Estagnação econômica alavancou desemprego

Escrito por Redação ,
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Foto: Neysla Rocha
Trabalhadores migraram para o setor informal, que hoje concentra 51%. No ano da implantação do real, a taxa de ocupação formal era de 40,3% e a informal, 54,81%. Dez anos antes, os dois índices eram equivalentes.

O índice de desemprego aberto em Fortaleza saltou do patamar de 10,64% da população economicamente ativa (PEA), em 1994, para 18,61%, em abril deste ano — um crescimento de 7,97 pontos percentuais. A precarização do mercado de trabalho tem empurrado os profissionais para o setor informal.

Os números demostram que o impacto do Plano Real no mercado de trabalho só teve efeito no ano seguinte, analisa João Pratagil Pereira de Araújo, presidente do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT). No ano da implantação do real, a taxa de ocupação formal era de 40,3% e a informal, 54,81%. Dez anos antes (1984), as taxas eram praticamente iguais em torno de 44%. A taxa de ocupação informal em 2004 é de 51%. Depois de 1994, houve uma tendência de decréscimo da ocupação formal, sobretudo entre 2000 a 2001.

A ocupação global vem caindo em função do deslocamento dos trabalhadores do setor formal para o informal. Essa realidade foi sentida nos anos 90, coincidindo com o processo de reestruturação produtiva das empresas. Em 1984, por exemplo, a taxa de desemprego aberto era de 14,74%, baixando para 10,64% em 1994, conseguindo chegar a 9,13% em 1995. Sofre um leve aquecimento entre os anos de 1995/96. Em 2003, dispara com 16,91% conseguindo chegar, em abril deste ano, ao patamar de 18,51%.

Mas a análise do mercado de trabalho não pode ser feita de maneira isolada. João Pratagil de Araújo observa que de 1994 a 1998 houve uma queda drástica do Produto Interno Bruto (PIB), que baixou de 5,9% para 0,1%. O quadro denuncia uma estagnação do crescimento econômico, refletindo nos números das taxas de desemprego nesse período. Em 2003, o PIB registrou o percentual negativo de - 0,2%, coincidindo, novamente, com os crescentes índices de desemprego a cada mês. “É que diante da conjuntura macroeconômica do País ou as empresas mantêm o número de empregados ou demitem”, ressalta João Pratagil de Araújo.

Outro aspecto que deve ser levado em consideração quando está em cena a análise do real, é o processo de reforma administrativa do governo, materializado nas privatizações, levando ao enxugamento das organizações. “Isso foi um impacto negativo no mercado de trabalho”, ressalta. Quando o real entrou em circulação, o número de trabalhadores com carteira assinada no Brasil era de 49,3%, caindo quatro anos depois para 45,9% . No mesmo período, o número de trabalhadores sem carteira assinada subiu de 23,7% para 25.4%.

Para mostrar que o real aguçou ainda mais a precarização do mercado de trabalho, em 1994, o número de trabalhadores por conta própria era de 21,8%, subindo para 23,2% em 1998. O que se percebe numa análise quantitativa do real é que seu impacto foi negativo para os trabalhadores e não resolveu o problema do mercado de trabalho. No máximo o que o plano conseguiu foi “estancar um processo momentâneo, perdendo o controle depois”.

O plano real não conseguiu resolver o problema do desemprego, já que as taxas consideradas de emprego pleno variam entre 4% a 3%. Nem no início do real esses índices foram alcançados, chegando no máximo aos 10%, percentual quase duplicado em oito anos. João Pratagil de Araújo chama a atenção para outros pontos negativos do real, citando a elevada taxa tributária, ficando difícil tomar créditos. A realidade mostra que o governo continua priorizando o mercando financeiro. (IS)

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