Flores e plantas ornamentais que conquistam o mundo

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Em 2008, a exportação de flores e plantas rendeu ao Estado US$ 4,88 milhões, 650% a mais do que em 1999

O Ceará não cansa de falar de flores. Na esteira das grandes commodities agrícolas, o segmento da floricultura vem ganhando lugar de destaque na economia regional. Há uma década, poucos poderiam apostar que um Estado com 90% do seu território encravado no semi-árido poderia ser o maior exportador de rosas do Brasil. Quem, em sã consciência, trocaria Holambra — cidade de colonização holandesa, no interior de São Paulo, conhecida pelo negócio de flores — para produzir bulbos de Amarílis numa terra com pouca disponibilidade de água?

O que parecia devaneio de alguns começou a ganhar contornos factíveis em 1999. À época, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae/CE) constatou, em uma pesquisa, que a grande maioria das flores consumidas no Estado vinha de fora. Mais do que isso, identificou terras agricultáveis para negócio, em pelo menos quatro regiões cearenses, com alto potencial de envolvimento de agricultores familiares.

O governo cearense, então, resolveu apostar e lançar as primeiras mudas ao solo, fomentando a vinda de grandes players do ramo para cá. E já se vão dez anos de uma atividade que não pára de avançar. Em busca de histórias de sucesso no agronegócio das flores e plantas ornamentais, o Diário do Nordeste percorreu pouco mais de 1.000 Km pelo Interior do Ceará, de Maranguape a São Benedito, na Serra da Ibiapaba, passando por Paraipaba e Paracuru, no Litoral Oeste.

Palmo a palmo

De acordo com Marcelo Pinheiro, diretor-presidente do Instituto Agropolos do Ceará, a floricultura abrange hoje, em todo o Estado, uma área de aproximadamente 350 a 400 hectares, com produção estimada de 2.000 a 3.000 toneladas. “Em 1999, a área plantada era de cerca de 25 hectares”. Ou seja, só de terras destinadas ao plantio a evolução no agronegócio das flores e plantas ornamentais é de 1.500%.

No primeiro ano do projeto, o volume exportado foi de aproximadamente US$ 65 mil. Em 2008, a atividade rendeu ao Estado divisas da ordem de US$ 4,88 milhões. Um, avanço de 650%. Já o valor da produção saltou de R$ 2,390 milhões para R$ 59,035 milhões. Mais do que cifras, o resultado mais significativo diz respeito à ocupação gerada, que passou de 199 para 2.564 empregos diretos — alta de 1.188%.

Fortalecimento

De acordo com Gilson Gondim, presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Flores e Plantas Ornamentais do Ceará (CFlores), boas perspectivas se abrem para os produtores neste campo. Tanto no mercado doméstico quanto no internacional. “É necessário, porém, que se crie uma entidade representativa do setor. Hoje, existem várias associações, mas que trabalham de forma isolada”, pondera.

A Câmara Setorial é uma espécie de fórum de discussões que conta com representantes de 25 entidades ligadas ao agronegócio florista. “Dela participam produtores, universidades, o Sebrae/CE, o Banco do Brasil, o Banco do Nordeste, o Instituto Agropolos, a Secretaria do Desenvolvimento Agrário, o Nutec e um membro de cada um dos pólos produtores do Ceará”, explica.

Gondim afirma que há uma tendência de os países produtores transferirem suas áreas de plantio para as regiões em desenvolvimento. “Isto acontece por conta do baixo custo de produção em lugares como o Brasil e o Ceará”, diz.

PRODUÇÃO CONCENTRADA
Ibiapaba é uma das quatro maiores regiões

A produção de flores e plantas ornamentais no Brasil ainda caracteriza-se como uma atividade típica de pequenos produtores. Embora o próprio Ibraflor alerte quanto a inconsistência das informações disponíveis, no País estima-se a existência de aproximadamente sete mil produtores de flores que cultivam 7.500 hectares em 304 municípios brasileiros. Dos 12 principais pólos produtores brasileiros, apenas quatros destacam-se no cenário nacional: Holambra, Atibaia, Mogi das Cruzes, em São Paulo, e Ibiapaba, no Ceará.

Das flores plantadas no Brasil, 71% correspondem às produções nos campos, 26% em estufas e 3% em sombrite (telas cuja função principal é a proteção das plantas contra o Sol). As plantas ornamentais correspondem a 50% da produção, as flores de corte por 29% e, as flores em vaso por 13%, as folhagens em vaso e de corte por 6%. De acordo com o presidente do Ibraflor, Cornelis Petrus Theodorus Schoenmaker, ou Kees Schoenmaker, como é conhecido, entre as flores de corte, as rosas são as campeãs nos campos brasileiros e ocupam entre 25% e 30% da área total plantada no País. As phaleanopolis (espécie de orquídea) também têm destaque na produção brasileira, seguidas pelo lírio, a gérbera e a estrelitzia.

O tamanho médio das propriedades rurais no Brasil é de 1,5 hectare. O setor emprega 3.500 trabalhadores por hectares, dos quais 81,3% são contratados e 18,7% representam mão-de-obra familiar. São 120 mil empregos diretos, 58 mil na produção de flores, quatro mil na distribuição, 51 mil no mercado varejista e sete mil empregados no setor de apoio.

O faturamento da produção gira em torno de US$ 500 milhões — cerca de R$ 800 milhões ao ano. Os produtores de São Paulo respondem por 70% desta produção e por 50% do consumo. Somente a Região Sudeste tem participação de 85% do mercado nacional de flores.

Samira de Castro
Repórter

ENTREVISTA
Estado tem empresas com cultivo protegido e técnicas inovadoras

MARCELO PINHEIRO
Diretor-presidente do Instituto Agropolos

Como começou o trabalho do Instituto Agropolos na área de floricultura?

Começou 2002, com o apoio na atração de investimentos, participando em feiras, recepcionando investidores e dando suporte local aos investimentos. Entretanto, paralelamente, também foi realizado um trabalho para incentivar a produção local, difundindo as técnicas de produção e informações de mercado. Destacamos a Escola de Floricultura da Ibiapaba (Tecflores), que contribui com pesquisa e capacitação para técnicos e produtores daquela região.

Qual o nível de tecnologia adotado na cadeia de flores e plantas ornamentais produzidas no Estado?

Na área de produção de rosas, o Estado apresenta empresas com cultivo protegido e técnicas inovadoras no sistema de produção. O setor em si é muito promissor. Temos diferencial quanto ao ciclo de produção, que nos dá constância e qualidade no produto.

O Estado possui algum projeto de produção integrada de flores do Ministério da Agricultura?

Diretamente com o Mapa quem atua no Ceará é a Embrapa. O Instituto Agropolos coordena, desde 2007, em âmbito nacional, o Projeto FloraBrasilis, em parceria com o Ibraflor e a Apex-Brasil, que envolve os estados de São Paulo, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Goiás, Alagoas e Ceará. O objetivo é promover a internacionalização de empresas produtoras e exportadoras de produtos da floricultura.

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