Nova gasolina deve ser R$ 0,04/L mais cara e até 6% mais econômica

Padrões que entram em vigor hoje (3) devem elevar preços ao consumidor final, mas especialistas avaliam que o combustível deve permitir que os motores consigam rodar uma quilometragem maior por litr

Escrito por Redação ,
Legenda: Outro combustível que ficou mais caro no Ceará, de acordo com a ANP, foi etanol hidratado.

A nova gasolina automotiva provavelmente ocasionará elevação dos preços do combustível ao consumidor final, mas essa alta deve ser compensada pela eficiência que o produto vai proporcionar aos motores dos veículos. Especialistas calculam um aumento de R$ 0,04 por litro nos postos, mas destacam que os novos padrões para o produto refletirão na redução de consumo.

O cálculo é do consultor na área de Petróleo e Gás, Bruno Iughetti. “Nós estaremos com uma gasolina que obedece aos mais rígidos padrões mundiais. Evidentemente, isso traz um custo adicional, mas que compensa, porque isso deve fazer com que os veículos consigam rodar uma quilometragem maior por litro”, avalia o especialista.

Os novos padrões para a gasolina foram estabelecidos a partir de uma resolução da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) publicada no início deste ano. A resolução diz que os produtores de combustíveis devem estar dentro das novas regras a partir de hoje (3), primeira fase da regulamentação da gasolina. 

Neste primeiro momento, o combustível produzido no Brasil deve ter uma densidade mínima de 715 kg/m³ e octanagem mínima de 92 medida pela metodologia RON (Research Octane Number), utilizada na Europa. No Brasil, os parâmetros de octanagem utilizados eram o MON e o índice antidetonante (IAD), uma média entre o RON e o MON.

A resolução também estabelece que, a partir de 1º de janeiro de 2022, a gasolina deverá ter octanagem mínima de 93. A Petrobras, entretanto, se antecipou ao padrão e informou na última semana que já está produzindo e comercializando o combustível com octanagem 93. A estatal defendeu que o novo padrão tem maior eficiência e vai permitir a redução no consumo por quilômetro rodado, que deve compensar o provável aumento que o padrão deve ocasionar.

Vantagem

O engenheiro químico especialista em energia Expedito Parente Junior avalia que as mudanças devem refletir uma economia de até 6% no consumo. Ele explica que a octanagem é uma propriedade que mede a qualidade da combustão da gasolina. “Essa gasolina que virá com maior octanagem vai trazer mais benefícios para o motor. Numa perspectiva de médio e longo prazo, o consumidor irá perceber também uma melhora na dirigibilidade, na condição do motor em momentos de partida à frio e há uma tendência a reduzir a necessidade de manutenção”, destaca.

Ele avalia também que a densidade maior da gasolina também é algo positivo para o desempenho dos veículos. “Uma gasolina mais densa significa que, para a mesma unidade de volume, ela vem com mais energia. Então com isso espera-se que o consumo do veículo fique mais econômico entre 4% e 6%”, destaca Expedito Parente Junior.

Ele também pontua que a melhoria na eficiência dos combustíveis se trata de uma tendência mundial. “Isso vem sendo disseminado no mundo inteiro: combustível que promova uma eficiência energética cada vez maior e que reduza a poluição das emissões causa<CW-10>das pelo processo de combustão, então significa também tanto mais eficiência energética para o motor quanto menos poluição”, afirma.

Para Expedito, a melhoria e adequação aos padrões mundiais ainda não havia ocorrido por causa do monopólio da Petrobras. “Essas inovações ocorrem mais rapidamente em mercados com maior concorrência. Aqui no Brasil, a Petrobras monopoliza o refino e isso evidentemente causa menor competitividade. Além disso, todo processo de alteração na especificação de qualidade do combustível demanda tem</CW>po, é um processo longo”, diz.

Prazo

Ele lembra que, apesar de o prazo para a adequação aos novos padrões ser hoje, as distribuidoras e postos têm até 90 dias para substituir completamente todo o estoque existente. “Como tende a ser uma gasolina mais cara, é provável que as distribuidoras estejam bem estocadas e haja aos poucos uma diluição da gasolina nova pela gasolina velha, por assim dizer. Então, os impactos não serão sentidos de imediato, mas ao longo dos próximos dias e meses, até que todo o estoque nacional seja substituído”, diz Parente.

Manutenção

Bruno Iughetti também avalia que uma importante vantagem da nova gasolina é a dilatação nos prazos de manutenção dos motores. “Além de produzir maior eficiência, também será possível manter as válvulas mais limpas, então isso acaba compensando essa estimativa de alta”, pondera. “Os nossos padrões, até então, deixavam muito a desejar e nós acordamos em boa hora”, diz.

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