Indústria supera patamar anterior à greve dos caminhoneiros

De acordo com Guilherme Muchale, economista da Fiec, o setor no Ceará conseguiu reagir à crise e apresentou resultados que poderiam ter sido registrados caso a paralisação de 2018 não tivesse ocorrido

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.mesquita@svm.com.br
Legenda: Entre as diferentes frentes de atuação da indústria, o segmento de metais foi um dos que mais sofreram com a greve dos caminhoneiros
Foto: Agência Brasil

Após amargar os efeitos da crise econômica combinada com a greve dos caminhoneiros durante o ano passado, a Indústria cearense, finalmente, esboça reação. De janeiro a agosto, a produção do setor no Estado cresceu 1,7%, segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para especialistas, o patamar atual teria sido registrado no fim de 2018 caso a greve não tivesse acontecido.

Economista da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Guilherme Muchale explica que a paralisação foi um ponto de inflexão na trajetória de recuperação que a indústria local vinha traçando. "Nos primeiros quatro meses de 2018, vínhamos com variações médias acima dos 3%. Então veio a greve, que fez com que os resultados de maio e junho fossem muito ruins, e reduziu o ritmo de avanço dos meses seguintes", explica Muchale.

Ele acrescenta que, por conta disso, a produção de 2018 ficou próxima à estabilidade, enquanto a expectativa no início do ano era de crescimento de 3%. "Dessa forma, agora, estamos nos níveis que eram projetados para o fim de 2018 antes da paralisação causar essa nova redução no ritmo da retomada", diz o economista.

Para ele, a instabilidade política causada pela eleição presidencial, através do adiamento de investimentos diante da baixa confiança, foi outro fator que influenciou no retardo de alguns resultados.

Segmentos

Entre as diferentes frentes de atuação da indústria, o segmento de metais, segundo Muchale, foi um dos que mais sofreram com a greve dos caminhoneiros, o que explica as altas cima de 100% apresentadas desde abril. "Como a greve comprometeu muito a produção, as bases de comparação são muito baixas. Por isso, vemos altas tão expressivas agora desse segmento. Em agosto, a variação chegou a 323% em relação a agosto de 2018", aponta.

Apesar da maioria dos setores já engatilhar retomadas, os bons resultados não são uma regra para todas as atividades. Em agosto, segundo o IBGE, a fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis ainda caiu 13,2%. Os segmentos têxtil (-10,2%), alimentício (-8,4%) e de confecção (-4%) também não conseguiram reagir até agora. "Ainda temos setores importantes para a economia local em fase de recuperação, mas já são boas sinalizações. A Indústria cearense, comparada a de outros estados, é a única fora do eixo Sul e Sudeste a chegar ao terceiro quadrimestre consecutivo de crescimento", ressalta.

O Ceará é ainda o único estado do Nordeste incluso no levantamento a registrar variação positiva da produção industrial no acumulado de janeiro a agosto (1,7%), sendo também o quinto melhor resultado do Brasil. O Estado só perde para Paraná (6,5%), Rio Grande do Sul (4,9%), Santa Catarina (3,2%) e Goiás (1,9%).

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