Se for reativada pela Petrobras, a usina de biodiesel de Quixadá, no interior do Ceará, pode não alcançar forte competitividade. É o que avalia Jean Paul Prates, ex-presidente da estatal.
A usina de Quixadá é um dos três ativos da subsidiária Petrobras Biocombustível S.A. (PBio), que teve o processo de privatização suspenso pela companhia. O destino da usina cearense, desativada desde 2016, pode mudar com a decisão anunciada no início de novembro.
Para Jean Paul Prates, a reativação da usina terá um tom 'simbólico', já que o empreendimento criado em 2008 não tem infraestrutura compatível com as plantas em operação atualmente.
“É uma planta que não vai produzir em grande quantidade. Foi desenvolvida há 20 anos, preparada para um ciclo de oleaginosa. Agora o ciclo do biodiesel está altamente competitivo e gigantesco, acabou virando uma indústria mais do Centro-Oeste. O Nordeste perdeu esse bonde”, disse Prates.
Vai fazer um papel de simbolizar um novo recomeço, uma nova tentativa de desenvolver a indústria de biodiesel no Nordeste. É importante como um símbolo, mas vai ser preciso muito mais do que isso.
Prates comenta que a usina de Quixadá e a refinaria Lubnor são dois pontos de referência para um 'recomeço' da Petrobras no Ceará. A Lubnor também estava nas intenções de venda da estatal, mas saiu dos planos de desinvestimento no fim de 2023.
POSSÍVEL REATIVAÇÃO DA USINA
A Petrobras afirmou que a usina de Quixadá segue hibernada, com a manutenção dos equipamentos realizada regularmente.
A reativação deve ser avaliada dentro das alternativas e modelos de negócio para a PBio, considerando parcerias e até associação com outros ativos da companhia.
O encerramento do projeto de desinvestimento da subsidiária foi anunciado no início de novembro. Segundo a estatal, a decisão está alinhada aos objetivos de diversificar a produção em negócios de baixo carbono.
CEARÁ TEM POTENCIAL NA MARGEM EQUATORIAL
A Lubnor é uma base importante da Petrobras no Ceará considerando a margem equatorial, aponta Jean Paul Prates, que comandou a estatal de janeiro de 2023 a maio deste ano.
A margem equatorial abrange uma área que vai da costa do Rio Grande do Norte à do Amapá, passando pelo Ceará, com potencial para extração de petróleo. A Petrobras aguarda licença do Ibama para iniciar a exploração.
Segundo Prates, os investimentos na indústria do Petróleo são importantes mesmo com o movimento de transição energética, já que ainda haverá dependência do combustível nas próximas décadas.
“A gente não pode correr o risco de ter a transformação energética interrompida ou agravada pelo fato de ter que voltar a importar petróleo de outros países, pagando royaltes e gerando emprego em outros lugares”, afirma.
A exploração da margem também pode propiciar receita para que os governos envolvidos tenham verbas para financiar a transição energética. O ex-presidente da Petrobras aponta ainda que a estatal tem a possibilidade de tornar a cadeia de extração do petróleo menos poluente.
“As atividades da Petrobras são muito pontuais, são atividades em plataforma, que podem ser movidas a energia renovável, ter recuperação de carbono”, aponta.
Jean Paul Prates foi um dos palestrantes do World Summit on Energy Transition (WSoET), a Cúpula Mundial sobre Transição Energética, realizado em Fortaleza nesta quinta (27) e sexta-feira (28).
O evento reúne representantes de diversos estados brasileiros e 22 países para discutir a descarbonização. Também marcam presença participantes ligados à Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização dos Estados Americanos (OEA).