Operação da rede 5G ainda não tem data definida no Brasil

Possibilidade é que leilão saia no fim de 2020, mas início comercial pode ficar para 2021. Uruguai é o primeiro país da América Latina a ter nova tecnologia funcionando. No Mundo, Coreia do Sul, China e EUA são destaque

Escrito por Daniel Praciano , daniel.Nobre@svm.Com.Br
Legenda: O 5G é uma conexão 10 a 20 vezes mais rápida que o 4G, segundo a empresa Qualcomm, tanto para download quanto para upload. A promessa é que seja uma rede ainda mais robusta, com cobertura ampla e eficiente, com latência menor.

A internet 5G é uma realidade. Há 18 redes comerciais pelo mundo, sendo que Coreia do Sul, China (maior rede 5G do mundo) e EUA têm, cada um, 3 redes cada. Algumas operadoras em regiões selecionadas já trabalham com a nova rede. O Uruguai foi o primeiro país da América Latina a ter acesso a uma rede comercial de 5G.

A Austrália, Bahrain, Emirados Árabes Unidos, Itália, Suíça e Reino Unido também possuem o 5G funcionando comercialmente, garante a 5G Americas, uma organização comercial do setor composta pelos principais fornecedores e fabricantes de serviços de telecomunicações. A associação acredita ainda que outras 44 redes estarão funcionando até o fim do ano.

No Brasil, originalmente, seriam colocadas à venda, no futuro leilão do 5G brasileiro, 200 MHz na frequência de 3,5 GHz, 100 MHz na frequência de 2,3 GHz e 10 MHz da frequência de 700 MHz, aponta Ian Fogg, vice-presidente de Análises da Opensignal.

Porém, segundo o conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Vicente Aquino, que pediu vistas no processo, poderá haver mudanças. Os espectros das faixas de 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz seriam divididos em lotes de 10 MHz, e teriam que ser comprados pelas empresas interessadas em disputa de múltiplas rodadas ou em leilões combinatórios (CCA). Haveria uma redução pela metade do espectro à venda na frequência de 26 GHz.

As operadoras que arrematarem frequências terão que cumprir compromissos de cobertura, incluindo atendimento com 4G ou 5G em municípios com menos de 30 mil habitantes, rodovias e localidades que não contam hoje com serviço celular. Não haveria mais a venda de frequências no bloco nacional.

Desta forma, o leilão pode ir de março de 2020 para o fim do ano que vem. Afinal, sem o leilão ainda este ano, tudo pode ficar atrasado. "Queremos levar para a consulta pública uma ideia maturada com as contribuições do workshop (realizado em agosto na sede da Agência em Brasília)", disse Aquino, que também é relator da proposta de edital do leilão de 5G. Segundo ele, será um edital que engloba Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) e cidades inteligentes. "É um momento histórico. O leilão da quinta geração avança infinitamente na comunicação entre máquinas; o foco principal é esse".

O conselheiro da Anatel Aníbal Diniz destaciu que as Prestadoras de Pequeno Porte (PPP) "estão dando contribuição excepcional à atual infraestrutura da banda larga fixa". Ele defendeu a inclusão de blocos regionais e municipais no edital do 5G a ser lançado em 2020. As PPPs, que querem blocos regionais a valores reduzidos como contrapartida para levar o 5G a pequenos municípios e áreas rurais, têm a mesma visão.

A Associação Brasileira de Internet (Abranet) propôs, durante o encontro em Brasília, descontos às PPPs nas aquisições dos futuros lotes de 3,5 GHz, 40% para frequências nas áreas urbanas e de 50% para rurais. A Associação defendeu a admissão de consórcios no edital e o incentivo a estados e municípios para oferta de benefícios, como a redução do ICMS.

Já a Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), por sua vez, apresentou a ideia do "Lote PPP", bloco de 60 MHz de abrangência regional com 90% do valor de aquisição convertido em compromissos de abrangência e, também, propôs o estabelecimento de ofertas de atacado e de compartilhamento de rede em cidades com menos de 50 mil habitantes. Estas medidas podem acelerar a entrada do 5G em pequenas e médias cidades, coisa que ainda hoje é um problema para o 4G.

O que é o 5G?

O 5G é uma conexão 10 a 20 vezes mais rápida que o 4G, segundo a empresa Qualcomm, tanto para download quanto para upload. A promessa é que seja uma rede ainda mais robusta, com cobertura ampla e eficiente, com latência menor. No ápice da tecnologia, poderia haver cerca de 10 Gigabits por segundo (Gbps) de velocidade de download. Isso, entretanto, vai depender do investimento das empresas que participarem do leilão da Anatel.

Na prática, quem teve a oportunidade de ir até a Coreia do Sul e testar não se desapontou com o 5G, especialmente no quesito velocidade. Chegar a 1Gbps não foi difícil, e nem ultrapassá-lo. A velocidade é suficiente para baixar um vídeo de 1GB em 20 segundos. Para efeitos de comparação, a média do 4G em locais de ótima cobertura no Brasil é de 20 Mbps.

O secretário de Telecomunicações do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Vitor Menezes, destacou que o 5G permitirá utilizações como carros autônomos, cirurgias remotas, agricultura de precisão e cidades inteligentes. Ele salientou que o 5G não é evolução do 4G. "É uma tecnologia nova e disruptiva, que promete alterar a forma como vivemos", disse.

As implementações de 5G buscam resolver problemas práticos, mas o 5G pretende ir além - a meta mais ambiciosa para essa conexão é impulsionar o mercado de Internet das Coisas (IoT). É o que diz Fogg. "Com o tempo, os lançamentos de 5G melhorarão a latência móvel - uma medida da capacidade de resposta da rede - que fará com que tudo, da navegação na Web até a comunicação de voz sobre IP (VoIP), funcione de maneira mais suave e sem intermitências. O maior impacto inicial provavelmente será melhorar a experiência do usuário com uma conexão móvel para jogos de vídeo game de ação com vários participantes. Hoje, muitos jogadores do Fortnite ou do PUBG optam por usar o wi-fi ao invés de conexões de celular, devido à latência mais baixa e consistente", garante.

Demora

Segundo Rodrigo Cavalcanti, coordenador do Grupo de Pesquisa em Telecomunicações Sem Fio (GTEL) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e também professor do curso de Engenharia de Telecomunicações da universidade, o ideal é sempre "o quanto antes" quando falamos da chegada desta nova tecnologia.

"Porém há uma dinâmica de mercado, pois as operadoras precisarão investir fortemente na modernização das antenas e dos equipamentos de rede. Além disso, no caso do Brasil, uma das faixas de frequência a ser utilizada no 5G pode causar interferência no sinal de TV por satélite (antenas parabólicas) e alguns estudos têm sido feitos para resolver esta questão. Então, creio que o leilão virá no tempo possível", garantiu. "Se iniciarmos a jornada até 2021 estaremos chegando relativamente rápido à elite das telecomunicações".

Já a GSMA, grupo que representa os interesses mundiais das operadoras móveis, acredita que o Brasil só será um país com força e plenitude do uso do 5G a partir de 2023. Já para a região latino-americana, o 5G se consolidará em 2023, cobrindo 40% da população regional.

Antenas

"O modelo atual é um entrave significativo, a burocracia é excessiva na maioria dos municípios e os prazos para licenciamento são extensos", afirmou Sérgio Kern, diretor regulatório do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTelebrasil) durante encontro realizado pela Anatel em Brasília com sociedade, empresas, operadoras e parlamentares. Ele citou como exemplo a cidade de São Paulo que, conforme ele apontou, tem 2.800 pedidos de licença para instalação de antenas sem deliberação.

Felizmente para Fortaleza, a situação parece melhor no quesito facilidade de instalação de antenas. "A Capital cearense se destacou nacionalmente ao proporcionar às empresas de telecomunicação uma maior desburocratização na emissão das licenças, por meio do Programa Fortaleza Online, agilizando as autorizações municipais para regularização da instalação de antenas na cidade. Hoje, as principais licenças necessárias para regularizar a infraestrutura de banda larga e telefonia podem ser emitidas de forma online, em até 30 minutos, por meio do sistema", diz nota no site do Município.

Certamente será um desafio a rapidez na liberação de documentação para a instalação de antenas e demais equipamentos para o 5G. Algo que governos Federal, estaduais e municipais já devem estar se movimentando para reduzir.

"A necessidade de fibra óptica para a instalação da tecnologia 5G é cinco vezes maior do que a quantidade do que temos instalada hoje no País", explicou o vice-presidente da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp), Tomás Fuchs em encontro entre políticos, sociedade, empresas e Anatel em maio. Fuchs ressaltou que a utilização dos postes é fundamental para a implantação da tecnologia 5G.

"A estimativa de investimento no 5G é 1,7 vezes maior que no 4G e a expectativa é a de gerar milhões de empregos", defendeu o vice-presidente da Telcomp.

Parabólicas

Outra questão foi levantada pela Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel). A entidade sugeriu que os recursos da licitação de 5G sejam destinados à aquisição de filtros para mitigar interferências na Banda C ou na distribuição de kits em Banda Ku para a população de baixa renda usuária de TVRO (antenas parabólicas) na Banda C.

O superintendente de Outorgas da Anatel, Vinicius Caram, ressaltou a importância de manter o acesso a canais de TV a usuários das parabólicas. Para ele, a solução também seria utilizar filtros e a Banda Ku. Caram mencionou a possibilidade de aumentar a potência na Banda C para evitar a saturação, permitindo a convivência das TVROs com o 5G.

O professor Cavalcanti, da UFC, frisa que o "5G é uma nova infraestrutura digital que vai habilitar negócios e serviços inéditos. Portanto é fundamental que empresas, governos e universidades incrementem os investimentos e as pesquisas para que o Brasil domine e usufrua dessa oportunidade tecnológica".

 

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