Isolamento social faz consumo de vinho aumentar no Ceará

Crescimento foi observado em lojas especializadas, supermercados e também na internet. É o caso da Brava Wine, que teve as vendas elevadas em 300% no primeiro semestre de 2020 em relação ao ano passado

Escrito por Redação ,
Duas mulheres analisam rótulos de garrafas de vinho em loja
Legenda: Setor, que tinha foco na venda para restaurantes, teve contato direto com consumidor a partir de venda pela internet durante a pandemia Com a reabertura das lojas, o nicho de entregas se manteve ativo e forte
Foto: Fabiane de Paula

Se o isolamento social contribuiu para evitar a maior propagação do novo coronavírus, o período de distanciamento também favoreceu o crescimento nas vendas de vinho e espumantes no Ceará. Isso porque muitos consumidores tiveram de permanecer em casa e optaram por consumir este tipo de bebida, seja no jantar ou mesmo nas lives de cantores (transmissões ao vivo pelas redes sociais). Segundo a Ideal Consulting, de janeiro a maio, as vendas desses produtos tiveram alta de 12% na comparação com igual período do ano passado, em todo o País.

Cerca de 80% das vendas estão concentradas em garrafas de até R$ 70, segmento chamado de "entrada". Felipe Gualtaroça, presidente da Ideal, explica que o crescimento se deu em dois canais: o varejo tradicional e o e-commerce. "Um dos fatores que colaboraram para o aumento do consumo foi a maior visibilidade que os supermercados deram ao vinho. Isso faz o consumidor pensar: talvez eu possa experimentar", diz.

No Ceará, o aumento do consumo foi verificado por supermercados e estabelecimentos que antes da pandemia vendiam grande parte do estoque de bebidas para bares e restaurantes, cujo funcionamento havia sido proibido no início do isolamento social. É o caso por exemplo da Brava Wine, que comercializa diversos tipos de bebidas, sendo o vinho o carro-chefe da empresa cearense.

De acordo com André Linheiro, sommerlier e sócio da Brava, o crescimento das vendas foi em torno de 300% no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 2019. "A pandemia começou em março, quando o crescimento foi vezes dois. Em abril, crescemos 2,5 vezes. Março 3 vezes, junho 3,5 vezes e em julho já estamos crescendo quase 4 vezes na comparação com o ano passado. Eu já faturei nesse mês quase o dobro que eu faturei em julho do ano passado", explica.

Linheiro diz também que, tendo em vista o fechamento provisório de bares e restaurantes por vários meses, a empresa resolveu investir no mundo digital. "Já tínhamos uma venda razoável pelo WhatsApp. Trabalhamos com aplicativo próprio, entramos nas plataformas digitais e o WhatsApp deu um 'estouro' nas vendas".

Ele conta que as pessoas estão mais em casa neste período de pandemia o que contribuiu para aumentar as vendas de vinhos e espumantes. "A gente já tinha um público bom que continuou consumindo. Como entramos em uma plataforma digital, a gente está atendendo também um público de média e baixa rendas, em bairros que antes não tinham pedidos, como Mondubim, Barra do Ceará e Conjunto Palmeiras. A gente sempre teve vinho para todo mundo, mas a gente não chegava nesse público. Com o investimento nas plataformas, aumentou o consumo, e agora estamos chegando em um público maior".

Linheiro ainda explica que a comercialização dos vinhos é completamente a partir do delivery. "Nosso grande negócio era distribuição para restaurante que foi a zero. Focamos todo o nosso trabalho para a loja e estamos vendendo o delivery de bebidas. O tíquete médio por pedido gira em torno de R$ 250. Houve uma queda no tíquete médio, mas eu estou faturando mais. O grande aumento foi o vinho. A cultura de abrir uma garrafa de vinho ficou normal".

O empresário diz também que há vinhos na loja de R$ 15 a R$ 3 mil. "Na média, acho que sai mais vinho de R$ 80 a R$ 150. O trabalho de delivery cresceu muito, e as pessoas viram que a Brava é acessível para todo mundo. Estamos priorizando a experiência. Ampliamos a loja e alugamos três novos espaços para depósito de bebidas e reforçando ainda mais o trabalho do delivery. Quando o wine bar voltar, o consumo vai crescer ainda mais", completa.

Supermercados

As vendas de vinhos e espumantes nos supermercados cearenses também cresceu no Estado. "A gente percebeu que houve um incremento sim nas vendas de vinhos e espumantes, principalmente depois que começou o isolamento e as lives. Vimos que nesse período houve um incremento muito forte, apesar de não termos um número fechado nesse momento", afirma Nidovando Pinheiro, vice-presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu).

Segundo o empresário, hoje a faixa de vinhos mais vendida nos supermercados cearenses fica entre R$ 30 e R$ 50 a garrafa. "A popularidade da bebida aumentou. As pessoas começaram a consumir. É um consumidor que a gente não tinha antes da pandemia. É nessa faixa de preço que tem um consumo maior principalmente das pessoas que estão iniciando a tomar um vinho e espumante", acrescenta.

Internet

Outro canal de aproximação entre o consumidor e o vinho são os clubes da internet. O maior deles, o Wine.Com.Br, fechou junho com 170 mil associados, crescimento de 20% em 12 meses. Segundo o presidente do Wine, Marcelo D'Arienzo, a empresa espera manter esse ritmo de crescimento ao longo do ano, e faturar R$ 430 milhões em 2020.

"No dia 15 de março, quando a gente tomou a decisão de adotar o home office, estávamos apreensivos. Havia uma corrida aos supermercados para itens de primeira necessidade. E a gente pensou: como é que vai ficar o vinho?", diz.

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