Demora na oferta de crédito emergencial complica situação de negócios

O Banco Central ainda não enviou aos bancos as normas de linhas de crédito emergenciais do Governo para socorrer as empresas na crise. Especialistas recomendam não contrair dívidas antes que linhas sejam ofertadas

Escrito por Redação ,
Legenda: Expectativa é que o BC apresente as normas das novas linhas na próxima semana

As linhas de crédito anunciadas pelo Governo Federal para prestar apoio às empresas ainda não chegaram aos bancos. Sem a operacionalização das medidas, bancos privados têm oferecido pacotes já existentes e exigido garantias consideradas mais complexas para os tempos de crise. Segundo especialistas, a recomendação agora é esperar a normatização dessas linhas de crédito pelo Banco Central, e iniciar o contato com os bancos para se cadastrar e aproveitar o benefício no futuro.

A empresária contábil Amanda Monteiro é uma das afetadas pela demora dessas linhas de crédito que deveriam ajudar as empresas brasileiras a manter os empregos ativos. Ela contou que buscou o suporte dos cinco principais bancos no País, mas não obteve uma resposta positiva. Todos os produtos oferecidos a ela já existem nas carteiras das instituições financeiras, com condições que, segundo ela, não ajudam muito os negócios.

Amanda contou que, além de não conseguir acessar as novas linhas de crédito especiais, nenhum dos negócios que busca os serviços da empresa da qual ela é sócia conseguiu acesso aos produtos que receberão garantias e recursos do Governo Federal.

"Ninguém está conseguindo. O dinheiro que foi prometido na mídia pelo Governo Federal ainda não foi operacionalizado pelo Banco Central e ainda tem muitas barreiras. Nem Banco do Brasil, Caixa, Santander, Itaú ou Bradesco estão oferecendo os produtos", disse Amanda.

"O Santander ainda disse que o serviço de financiamento da folha de pagamento só serviria para quem já tivesse serviços de folha contratados, e não foi isso que foi anunciada pela Caixa, pelo presidente Bolsonaro e pelo Governo Federal", completou.

Espera

A recomendação para o momento, segundo Luís Eduardo Barros, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef), é, de fato, esperar os próximos dias para que o Banco Central possa definir as normas desses novos benefícios. Enquanto isso, empresários devem entrar em contato com os respectivos gerentes dos bancos privados para se cadastrar e "preparar o terreno" para quando as linhas de crédito forem disponibilizadas.

"Quem vai precisar desses recursos, é bom já entrar em contato com os bancos para preparar cadastro. Como o Governo garante os riscos nessas linhas, é processo que leva um tempo para organizar. É importante procurar o seu banco, mas também a Caixa, que deverá ter mais disposição para fazer a operação de forma ágil", disse Barros.

O vice-presidente do Ibef destacou que a demora já era esperada, já que o processo é complicado e demanda um grande nível de articulação. "Ninguém pode imaginar que você tem uma ideia dessas e que já vai estar disponível no dia seguinte", defendeu Barros.

Precauções

O conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Fábio Castelo, deu as mesmas recomendações sobre a necessidade de esperar a operação das novas linhas de crédito. Segundo ele, o risco de contrair empréstimos das linhas convencionais agora, em época de crise, é de gerar dívidas que podem ser mais complicadas para pagar depois.

Castelo ainda afirmou que é possível que os bancos privados aproveitem esse momento para aumentar os juros de produtos e serviços, uma vez que as decisões dependem apenas dos acionistas, que podem focar no lucro. O objetivo dos bancos seria reduzir os riscos enquanto as linhas de crédito financiadas não chegam.

Ele, contudo, disse não acreditar que os bancos farão isso. A perspectiva tem sido confirmada em conversas com diretores de bancos privados no Ceará. "De uns meses para cá, os juros vinham com viés de queda, tanto a Selic como a taxa do cheque especial, mas diante desse momento, pelo que venho conversando com diretores de bancos, o interesse deles é minimizar o risco. Então, é ter cautela para esperar a próxima semana, quando deve ser disparado as novas linhas de crédito".

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