Mercado se diz calejado com mudanças de ministros
Saída de Nelson Teich da pasta da Saúde - a terceira queda de ministro em menos de um mês - teve pouco impacto na variação do dólar e nos índices da bolsa
A saída de Nelson Teich do comando do Ministério da Saúde nesta sexta-feira (15) teve pouco impacto no mercado financeiro. Logo após a notícia de seu pedido de demissão, o dólar, que recuava 1% na mínima do pregão, a R$ 5,76, passou a subir 0,36% e foi a R$ 5,8440. Logo em seguida, porém, a moeda reduziu ganhos. Por volta das 15h20, tem leve alta de 0,15%, ficando em R$ 5,832.
A Bolsa brasileira, que estava cotada a 78.852 pontos, com leve queda de 0,2%, foi a 77.426, um recuo de 2%. A desvalorização, porém, perdeu fôlego no início da tarde e o Ibovespa recua 0,8%, a 78.372 pontos. Esta é a terceira saída de um ministro do governo de Jair Bolsonaro em menos de um mês.
"Tínhamos uma tendência de pregão no zero a zero, e, com a saída do ministro, se definiu uma tendência mais negativa. Diferente das outras saídas, dessa vez o mercado não foi pego de surpresa. Não é a primeira vez que vemos troca dos ministros no governo, o que fez o mercado ficar um pouquinho mais calejado", diz Ilan Arbetman, analista da Ativa.
Na semana marcada pelos ecos da saída de Sergio Moro, ex-ministro da Justiça, do governo, o Ibovespa acumula queda de 2,3% e o dólar, uma alta de 1,5%. "O mercado mexeu muito esta semana inteira por conta do caos político doméstico. A saída de Teich foi só a cereja do bolo. Não precisamos nesse momento de empurrões em direção ao abismo. E é isso o que o governo vem fazendo dia após dia. Teremos impacto dessa saída na semana que vem", afirma Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.
Segundo
Teich é o segundo ministro a deixar a Saúde em meio à pandemia. Juntamente com o impasse sobre o isolamento social, divergências sobre a aplicação da cloroquina e da hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19 estiveram entre os pontos que levaram à demissão de Luiz Henrique Mandetta, em 16 de abril.
Quando surgiram as primeiras notícias de que Mandetta seria demitido, o mercado reagiu com aversão a risco. O Ibovespa, que subia mais de 8% no pregão de 6 de abril, reduziu a alta para 6,5% no fechamento.
No dia 23 de abril, quando o jornal Folha de S.Paulo antecipou o pedido de demissão de Moro, o dólar disparou 2% e fechou acima de R$ 5,50 pela primeira vez. A notícia fez o mercado financeiro brasileiro se descolar das principais Bolsas globais, levando o Ibovespa a uma queda de 1,25%. No pregão seguinte, o dólar subiu 2,5% e foi a um terceiro recorde nominal (sem contar a inflação) seguido, a R$ 5,66.
"Acredito que, desde a saída do Mandetta, o Ministério da Saúde ficou um pouco de lado e perdeu um pouco da expressividade que tinha no início da pandemia. Seria um acontecimento mais importante caso relacionasse ministros mais diretamente ligados à economia", diz Igor Cavaca, analista da Warren.
"O nome do Teich não era tão forte quanto o de Moro e o de Mandetta. Muitos o viam como alguém que se submeteria a Bolsonaro, e ele provou que não era bem assim, mas sua representatividade não era tão elevada. A saída do Mandetta foi muito mais representativa", diz Henrique Esteter, analista da Guide.
Gota d`água
A dois dias de completar um mês no cargo, Teich teve seu poder como ministro diminuído pelo presidente. A polêmica sobre o protocolo do uso da cloroquina no combate ao novo coronavírus, porém, foi considerada a gota d´água para a saída dele.
No exterior, Bolsas operam com viés misto. Em Nova York, Dow Jones sobe 0,1% e S&P 500, 0,3%. A Bolsa de tecnologia Nasdaq sobe 0,5%.
Na Europa, as Bolsas fecharam em alta, mas tiveram a pior semana desde março, com o aumento das tensões entre Estados Unidos e China e as preocupações de que uma desaceleração econômica global possa durar mais do que se temia.
Na sessão, o real é a terceira moeda emergente que mais perde valor ante o dólar, atrás apenas dos pesos chileno e filipino. No Ibovespa, Petrobras e Vale operam em alta, enquanto bancos sustentam a queda do índice.
Apesar do prejuízo histórico de R$ 48,5 bilhões no primeiro trimestre, as ações preferenciais (mais negociadas) da petroleira sobem 1%, a R$ 17,58, com analistas destacando positivamente o desempenho operacional da companhia no período, bem como a geração de caixa. A Vale sobe 1%, a R$ 48,61, com alta de 1,4% do minério de ferro na China.