos, como transmissão de dados e linhas privadas de comunicação.

A queda na renda das famílias também tem freado a demanda por serviços de telecomunicação. Apenas em novembro, a massa de renda real das famílias encolheu 12,2% em relação a igual mês de 2014.

"Nas famílias, em função da redução do poder de compra, também há redução de telefonia fixa, celular e ainda TV por assinatura, que não é um bem essencial", disse Saldanha. "Os serviços de mensagem gratuitos também contribuem, ferramentas digitais de custo zero são um facilitador (para os cortes)", acrescentou.

Com a recente desaceleração - o setor teve o primeiro resultado real negativo em junho de 2015 -, a atividade de telecomunicações deve demorar a se reerguer. "Só o aquecimento dos negócios e o aumento da renda do trabalhador pode levar o setor a ter novos ganhos reais", afirmou o gerente do IBGE. 

Serviços administrativos

A redução no volume de serviços administrativos e complementares prestados deve provocar ainda mais desemprego, já que o setor é intensivo em mão de obra, disse Saldanha. "Os principais demandantes são empresas e governos, e o que vemos é que eles estão cortando gastos", afirmou.

Em novembro, o volume de serviços administrativos e complementares encolheu 6,4% ante igual mês de 2014. São serviços de vigilância, limpeza, ajudante, entre outras tarefas, geralmente exercidas por pessoas com menor qualificação. "Esses serviços são os mais intensivos em mão de obra, e a queda no volume implica em desemprego", disse Saldanha.

O IBGE identificou no mês de novembro uma forte redução nesses serviços na Bahia. "Houve queda nesses serviços devido a empresas que perderam seus contratos de vigilância e limpeza", citou o gerente. Por lá, o volume do setor encolheu 35,3% ante novembro de 2014, um resultado sem precedentes.

Outro segmento que sofre com os cortes de custos em empresas são os serviços técnico-profissionais, que inclui consultorias, serviços jurídicos e de engenharia, por exemplo. O volume desse setor encolheu 7,1% em novembro ante igual mês de 2014.

Serviços de transportes

O volume de serviços de transportes continuou encolhendo em novembro, a reboque da menor atividade industrial no País. O setor encolheu 8,2% em relação a novembro de 2014, informou IBGE.

"Isso se deve ao menor consumo de matéria-prima pela indústria e ao menor volume de transportes necessários ao escoamento de sua produção", explicou Roberto Saldanha.

Em novembro, a produção industrial caiu 12,4% ante igual mês de 2014, segundo pesquisa realizada também pelo instituto. Com isso o volume de transporte terrestre diminuiu 13,8% no período, o pior resultado na série da Pesquisa Mensal de Serviços, iniciada em janeiro de 2012.

O setor aéreo, por sua vez, registrou aumento real de 11,3% na atividade em novembro ante igual mês de 2014, apontou o IBGE. "Isso se deve à redução de tarifas, que provocou aumento real no volume desses serviços", disse Saldanha.

O transporte aquaviário também avançou nesta comparação, com alta de 15,6%. O volume maior de exportações em relação a 2014 contribui para o resultado. "Além disso, os contratos de exportação (frete) são em dólar, e isso tem levado o setor a ter crescimentos reais", afirmou o gerente.

2016

A PMS contará com dados dessazonalizados a partir de 2016, disse Saldanha. Ainda não há data definida para o anúncio da nova série, que vai permitir observar a evolução dos serviços em relação ao mês imediatamente anterior. "Mas não deve demorar muito", comentou.

O IBGE espera a divulgação do dado fechado de 2015 (que ocorrerá em fevereiro) para realizar as últimas avaliações internas da série dessazonalizada, que já vem sendo testada pela equipe do órgão. A partir daí, o instituto espera fechar uma data para o anúncio.

A PMS, iniciada em 2012, começou a ser divulgada em agosto de 2013 apenas com dados de receita nominal (sem descontar a inflação). Em agosto do ano passado, o IBGE passou a incluir índices de volume, que excluem a influência de preços, mas apenas na comparação com igual mês do ano anterior. A dessazonalização, que requer uma série maior, de quatro anos, será o próximo passo na implantação da pesquisa.

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