Dólar pode elevar em até 7,64% gastos do cartão

Quem viajou ao exterior recentemente e usou a função crédito pode ter uma surpresa ruim ao receber a próxima fatura. Dinheiro em espécie é alternativa para economizar

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.Mesquita@diariodonordeste.Com.Br
Legenda: As altas sucessivas da moeda norte-americana, porém, não devem ter mudança de cenário. Conforme o diretor de operações da Sadoc Câmbio e Turismo, Breno Cysne, "o mercado está muito imprevisível, mas as sinalizações, infelizmente, apontam para novas altas do dólar".

A viagem da professora universitária Zuleide Fernandes de Queiroz para a Alemanha, no mês passado, deve sair mais cara que o estimado inicialmente por ela. A docente projeta que vai pagar de 10% a 15% a mais pelos produtos que comprou no cartão de crédito devido à variação cambial entre o dia da compra e a data de fechamento da fatura. No último mês, entre os dias 21 de julho e 21 de agosto, o dólar comercial - utilizado pelas credoras para a correção monetária - subiu 7,64%. No mesmo período, o euro também apresentou alta de 6,5%.

Ao realizar uma compra utilizando crédito fora do País, o consumidor fica, na maioria das vezes, sem saber quanto irá pagar até o fechamento da fatura. Isso porque a maior parte das administradoras de cartões utilizam a cotação do dia do fechamento e não da data em que a compra foi feita.

Vamos supor que Zuleide tivesse comprado uma sandália por US$ 25 no dia 25 de julho e que o fechamento da sua fatura seja em 15 de agosto. Quando comprou, pagaria R$ 94,50 (cotação de R$ 3,78). Mas ao fim do período, ela pagará R$ 99,75, 5,5% a mais, uma vez que, no dia do fechamento, o dólar custava R$ 3,9903.

Precaução

Apesar de demonstrar preocupação com o valor que irá pagar neste mês, ela diz ter feito as compras tendo conhecimento dessa diferença a mais. "A gente já fica pensando, e evito usar (o cartão), porque essa correção posterior já é um fator limitador. Já tem que ficar preparado", afirma.

Para evitar grandes surpresas, o supervisor da Casablanca Turismo, Renan Silva, orienta que a melhor alternativa é levar dinheiro em espécie. Ele alerta que o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para compra em espécie é de 1,10%, enquanto a alíquota cobrada sobre cartões de crédito e pré-pagos chega a 6,38% em ambos os casos.

Alternativas

"A nossa orientação varia de acordo com o foco do cliente. Se a prioridade dele for economia, o mais indicado, sem dúvidas, é levar dinheiro em espécie. Mas, para viagens mais longas, isso pode virar um problema, uma vez que ele vai ter que se locomover com uma quantia muito alta e corre o risco de perda ou roubo".

Para quem quer mais comodidade, Renan sugere o cartão pré-pago, que funciona como um cartão de débito com o qual é possível recarregar qualquer quantia. "Você paga o câmbio do dia da recarga e pode recarregar através da internet. Se precisar de dinheiro em espécie, ele também permite saques mediante taxa".

Zuleide Queiroz admite que já a tinham indicado o uso do cartão pré-pago, mas ela não aderiu. "Acabei não usando. Preciso acompanhar mais de perto como funciona, porque é uma forma melhor de se planejar", reconhece.

A exemplo de Zuleide, o supervisor da Casablanca aponta que os clientes têm se informado cada vez mais sobre esses detalhes. "A maioria já vem ciente dessas taxas. Hoje, os clientes estão muito antenados, eles pesquisam. Quando chegam até a gente, só reforçamos o que ele já sabe. Pouquíssimos, hoje, são completamente leigos".

As formas de pagamento preferidas dos clientes da agência em que trabalha são em espécie e o cartão de crédito. "Apesar de mais vantajoso, as pessoas ainda não têm familiaridade com o pré-pago".

Outras moedas

Renan Silva alerta que quem viajar para países que não utilizam o dólar ou o euro também deve se precaver. "Todas as moedas estão atreladas ao dólar. Por mais que você tenha marcado uma viagem para a América do Sul, o pacote vai ser cotado em dólar, a moeda local vai ficar mais alta ou baixa com a oscilação".

A boa notícia é que, conforme decisão do então presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, os bancos deverão passar a cobrar a taxa de câmbio do dia da compra obrigatoriamente a partir do próximo ano, mas algumas instituições, como a Caixa, Sicoob e Nubank, já oferecem o serviço, que está disponível para adesão desde 2016.

Cenário externo

As altas sucessivas da moeda norte-americana, porém, não devem ter mudança de cenário. Conforme o diretor de operações da Sadoc Câmbio e Turismo, Breno Cysne, "o mercado está muito imprevisível, mas as sinalizações, infelizmente, apontam para novas altas do dólar até que esse acordo comercial (entre EUA e China), que, ao meu ver, ainda está longe, se resolva".

Além da guerra comercial dos dois países, o resultado das primárias argentinas na semana passada, que indicaram a perda do atual presidente Maurício Macri, contribuiu para as sucessivas altas da moeda norte-americana.

A orientação de Cysne é que os consumidores com viagem marcada comprem a moeda estrangeira de forma parcelada. "Se a viagem é daqui a três semanas, o melhor é comprar um pouco a cada semana, porque não corre o risco de comprar tudo com cotação alta. No final, você terá pago um valor médio".

A pesquisa de preços também pode gerar economia. O dólar turismo em agências de câmbio de Fortaleza variava de R$ 4,22 a R$ 4,30, segundo pesquisa direta feita ontem pela reportagem. As casas especializadas também costumam oferecer valores menores a partir da quantidade de dólares comprados. É possível ainda adquirir a moeda com cartão de crédito e até parcelar.

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