Desvalorização, manutenção e mais: saiba o que muda para quem tem carros da Ford

Aumento do tempo de espera por reposição de peças e elevação dos preços de manutenção devem afastar compradores da marca no longo prazo

Escrito por Samuel Quintela , samuel.quintela@svm.com.br
Legenda: Já no curto prazo, contudo, a dinâmica gerada pela pandemia do novo coronavírus ainda deverá ser fator dominante para a composição dos preços dos carros no Ceará

Os veículos da Ford no Ceará deverão se desvalorizar após decisão da empresa de encerrar as atividades no mercado brasileiro. A perspectiva se baseia no possível aumento do tempo de espera por reposição de peças e na tendência de variação dos preços de manutenção.

Contudo, segundo Everton Fernandes, vice-presidente do Sindicato dos Revendedores de Veículos Automotores do Ceará (Sindivel), a depreciação dos veículos da Ford não deverá acontecer de forma instantânea.

Peças e manutenção

No longo prazo, explicou Fernandes, a tendência é que o preço dos carros da montadora diminua pela redução de demanda. Como os veículos e peças não serão mais produzidos no Brasil, os itens terão de ser importados, o que deve gerar um aumento de tempo de espera para reposição de estoque. 

"Mesmo a Ford mantendo, por questões legais, a entrega dos componentes dos carros, esse processo deve demorar mais, e nem todo distribuidor de peças vai querer entrar nesse mercado agora com a saída deles do Brasil. Tudo isso atrapalha o tempo de reposição de peças no nosso mercado, o que ajuda reduzir a valorização dos veículos da marca", disse Fernandes.

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Curto prazo

Já no curto prazo, contudo, a dinâmica gerada pela pandemia do novo coronavírus ainda deverá ser fator dominante para a composição dos preços dos carros no Ceará. 

Fernandes explicou que há um problema de abastecimento dos estoques, já que muitas fábricas tiveram as operações paralisadas durante a crise. Com a produção interrompida, o mercado registrou queda na oferta. 

Além disso, com a recuperação econômica após implementação dos planos de reabertura, o mercado automobilístico começou a absorver a demanda reprimida por carros que não estavam sendo comprados durante o pico da pandemia. 

Essa dinâmica deverá ajudar a manter o nível de valorização dos carros da Ford no curto prazo. 

"No primeiro momento, estamos com uma desigualdade na oferta e na demanda, então não devemos ter um impacto nos preços, porque temos mais compradores do que oferta, muito por conta da quebra da cadeia. O mercado não tava produzindo e tínhamos uma demanda reprimida por conta da pandemia. Mas no médio e longo prazo, esses veículos devem, sim, se desvalorizar", explicou Fernandes. 

O vice-presidente do Sindivel, no entanto, ponderou que alguns carros poderão apresentar dinâmicas diferentes.

Ford Ka

"Com o Ford Ka, por exemplo, pode acontecer de termos uma demanda maior que a oferta por ser um carro econômico e mais funcional, e isso pode ajudar a valorizar o veículo, como foi com o Fusca no passado, que passou a ter uma demanda boa mesmo estando fora de linha. Vamos avaliar melhor essa situação no futuro, mas é certo que carros como o Fusion e outros mais caros cairão de preço", analisou. 

Revendedoras

Já para o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) no Ceará, Fernando Pontes, os carros da Ford não deverão se desvalorizar. Ele apontou que os veículos continuarão a entrar no mercado brasileiro por importação das fábricas na Argentina e no Uruguai.

"A situação dos revendedores  da Ford, de modo geral, é normal. Eles vão continuar vendendo carros importados da Argentina e do Uruguai. A fábrica tem um contrato de fornecimento de peças durante 10 anos, então pode ser que as peças demorem mais a chegar, mas o mercado paralelo está aí para abastecer", defendeu Pontes. 

"Quem vai dizer se os carros vão desvalorizar ou não é o mercado, o mercado é que regula essas transações. Logicamente, pode ser haja uma demora na compra de peças, mas as oficinas estão aí suprir essa demanda, tanto as oficiais quanto as paralelas", completou.

Veja a lista de carros emplacados, por marca, no Brasil em 2020 e 2019:

Acumulado de emplacamentos até dezembro 2019

  1. GM: 430.975 (19,05%)
  2. VW: 349.783 (15,46%)
  3. Renault: 217.343 (9,61%)
  4. Hyundai: 203.657 (9,00%)
  5. Fiat: 201.423 (8,90%)
  6. Ford: 196.264 (8,68%)

Acumulado de emplacamentos até dezembro 2020

  1. GM: 305.239 (18,89%)
  2. VW: 286.092 (17,71%)
  3. Fiat: 165.855 (10,27%)
  4. Hyundai: 163.291 (10,11%)
  5. Renault: 119.988 (7,43%)
  6. Ford: 119.406 (7,39%)
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