BC muda posição e corta juro em 1,5 ponto

Escrito por Redação ,
Com a redução da Selic ontem, a taxa volta ao nível de abril passado, antes do início do último ciclo de elevação do juro

Brasília. Diante da forte retração da economia brasileira no último trimestre do ano passado, o Banco Central decidiu acelerar o ritmo de queda nos juros. O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) reduziu ontem a taxa Selic em 1,5 ponto percentual, fixando-a em 11,25% ao ano. Foi a maior queda desde novembro de 2003. Com isso, a taxa volta ao nível de abril passado, antes do BC dar início ao último ciclo de alta da Selic. É o patamar mais baixo desde a criação da taxa, em 1986. O Copom volta a se reunir no fim do mês que vem, e analistas esperam novo corte. A decisão dos oito membros do Copom foi unânime e era esperada pelo mercado.

No comunicado que informou a decisão, o BC evita dar pistas sobre qual será o futuro da Selic. Segundo o texto, o Copom ´acompanhará a evolução da trajetória prospectiva para a inflação até a sua próxima reunião, levando em conta a magnitude e a rapidez do ajuste da taxa básica de juros já implementado e seus efeitos cumulativos, para então definir os próximos passos´.

É um recuo em relação ao que foi feito na reunião do Copom em janeiro. Na ocasião, quando os juros caíram um ponto percentual, o comunicado afirmava que o BC já estava ´realizando de imediato parte relevante do movimento da taxa básica de juros´.

O objetivo da frase era indicar que o BC não pretendia fazer um ajuste muito grande na taxa Selic e que dificilmente os juros cairiam mais do que um ponto percentual numa única reunião. Sob forte pressão dentro e fora do governo, e um dia depois do anúncio de queda de 3,6% do PIB no quarto trimestre de 2008 em relação ao terceiro, a instituição voltou atrás ontem e intensificou os cortes.

Depois que dados ruins da economia no fim de 2008 e começo de 2009 foram divulgados pelo IBGE, analistas passaram a defender um corte maior na Selic, de até dois pontos percentuais, diante da possibilidade cada vez maior de que o PIB registre uma variação negativa neste ano, o que não acontece desde 1992. Na quarta a noite, depois de divulgados os números do PIB, o presidente Lula convocou uma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Henrique Meirelles, para falar sobre o tombo sofrido pela economia. Segundo uma fonte, Lula cobrou de Meirelles uma redução mais rápida dos juros para evitar que o País entre em recessão. A queda da Selic pode estimular a recuperação do crédito, um dos setores mais atingidos pela crise. Para que isso aconteça, porém, há algumas condições. O barateamento do crédito não depende só do BC, mas também da disposição dos bancos em repassar a queda da Selic para os juros cobrados de seus clientes. Da mesma forma, uma redução nos juros bancários só tem efeito prático caso pessoas e empresas não estejam pessimistas em relação ao futuro da economia e estejam dispostas a aumentar seu grau de endividamento.

A PARTIR DE HOJE
Bancos seguem Copom e reduzem as taxas

São Paulo. Após a decisão do Copom de cortar a Selic em 1,5 ponto porcentual, vários bancos anunciaram a redução das taxas de juros para pessoas físicas e jurídicas. No Bradesco, as mudanças valem a partir de hoje. Para pessoas físicas, a taxa mínima do cheque especial irá cair de 4,78% ao mês para 4,70% e a máxima, de 8,56% para 8,44% ao mês. No crédito pessoa física, a mínima será de 3,26% ao mês e a máxima de 5,81%, reduções de, respectivamente, 0,05 ponto e 0,1 ponto porcentual.

O Itaú passou as taxas máximas do crediário automático para a pessoa física e a jurídica de 7,01% ao mês para 6,89% ao mês. Já o cheque especial, tanto pessoa física quanto jurídica, teve a taxa máxima cortada de 8,87% ao mês para 8,75% ao mês. As novas taxas entrarão em vigor a partir de segunda-feira (16). Na mesma data passam a valer as novas taxas do Unibanco: as taxas máximas de juros cobradas no crédito pessoal parcelado e no cheque especial da pessoa física foram reduzidos em 0,12 ponto porcentual nas taxas mensais, o que equivale a 1,5 ponto no ano, seguindo a redução da Selic. O Banco do Brasil informou que, em relação às empresas, a instituição alterou as taxas mínimas do cheque especial de 5,23% ao mês para 5,11%. As máximas foram reduzidas de 7,81% para 7,69% ao mês.

OPINIÃO
Agressividade para País voltar ao eixo

DELANO MACEDO
Diretor do Ibef-CE

O Copom mostrou que continua cauteloso na política de redução da Selic, mas foi agressivo. Isso porque há uns 15 e 20 dias se falava cortar em 1 ponto percentual. Depois, começou-se a falar 1,5 ponto pois alguns indicadores mostravam redução da economia. Esse nível ganhou força. Com a queda do PIB, começaram a falar em até 2 pontos. Havia um otimismo do governo que foi sendo desmontado à medida que algumas informações do mercado vinham aparecendo, o problema estava se agravando. A redução do PIB não foi surpresa. Vários segmentos sentem o problema com as reduções de compra, maior inadimplência. Mas o governo não pode correr o risco de registrar dois trimestres de queda forte do PIB porque isso configura recessão. Como a queda do último trimestre de 2008 foi grande e o primeiro trimestre é geralmente sofrido, foi preciso tomar uma medida forte e firme na tentativa de reaquecer a economia e botar o País no eixo da estabilidade, ou corre o risco de perder o controle.
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