Especialistas apostam em mudanças no modelo de trabalho pós-pandemia

Entre elas, o crescimento no chamado trabalho à distância, seja em home office, escritórios flexíveis e/ou compartilhados 

Escrito por Redação , negocios@svm.com.br
Legenda: Pesquisa mostra que 69% dos entrevistados cearenses responderam que têm atuado de maneira remota, como home office
Foto: Foto: Agência Brasil

Trabalhar em casa, sem se preocupar com o trânsito ou o tempo gasto em deslocamento, entre outros fatores, sempre foi o sonho de muitas pessoas. Agora, para evitar a disseminação do novo coronavírus, e aderindo ao isolamento social determinada pelos governos, diversas empresas adotaram o home office - ou escritório em casa - para continuarem funcionando. A modalidade traz vantagens e desvantagens. Para algumas pessoas, a concentração é maior quando o trabalho é realizado em casa. Em contrapartida, outras alegam uma certa dispersão quando a vida profissional e pessoal se entrelaçam.

Caio Cysne tem 31 anos e trabalha como assistente administrativo em uma produtora cultural de Fortaleza. Há 40 dias trabalhando em casa - e ainda em processo de adaptação - ele precisou praticar a organização e o foco total nas atividades a fim de dar conta das demandas do dia-a-dia.

"No início houve muita dificuldade com o fluxo dos processos, em manter o rito obrigatório da burocracia inerente à minha função", relata.

Além disso, segundo ele, há uma "desorganização" na vida pessoal. "Se antes eu entrava no trabalho às 8 horas e saía às 17, o horário fixo me permitia um maior controle sobre as minhas atividades pessoais. Hoje, normalmente o meu horário extrapola e as refeições, por exemplo, ocorrem de maneira maneira irregular, onde o almoço acaba ocorrendo quase na hora do jantar". Caio cita também a dificuldade de realizar atividades físicas no home office. "Antes, eu tinha a rotina de praticar Yoga logo cedo, o que não está mais ocorrendo".

É o que mostra pesquisa realizada pela Ticket, marca de benefícios de refeição e alimentação. O levantamento, feito entre os dias 3 e 7 de abril com 7 mil usuários de todos o país, identificou, aspectos relacionados a hábitos de saúde, como alimentação e prática de atividade física, desde que o isolamento social passou a fazer parte da rotina dos brasileiros.

"Esse levantamento permite às empresas orientar seus trabalhadores, garantindo a manutenção de sua saúde e o bom desempenho profissional", destaca o Diretor Geral da Ticket, Felipe Gomes.

De acordo com o levantamento, 69% dos entrevistados cearenses responderam que têm atuado de maneira remota. Com isso, houve um aumento de cinco pontos percentuais no volume de trabalhadores em home office. No estudo anterior, 64% dos trabalhadores informaram que as empresas em que atuam já haviam adotado o teletrabalho. 

A pesquisa mostra ainda que 34% destacaram que ainda estão em processo de adaptação ao novo sistema de trabalho e 27% sentem-se completamente adaptados à rotina de home office. Outros 4% relatam a sensação de não haver se adaptado.

Além disso, 71% das empresas em que os respondentes atuam não há prazo específico para que a rotina de atividades no escritório seja retomada, 36% disseram que o home office permanecerá por tempo indeterminado e 35% afirmaram que o cenário tem sido reavaliado periodicamente. Os trabalhadores cearenses que responderam à pesquisa atuam nos segmentos de prestação de serviços (57%); indústria (24%); comércio (11%); saúde (5%); governamental (3%).

No Ceará, a pesquisa mostra também que 45% dos entrevistados informaram que não terem realizado refeições completas, considerando pratos com a presença de arroz, feijão, proteína e verduras, na maior parte dos dias úteis, enquanto 13% deixaram de almoçar. Com relação às atividades físicas, 68% dos entrevistados afirmaram que não têm praticado, 21% reduziram a frequência com que se dedicavam a essas atividades e apenas 5% afirmaram ter iniciado uma rotina de exercícios após a quarentena.

Alternativas
Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmou que, em 2018, o país se encontrava dom cerca de 3,8 milhões de profissionais brasileiros trabalhando dentro de casa. O mesmo levantamento também afirmou que entre 2017 e 2018, o Home Office cresceu em 21,1%, apontando uma tendência de mercado.  

E é no crescimento de outras modalidades de trabalho que os especialistas apostam. "Enxergamos três situações a partir da adoção emergencial do home office: os gestores comprovaram impactos positivos, como aumento da produtividade; terão que tornar seus espaços mais inteligentes, seguindo por exemplo a recomendação de distanciamento entre as posições de trabalho; e buscarão reduzir custos para enfrentarem um período de recessão econômica", explica Roberta Vasconcellos, CEO da BeeOrCoffee, empresa especializada em "montar" espaços de trabalho em vários modelos, como os escritórios flexíveis.

"Com um escritório sempre por perto, equipes remotas trabalham em regiões estratégicas - perto de casa, do cliente, do seu serviço - e economizam no tempo de deslocamentos", explica.

Além disso, segundo Vasconcellos, a crise econômica pós-pandemia do Covid-19, fará com que as empresas procurem meios alternativos para o enxugamento dos custos operacionais, como escritórios flexíveis, coworkings - os espaços compartilhados - e o escritório em casa. 

"O futuro das empresas será de orçamento mais enxuto e concentrado no produto ou serviço. No escritório flexível, por exemplo, não é necessário investir em obras e mobiliário, paga-se uma mensalidade que inclui internet, serviço de recepção e limpeza, entre outros benefícios. Além disso, há mais flexibilidade contratual e em relação à ocupação do espaço que ajuda a empresa ficar com uma operação mais leve", acredita.

Ela diz ainda que no pós-quarentena, os colaboradores das empresas terão de voltar aos poucos ao ambiente de trabalho por questões de segurança. "A adoção do formato distribuído de trabalho é fundamental para atender as recomendações das autoridades de saúde: reduzir o número de pessoas no escritório e manter distanciamento. As empresas também terão de se preocupar em evitar que seus trabalhadores façam uso do transporte público e estejam expostos às aglomerações em vias públicas. Trabalhando, portanto, perto de casa, uma tendência que já vinha avançando mundialmente no futuro do trabalho".
 

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