Financiamento de imóveis no Ceará volta a subir em 2024 e soma R$ 500 milhões negociados

Dados são relativos aos dois primeiros meses do ano e repercutem uma maior procura pela casa própria

Escrito por Ingrid Coelho e Luciano Rodrigues , negocios@svm.com.br
Minha Casa, Minha Vida
Legenda: Financiamento de imóveis sobe potencializado por programas como o Minha Casa, Minha Vida'
Foto: Agência Brasil

O número de cearenses interessados em adquirir um imóvel por meio do financiamento imobiliário teve crescimento expressivo neste início de ano. De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), somente em 2024 foram 1.749 unidades negociadas, movimentando cerca de R$ 500 milhões.

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As informações levantadas a pedido do Diário do Nordeste trazem um panorama do primeiro bimestre de financiamentos imobiliários no Ceará em um período de cinco anos (2020 – 2024). Em comparação com janeiro e fevereiro de 2020, período ainda pré-pandemia, o mercado do setor cresceu significativamente nos anos seguintes.

No que diz respeito a unidades negociadas, o melhor período foi o primeiro bimestre de 2021, período crítico da pandemia: foram 2.313 imóveis financiados. Nos dois anos seguintes, houve queda nos resultados, e o mercado voltou a ficar reaquecido em 2024.

Situação parecida acontece com o volume financiado. Em janeiro e fevereiro de 2022, o valor total dos imóveis negociados foi de R$ 501,2 milhões, o maior do período. Após uma queda em 2023, o setor voltou a subir neste ano, ficando em R$ 499,05 milhões.

Com um volume maior de venda, o tíquete médio dos imóveis em 2024 é menor do que o de 2023. Neste ano, o valor de venda de uma unidade está em R$ 285,3 mil, enquanto no ano anterior a cifra chegou a R$ 302,7 mil.

Ano histórico para o mercado imobiliário

Empresas ligadas à construção de imóveis acreditam que 2024, que já começou bastante aquecido, deve ser o melhor ano para o setor desde 2016.

A projeção é feita por Patriolino Dias, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE). Com mais pessoas querendo comprar imóveis, principalmente aqueles de padrão mais econômico, com maior possibilidade de financiamento, a expectativa é de mais vendas este ano, atingindo patamares alcançados apenas no pré-pandemia.

"O apetite por procura de imóveis aumentou, é o melhor momento, temos a taxa de juros diminuindo e preços de imóveis ainda bons. Na hora que o mercado aquecer muito, o imóvel valoriza demais. Também tem muitas unidades que estão sendo financiadas com o novo Minha Casa, Minha Vida, com taxas muito pequenas", analisa Patriolino.

Mercado Imobiliário
Legenda: Mercado Imobiliário no Ceará mostra otimismo em 2024 e deve crescer em patamares só observados em 2016
Foto: José Leomar/Diário do Nordeste

Tem muita gente da base da pirâmide adquirindo a casa própria aproveitando a taxa subsidiada pelo Governo. A gente acredita que o ano 2024 será o melhor dos últimos oito anos. Esse começo de ano já foi o melhor, os dois primeiros meses foram os melhores dos últimos 8 anos. Desde que mantida a macroeconomia estabilizada, a gente acredita que você vai continuar nos outros meses.
Patriolino Ribeiro
Presidente do Sinduscon-CE

Incremento no Minha Casa, Minha Vida

Mudanças nos indicadores socioeconômicos, como a melhoria da economia e a queda na taxa de juros, aliadas ao fomento em políticas públicas, como o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, explicam em boa parte a alta nos financiamentos imobiliários.

É o que comenta Paulo Angelim, empresário do setor imobiliário e colunista do Diário do Nordeste. Diferente de anos anteriores, a virada de 2023 para 2024 garantiu que diversos cearenses de classes mais baixas readquirissem poder de compra e investissem em bens duráveis, como imóveis para primeira moradia e de padrão mais econômico, isto é, até R$ 350 mil.

Além disso, o especialista pondera que a inflação mais controlada também contribuiu para uma melhoria do cenário. Angelim destaca que o mercado imobiliário tem taxa de correção acima do índice comumente usado para o aumento de preços, mas que ficou ainda dentro de uma margem que possibilitou o financiamento dos imóveis.

"Tem cada vez mais pessoas de menor poder aquisitivo buscando a residência própria. Como os juros do Minha Casa, Minha Vida são subsidiados, quem mais se prejudica com a Selic alta é a classe média e classe média alta. Então, houve uma redução no número de financiamentos de classe média, classe média alta e um incremento no número de financiamentos de Minha Casa, Minha Vida", pontua Angelim.

Minha Casa, Minha Vida 1
Legenda: Minha Casa, Minha Vida fomenta sonho da casa própria com preços mais acessíveis
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

De acordo com Paulo Angelim, o financiamento imobiliário, principalmente para famílias que utilizam o Minha Casa, Minha Vida para adquirir unidades residenciais, é "a única saída" para que essas pessoas consigam realizar o sonho da casa própria.

"Não é mais um programa de governo, ele é um programa de Estado. Nenhum governo, qualquer que seja, pode abrir mão do incentivo ao Minha Casa, Minha Vida, dada a capacidade que esse programa tem de resolver de imediato o problema da moradia como também de fazer rodar a roda da economia, que é toda interligada. E você acionando o Minha Casa, Minha Vida consegue fazer com que pessoas consigam também fazer upgrades", afirma.

Risco de pressão no mercado?

Apesar dos benefícios, o especialista acredita que o setor imobiliário pode começar, em breve, a dar sinais de preocupação frente ao possível cenário de falta de crédito. Para Paulo Angelim, é preciso regular com responsabilidade para evitar pressão no mercado, bem como observar a mobilidade econômica das pessoas em um horizonte não tão favorável.

"A grande preocupação do setor é a falta de crédito. Quando você abre demais a torneira dos benefícios, principalmente quando flexibiliza demais o acesso sem a responsabilidade da verificação da adimplência, corre o risco de não fechar a conta, de não trazer de volta os recursos e o sistema ir se esgotando. A preocupação do setor é de até quando haverá crédito disponível", conclui Angelim.

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