Companhias aéreas pedem flexibilização de normas diante do quadro de crise no setor

Segundo presidentes da Azul, Gol e Latam, mercado precisa reduzir custos e aumentar eficiência para diminuir preços das passagens no longo prazo

Escrito por Redação , negocios@svm.com.br
Legenda: Companhias estão adotando medidas sanitárias diante da pandemia do novo coronavírus
Foto: Foto: Camila Lima

Os presidentes da Gol Linhas Aéreas, Paulo Kakinoff, da Azul, John Rodgerson, e da Latam Brasil, Jerome Cadier, pediram mais flexibilidade das normas operacionais à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), durante live na noite desta terça-feira (19), promovida pela BTG Pactual. Segundo eles, as regras atuais aumentam os custos e reduzem a eficiência das companhias. 

"O que a indústria precisa agora é flexibilidade. Ninguém sabe o que vai acontecer na semana que vem. O que nós temos que fazer é planejar, ter flexibilidade com os nossos fornecedores, sindicatos e colaboradores. O mercado vai ser menor por algum tempo e vamos precisar de flexibilidade do governo", disse Rodgerson da Azul. 

"Fundamentalmente, a gente precisa buscar flexibilidade junto aos nossos passageiros. Temos um dos combustíveis mais caros do mundo, altos custos de navegação. A gente é menos eficiente do que vários países e precisamos olhar para a dimensão da flexibilidade e eficiência", pontuou Cadier

O executivo da Latam Brasil ainda afirmou que é preciso simplificar o setor aéreo no Brasil. "Eu acho que a gente precisa simplificar o setor. O preço no curto prazo depende da capacidade e no longo prazo do custo. Se a capacidade for muito rápida, vai gerar uma pressão de preço para baixo. No longo prazo, a gente tem que trabalhar nas dimensões de custos. O dólar e o combustível vão pressionar o custo para cima. O que a gente quer no longo prazo é uma tarifa que convide o passageiro a voar". 

Para Kakinoff, a aviação ficou mais cara no período da pandemia do novo coronavírus e deverá ficar ainda mais cara à medida que mais medidas de segurança forem sendo adotadas no pós-pandemia.

"Agora, nós estamos saindo daquele primeiro momento de ajustes, de malha essencial. A gente tem uma operação elementar e uma dedicação da gestão de caixa para preservar a liquidez. A aviação ficou mais cara e ficará mais cara na mesma proporção que as medidas de segurança forem necessárias", acrescentou.

De acordo com o presidente da Gol, a crise provocada pela pandemia deve acelerar tendências, como o uso mínimo de papel influenciado pelas tecnologias. "a crise vai trazer uma aceleração de tendências que já vinham acontecendo, como o uso cada vez mais raro de bilhetes de papel que é um custo para as companhias. A gente tem um nível de flexibilidade maior por causa da nossa frota padrão", justificou Kakinoff. A Gol utiliza atualmente apenas as aeronaves do modelo Boeing 737.

Medidas
Segundo o presidente da Latam Brasil, a companhia adotou procedimentos diversos de segurança sanitária para fazer com que o passageiro se sinta mais confortável em voar. "A gente aumentou o espaçamento das filas, atendemos em balcões alternados, priorizamos o atendimento digital, mudamos o protocolo de serviço de bordo, os passageiros estão usando máscaras. É uma série de medidas que já são bastante relevantes neste momento".

Cadier reforçou que muitas medidas sanitárias devem durar mais tempo. "Algumas dessas medidas provavelmente vão perdurar e talvez entre outras. A gente ainda está em um momento inicial, mas o que vai perdurar pelos próximos anos, isso o tempo vai dizer". 

Rodgerson disse ainda que uma das medidas para amenizar a pressão dos custos na Azul é postergar o recebimento de novas aeronaves.

"Foi muito mais divertido brigar pelos slots (autorização de pouso e decolagens nos aeroportos) em Congonhas (São Paulo) do que passar por essa pandemia. Nós temos que lutar pela nossa indústria. Nenhuma aeronave no mundo hoje tem valor. O que as companhias vão fazer é não receber novas aeronaves", acrescentou. 

'Rumo certo'
O diretor da Anac, Juliano Noman, que também esteve presente na live da BTG Pactual, afirmou que a Agência criou um grupo de trabalho para monitorar as operações pelo País e que está acompanhando juntamente com as companhias as maiores necessidades neste momento. "A gente vem fazendo o acompanhamento da malha com as empresas e estamos estudando isso (situação atual de crise das companhias)". 

Noman ressaltou que 2020 era um ano de retomada do setor e que todos foram pegos de surpresa pela pandemia.

"Não vai acontecer esse ano (retomada), mas não significa que não vai mais acontecer. A pandemia não vai alterar o rumo do crescimento. Mas eu acho que a gente está na direção certa. A gente acredita que o que está acontecendo é bem momentâneo. O curto e médio prazos vão ser afetados, mas o rumo é o mesmo e a rota é de desenvolvimento do setor".

O diretor da Anac ainda disse que o setor está passando por mudanças no País e ressaltou o interesse de companhias estrangeiras de operar no Brasil.

"A gente tinha na Anac em processo de certificação uma empresa espanhola focada em voos regionais pegando sua certificação operacional para iniciar os voos. Então isso prova que as políticas estavam de fato incentivando o mercado. A empresa nos pediu para suspender o processo e não cancelar. Eu acho que é uma mensagem importante considerando o cenário".

Segundo ele, havia outras empresas interessadas em operar no Brasil antes da pandemia, mas não citou nomes de companhias. "Tínhamos outras empresas em fase final de conversa conosco para iniciar o processo de certificação. A pandemia não vai alterar esse rumo. Deu uma pausa, mas a gente está na direção certa".   

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