Usinas aliviariam balança comercial

Sem a refinaria, pelo menos, 20 mil empregos diretos deixarão de ser gerados no Estado, nos próximos anos

O fim do projeto da tão sonhada refinaria de petróleo Premium II representa ausência de empregos, de renda e de novas empresas no Estado. O equipamento colocaria o Ceará em posição de destaque na cadeia de abastecimento do Brasil, impactando positivamente as economias local e nacional. Conforme analisa Bruno Iughetti, consultor na área de petróleo e gás, a decisão da Petrobras de encerrar os projetos de investimento para a implantação das refinarias Premium I (Maranhão) e Premium II sinaliza a grave crise vivida atualmente pela estatal.

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"Minha previsão era que a obra fosse concluída em 2019, devido aos prejuízos da Petrobras por conta do 'petrolão' e dos impactos disso nos planos de gestão da empresa. Infelizmente, estamos vendo em que ponto esse pessoal, que cometeu essas ilicitudes, chegou. Esses atos prejudicaram não só a economia do País, como também a do Ceará e a do Nordeste", afirma.

Iughetti lembra que as novas refinarias canceladas foram pensadas para estar, em termos técnicos, entre as mais modernas do mundo. Isso porque a operação dos empreendimentos seria voltada, principalmente, para a produção de óleo diesel, insumo que o Brasil importa em grande quantidade.

Importação

"Ainda compramos muito óleo diesel do exterior. As refinarias Premium I e Premium II trariam um alívio muito grande para nossa balança comercial. Amenizariam problemas logísticos, fazendo com que os produtos chegassem mais rápido a seus destinos. E ainda beneficiariam a produção de combustíveis e evitariam possíveis colapsos de abastecimento", diz.

Além de gerar emprego e renda no Ceará, antes e durante sua operação, a refinaria atrairia outras empresas periféricas, o que elevaria ainda mais a oferta de trabalho, em segmentos como o metalmecânico e petroquímico.

"Seriam empregos ligados à tecnologia de ponta, como foco na qualidade da mão de obra. Certamente, vários trabalhadores cearenses seriam capacitados para ocupar cargos técnicos na refinaria. Enfim, o encerramento do projeto gera prejuízos sociais, econômicos e financeiros", acrescenta.

O consultor também chama a atenção para o esforço empreendido pelo governo estadual, no sentido de viabilizar o projeto. Ele cita o empenho do ex-governador Cid Gomes, de deputados federais e estaduais, "que fizeram o possível para tornar real o sonho da Premium II".

"Isso foi feito para tentar consolidar os estudos de viabilidade técnica, tornar possível o terreno para a construção do equipamento e a área para transferir a comunidade indígena Anacé. Tudo para, laconicamente, recebermos essa notícia. O Ceará, que há anos pleiteia por essa refinaria, sai enfraquecido nesse contexto", lamenta Iughetti.

Esperança

Embora acredite que o atual governo dificilmente volte atrás e mude de decisão, Bruno Iughetti diz que não perde a esperança de que, no futuro, outro governo retome o projeto. Isso porque, segundo avalia, as refinarias no Ceará e no Maranhão representariam uma importante estratégia para o desenvolvimento da economia nacional.

'Processo foi apelo para obter votos'

As sucessivas promessas relacionadas às obras da refinaria Premium II tiveram motivação política para conquistar aprovação entre os cearenses, na opinião do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Beto Studart. "Esse processo todo foi um apelo político para se obter votos, em cima de um projeto que, na realidade, já se sabia que não viria", comenta Studart, ressaltando que o aviso de que a unidade seria cancelada deveria ter vindo mais cedo.

Para Beto Studart, "o Ceará foi vítima nesse processo". Ele ressalta que a administração estadual fez os esforços necessários para trazer o empreendimento, mas acabou tendo prejuízos com o cancelamento da instalação da usina.

"Sem entrar no mérito do que não é gerado para o PIB (Produto Interno Bruto) do Ceará, ainda houve um prejuízo para o Estado, por conta das obras de infraestrutura. Agora, fica a decepção e o prejuízo aos cofres públicos", comenta o presidente da Fiec. A expectativa anunciada pela administração estadual era que a refinaria, associada a outros empreendimentos, implicasse em um salto do PIB cearense.

Projeto  ainda pode ser retomado pela estatal

Embora o cancelamento das obras da refinaria Premium II frustre as expectativas dos cearenses, especialistas acreditam que o projeto possa ser retomado em alguns anos, devido à necessidade da Petrobras por uma unidade desse tipo.

"A longo prazo, a Petrobras vai precisar da Premium II. A refinaria deve ser feita, e não apenas por uma questão política, mas por questões estratégicas mesmo. Agora, neste momento, a Petrobras vive mesmo um momento difícil", aponta o economista Alcântara Macêdo.

De todo modo, ressalta o economista, os cearenses ligados ao projeto devem insistir na luta pela vinda do empreendimento. "Se formos observar, tudo que conseguimos no Ceará foi com muita luta. Foi assim com o Porto do Pecém e com as siderúrgicas que nós temos hoje. Então, é preciso continuar lutando", afirma.

Já aguardado

"É com certeza uma perda grande esse cancelamento, mas, de certo modo, isso já era esperado", comenta a especialista em desenvolvimento regional Tânia Bacelar. Ela ressalta, entretanto, que a Premium II ainda deverá se concretizar, ainda que apenas no médio prazo. "Nesse setor, as decisões demoram muito. Da mesma forma, essa conjuntura atual da Petrobras vai passar", frisa.

O que eles pensam

Oportunidades perdidas

Embora o comércio não esteja diretamente ligado à refinaria, o comércio sempre sente a chegada de grandes empreendimentos. Não é à toa que, com instalação de empreendimentos como a Companhia Siderúrgica do Pecém, o Estado tem crescido a cada ano, acima da média nacional. Da mesma forma, o comércio cearense tem tido altas acima do registrado no País.

Severino Neto
Presidente da CDL de Fortaleza

Como tudo que tem acontecido no Brasil nos últimos tempos, se tem propaganda, mas não se cumpre. Para mim não foi surpresa, devido às ocorrências nos últimos governos, como por exemplo, o investimento multiplicado por quatro pela Petrobras para o custo anunciado da refinaria de Pernambuco. Esse projeto seria um marco para a indústria do Estado.

Roberto Macêdo
Empresário

Raone Saraiva
Repórter

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