Os veículos da Ford no Ceará deverão se desvalorizar após decisão da empresa de encerrar as atividades no mercado brasileiro. A perspectiva se baseia no possível aumento do tempo de espera por reposição de peças e na tendência de variação dos preços de manutenção.
Contudo, segundo Everton Fernandes, vice-presidente do Sindicato dos Revendedores de Veículos Automotores do Ceará (Sindivel), a depreciação dos veículos da Ford não deverá acontecer de forma instantânea.
Peças e manutenção
No longo prazo, explicou Fernandes, a tendência é que o preço dos carros da montadora diminua pela redução de demanda. Como os veículos e peças não serão mais produzidos no Brasil, os itens terão de ser importados, o que deve gerar um aumento de tempo de espera para reposição de estoque.
"Mesmo a Ford mantendo, por questões legais, a entrega dos componentes dos carros, esse processo deve demorar mais, e nem todo distribuidor de peças vai querer entrar nesse mercado agora com a saída deles do Brasil. Tudo isso atrapalha o tempo de reposição de peças no nosso mercado, o que ajuda reduzir a valorização dos veículos da marca", disse Fernandes.
Curto prazo
Já no curto prazo, contudo, a dinâmica gerada pela pandemia do novo coronavírus ainda deverá ser fator dominante para a composição dos preços dos carros no Ceará.
Fernandes explicou que há um problema de abastecimento dos estoques, já que muitas fábricas tiveram as operações paralisadas durante a crise. Com a produção interrompida, o mercado registrou queda na oferta.
Além disso, com a recuperação econômica após implementação dos planos de reabertura, o mercado automobilístico começou a absorver a demanda reprimida por carros que não estavam sendo comprados durante o pico da pandemia.
Essa dinâmica deverá ajudar a manter o nível de valorização dos carros da Ford no curto prazo.
"No primeiro momento, estamos com uma desigualdade na oferta e na demanda, então não devemos ter um impacto nos preços, porque temos mais compradores do que oferta, muito por conta da quebra da cadeia. O mercado não tava produzindo e tínhamos uma demanda reprimida por conta da pandemia. Mas no médio e longo prazo, esses veículos devem, sim, se desvalorizar", explicou Fernandes.
O vice-presidente do Sindivel, no entanto, ponderou que alguns carros poderão apresentar dinâmicas diferentes.
Ford Ka
"Com o Ford Ka, por exemplo, pode acontecer de termos uma demanda maior que a oferta por ser um carro econômico e mais funcional, e isso pode ajudar a valorizar o veículo, como foi com o Fusca no passado, que passou a ter uma demanda boa mesmo estando fora de linha. Vamos avaliar melhor essa situação no futuro, mas é certo que carros como o Fusion e outros mais caros cairão de preço", analisou.
Revendedoras
Já para o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) no Ceará, Fernando Pontes, os carros da Ford não deverão se desvalorizar. Ele apontou que os veículos continuarão a entrar no mercado brasileiro por importação das fábricas na Argentina e no Uruguai.
"A situação dos revendedores da Ford, de modo geral, é normal. Eles vão continuar vendendo carros importados da Argentina e do Uruguai. A fábrica tem um contrato de fornecimento de peças durante 10 anos, então pode ser que as peças demorem mais a chegar, mas o mercado paralelo está aí para abastecer", defendeu Pontes.
"Quem vai dizer se os carros vão desvalorizar ou não é o mercado, o mercado é que regula essas transações. Logicamente, pode ser haja uma demora na compra de peças, mas as oficinas estão aí suprir essa demanda, tanto as oficiais quanto as paralelas", completou.
Veja a lista de carros emplacados, por marca, no Brasil em 2020 e 2019:
Acumulado de emplacamentos até dezembro 2019
- GM: 430.975 (19,05%)
- VW: 349.783 (15,46%)
- Renault: 217.343 (9,61%)
- Hyundai: 203.657 (9,00%)
- Fiat: 201.423 (8,90%)
- Ford: 196.264 (8,68%)
Acumulado de emplacamentos até dezembro 2020
- GM: 305.239 (18,89%)
- VW: 286.092 (17,71%)
- Fiat: 165.855 (10,27%)
- Hyundai: 163.291 (10,11%)
- Renault: 119.988 (7,43%)
- Ford: 119.406 (7,39%)