Prévia do PIB: Pandemia derruba atividade econômica do Ceará

Maior rigor na restrição de funcionamento das atividades logo no início da contaminação no Estado influenciou o resultado. Queda foi de 15,8%. Apesar da expectativa de melhora no segundo semestre, ano ainda deve fechar negativo

Escrito por Redação , negocios@svm.com.br
Legenda: Caso índices de contaminação continuem em queda, transição até abertura completa da economia cearense deve se encerrar no próximo mês
Foto: Fabiane de Paula

Em abril, primeiro mês completamente impactado pelo fechamento do comércio e de setores da indústria, a atividade econômica no Ceará apresentou uma retração de 9,43% em relação ao resultado de março, que já havia sofrido com o início da quarentena. Na comparação com abril de 2019, a queda foi de 15,83%, de acordo com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central para o Estado (IBC-CE), divulgado ontem (19) pelo Banco Central (BC).

Apesar da expressiva queda da atividade no Ceará em abril, superando a retração observada na média da região Nordeste e do Brasil, a expectativa é que o resultado de maio seja ainda pior. E a perspectiva é de que apenas em junho e julho o indicador apresente melhores resultados, mas ainda de forma tímida.

Tanto na passagem de março para abril como na comparação com abril de 2019, a atividade no Ceará apresentou um desempenho inferior ao registrado no Nordeste. De março para abril, o índice da Região recuou 5,95% e na comparação com abril de 2019, o recuo foi de 9,79%.

"A queda da economia cearense, muito superior à do Nordeste, é consequência da paralisação da maior parte das atividades do setor produtivo durante o lockdown, diferente do que ocorreu em outros estados", diz o economista Lauro Chaves, conselheiro federal de economia e assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). "Acredito que nós poderíamos ter uma série de atividades econômicas que poderiam não ter sido paralisadas, respeitando uma série de protocolos e restrições, como o setor da construção civil, indústria calçadista, e de confecção, por exemplo".

O economista Alex Araújo ressalta ainda a forte dependência da economia cearense dos setores de comércio e serviços. "O setor de serviços foi brutalmente afetado pela quarentena, porque além de ser obrigado a fechar os espaços, restringiu muito a circulação de pessoas", diz. "Por outro lado, o agronegócio, que é forte no oeste da Bahia e sul de Maranhão e Piauí, sofreu impacto muito pequeno", avalia.

Já o diretor geral do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), João Mário de França, acredita que a recessão econômica não foi causada pela restrição no funcionamento de atividades não essenciais, e sim pela queda na demanda em decorrência da pandemia. "Essa crise que o País e os estados sentem viria independentemente de a economia estar fechada em mais ou menos setores. Com as notícias dos casos de Covid-19 e mortes abalando o consumidor, haveria uma queda na demanda de qualquer jeito. Temos até observado setores reabrindo no Brasil e a demanda ainda não veio. O consumidor está receoso. Não concordo em atribuir a recessão à restrição das atividades, a crise viria assim mesmo, sentiríamos esse mesmo impacto".

Como exemplo para sua avaliação, França cita a Suécia, que, diferente da maioria dos países, não fechou o setor produtivo e está apresentando estimativas de queda do PIB em nível semelhante ao de países vizinhos que aplicaram restrições, como a Finlândia, Noruega e Dinamarca.

Expectativa

Mesmo com a forte retração em abril, Lauro Chaves acredita que o resultado de maio deverá ser ainda pior, com perspectiva de melhoras apenas a partir de junho.

"Essa retração da economia provocou uma queda muito grande no nível de renda das famílias e no aumento do desemprego. O cenário é desanimador, mas como algumas atividades estão retornando deveremos ver uma melhora, ainda em um nível muito lento, nos números de junho e julho. E vai levar alguns meses para que a gente volte ao mesmo ritmo que estava antes da pandemia. Os problemas do lado da oferta, com a desestruturação das cadeias do setor produtivo vai tornar essa retomada muito lenta nos próximos meses", alerta.

Para Alex Araújo, um retorno efetivo da economia cearense deverá ocorrer apenas no último trimestre do ano. "Em junho, mesmo com o retorno gradual do comércio, ainda teremos o setor de serviços muito afetado", ele diz.

França, por sua vez, pontua que no terceiro e quarto trimestres, o PIB do Ceará deve apresentar melhoras em relação ao segundo, que contém os meses considerados mais críticos. Ainda assim, o Estado deverá encerrar o ano com retração da atividade econômica, mesmo que em menor proporção que a nacional. "O Ipece deve divulgar até o final do mês o PIB do primeiro trimestre, que já deve captar algum efeito da crise em março. Apesar de no segundo semestre do ano já termos alguma recuperação, o ano certamente fecha negativo, embora esperamos contração menor que a do País. Crescimento só em 2021", admite.

Março

Em março, mês parcialmente impactado pelas restrições econômicas, a queda havia sido de 7,02% ante fevereiro, e de 3,48% na comparação com março de 2019. No acumulado de janeiro a abril, o Ceará registrou um tombo de 4,07% na atividade e o Nordeste uma queda de 2,73%. Já no acumulado de 12 meses encerrados em abril, o Ceará ainda apresenta uma leve alta, de 0,19%, enquanto a Região acumula queda de 0,28%.

No ano, a atividade econômica cearense apresentou queda de 0,6% em janeiro, alta de 1,3% em fevereiro, e queda de 3,4% em março, mês no qual o recuo registrado no Estado foi três vezes superior ao da média nacional e mais do que o dobro da média do Nordeste. Os dados são dessazonalizados, o que significa que foram descontados os impactos de feriados e de número de dias úteis, por exemplo.

Brasil

No País, o Índice de Atividade (IBC-Br), divulgado na quinta-feira (18), fechou abril no menor nível mensal para a atividade desde outubro de 2006, com uma queda de 9,73% em relação a março, o maior recuo mensal da série histórica, iniciada em janeiro de 2003, e queda de 15,09% ante abril do ano passado. Foi o segundo mês seguido de queda, de acordo com dados revisados pelo BC. Em janeiro, houve crescimento de 0,06%, em fevereiro de expansão de 0,31% e, em março, recuo de 6,16% em comparação com o mês anterior.

Considerando apenas dois meses de crise - março e abril, quando o isolamento social já estava em curso, a atividade econômica despencou 15,29%. Em 12 meses encerrados em abril, o indicador apresentou queda de 0,52%. No ano, o IBC-Br acusou retração de 4,15 %.

No dia 25 de junho, o BC divulgará uma nova estimativa por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI). O Ministério da Economia já trabalha com uma retração de 4,7% do PIB.

 

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