Produtividade das MPEs no Brasil está longe da média da OCDE

A eficiência produtiva de micro e pequenas empresas brasileiras equivale a somente 10% da que é alcançada por negócios de grande porte no Brasil. Nos países membros da OCDE, taxa média chega ao patamar de 67%

Escrito por Redação , negocios@svm.com.br

Diante da dificuldade de acesso a crédito, falta de mão de obra qualificada, da burocracia e da carga tributária, o segmento de micro e pequenas empresas (MPEs) no Brasil apresenta uma das menores taxas de produtividade em relação aos países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade a qual o País pretende integrar. Segundo Edivan Miranda, coordenador geral de apoio às micro e pequenas empresas do Ministério da Economia, a produtividade das MPEs no Brasil equivale a apenas 10% da alcançada pelas grandes empresas, enquanto nos países da OCDE essa taxa é de 67%.

"Hoje, o grande problema da micro e pequena empresa no Brasil é a produtividade que, em geral, é muito baixa. Então, há uma defasagem muito grande, se comparado a outros países", disse Miranda, durante a abertura do 1º Encontro Metropolitano de Gestores de Associações e Grupos Produtivos de Micro e Pequenas Empresas e Empreendedores Individuais (Emampe), realizado na manhã de ontem (30), em Fortaleza. "O grande foco do Ministério é aumentar a produtividade das micro e pequenas empresas dando acesso, por exemplo, a instrumentos de inovação".

Na ocasião, entidades representativas do segmento assinaram o Projeto Associativismo 4.0 para ampliar as ações de melhoria do setor com qualificação para a cooperação entre gestores da área. O acordo foi fechado entre a Confederação Nacional das Micro e Pequenas Empresas e dos Empreendedores Individuais (Conampe), a Federação das Associações de Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Fampec) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Mão de obra

Dentre os fatores que contribuem para a baixa produtividade no País, o presidente da Conampe, Ercílio Santinoni, destacou a escassez de mão de obra qualificada e a falta de conhecimento dos microempreendedores para gerenciar o próprio negócio. "É muito comum o pequeno empreendedor achar que está ganhando dinheiro e, na hora em que ele vai estruturar os custos, ele percebe que está pagando para trabalhar. Em alguns casos ele não cresce, em outros ele fecha o negócio", diz.

Para o presidente do Conampe, no entanto, a "inserção digital" tem proporcionado avanços para o segmento de micro e pequenas empresas, contribuindo principalmente na estruturação de vendas desses pequenos negócios. "Muitos já estão acordando para o mundo digital, encontrando novas formas de vender seus produtos, seja por meio de redes sociais, como o Facebook, ou de marketplace. Então, essas são ferramentas de comercialização que eles podem usar para realmente se fortalecer", disse.

No entanto, o presidente da Fampec, Edivaldo Nunes, ressaltou que, no Ceará, o uso de plataformas digitais ainda está aquém do que seria adequado. "O pequeno empresário cearense ainda vê como um desafio o uso da tecnologia 4.0, enquanto as médias e grandes empresas já estão adaptadas a esses modelos nos seus negócios".

Gargalos

A diretora financeira da Federação das Micro e Pequenas empresas do Estado do Ceará (Ampe), Lucimar Nunes de Almeida, que atua no bairro José Walter, diz que entre os micro e pequenos empresários ainda falta muito acesso a informações básicas sobre questões financeiras e burocráticas. "Muitas vezes a pessoa quer começar a empreender, por necessidade, mas não tem muito conhecimento nem o capital inicial", ela diz. "Além disso, os pequenos já começam enfrentando a concorrência dos grandes, principalmente no comércio. Então, é muito importante que, antes de abrir o próprio negócio, a pessoa busque uma consultoria de gestão financeira, de administração", recomenda.

Reforma tributária

Com relação aos possíveis impactos da reforma Tributária sobre os micro e pequenos, Ercílio Santinoni disse que a entidade está "preocupada" com as propostas que estão em tramitação no Congresso Nacional por não contemplarem o segmento.

"Em momento nenhum você vê a expressão micro e pequena empresa dentro das propostas de reforma tributária que foram apresentadas. Apesar da promessa de que haverá um desconto para microempresa, isso não está em lugar nenhum e não foi sequer discutido", disse. "Se a possibilidade do Simples for tirada dos pequenos, então será perdida a competitividade frente aos demais empresários de maior porte", disse.

Já Edivaldo Nunes defendeu que o ideal seria que a reforma tributária incluísse uma tributação única para todo o sistema de micro e pequenas empresas brasileiras. Ele diz ainda que, além da carga tributária ser um dos gargalos para o segmento, a dificuldade para o pagamento de impostos é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos pequenos empreendedores.

"Temos que encontrar uma saída para que o micro e pequeno possa permanecer no mercado. A tributação é um peso, e mesmo com o Simples, ela continua a ser um grande gargalo para o nosso segmento", lamenta.

No Brasil as micro e pequenas empresas representam 99,1% do total registrado, segundo o Sebrae (2019). São mais de 12 milhões de negócios, dos quais 8,3 milhões são microempreendedores individuais (MEI). Os pequenos negócios também respondem por 52,2% dos empregos gerados pelas empresas no País.

Evento

O 1º Emampe contou com a participação de cerca de 180 empreendedores, gestores e líderes empresariais e de entidades e representantes institucionais do projeto como Sebrae, Banco do Nordeste, Governo Federal e Assembleia Legislativa. O encontro é aberto ao público e segue até hoje (31) com debates sobre oportunidades de crescimento a partir do associativismo, da melhoria da gestão financeira e da qualificação profissional.

As inscrições são realizadas no local e as vagas são limitadas. A programação acontece entre 8h30 e 17h, na Casa José de Alencar.

Uso de inteligência de dados é nova estratégia

Em meio a um cenário cada vez mais digital, os novos negócios têm buscado novas estratégicas para dinamizar o desenvolvimento de produtos ou serviços, garantindo mais competitividade no mercado. Para isso, algumas soluções tecnológicas, como softwares corporativos, já se tornaram uma necessidade na gestão das empresas. É o que aponta Ricardo Gonçalves, diretor da Fortes Tecnologia, atuante no ramo.

"A gente já percebe um claro movimento do mercado. O uso desses sistemas de gestão estão deixando de ser um fator diferencial para ser uma necessidade para ganhar da concorrência. Às vezes, o pequeno e médio negócio convive com margens muito apertadas, então qualquer ganho ou processo que ele consegue otimizar, gera um crescimento muito grande para ele. E elas já nascem dentro de uma geração digital, pensando de uma forma diferente. E elas já enxergam isso como um fator essencial", pontua.

No Estado, empresas do setor de comércio e serviços já têm começado a usar essas ferramentas. "A gente não enxerga um nicho específico, mas empresas do comércio já conseguem gerar um volume de dados muito grande. Uma simples nota fiscal pode oferecer informações do consumidor, como qual produto comprado, quanto gastou. Ou seja, ele cruza dados em benefício próprio. E o segmento de serviços também, como clínicas, hospitais e escolas. Então, essas empresas buscam esse complemento para que ter produtividade maior", diz.

Mas, no Estado a procura ainda não é tão grande pela falta de capital. A dificuldade de acesso ao crédito para investir nessas ferramentas ainda é um empecilho, conforme sinaliza Edivaldo Nunes, presidente da Federação das Associações de Micro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará (Fampec),

"Algumas empresas ainda estão se adaptando aos novos modelos de gestão empresarial e a dificuldade de acesso ao crédito para investir. Mas, as que já estão inseridas nesse contexto, têm alcançado novos mercados e aumentando receita", diz.

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