O que pensam líderes empresariais do Ceará sobre a economia em 2022

Em linhas gerais, empresários de diversos setores demonstram otimismo, mas pontuam desafios para o crescimento

Mesmo com o recrudescimento da pandemia de Covid-19 no início de 2021, a economia cearense termina o ano com saldo positivo.

Desde abril, quando foi liberada a reabertura das atividades não-essenciais, setores vêm recobrando fôlego e auferindo bons resultados, que reverberam, por exemplo, no crescimento do PIB do Ceará no 3º trimestre, acima da média do Brasil, e nos indicadores de geração de empregos.

Para 2022, as perspectivas de empresários cearenses que representam importantes setores da economia, em linhas gerais, convergem para o otimismo, porém com ressalvas, pois ainda pairam incertezas com a pandemia e as eleições para presidente, governadores, senadores e deputados. Veja abaixo as projeções de empresários ouvidos pelo Diário do Nordeste. 

DESAFIOS DA INDÚSTRIA

Ricardo Cavalcante

Presidente da Fiec e da Associação Nordeste Forte

Apesar das incertezas provocadas pela pandemia, temos resultados animadores. O PIB cearense acumula crescimento de 8,65% neste ano, comparado a 2020, acima da média nacional (6,4%). O avanço do PIB no Estado foi puxado pela Indústria (22,92%), devendo encerrar 2021 com um crescimento de 6,2%, superior à expectativa de 5% para o Brasil.

As oportunidades de um novo patamar para o Desenvolvimento Industrial Cearense acontecem tanto nos setores tradicionais (Construção Civil, Moda, Calçados, Metalmecânico, entre outros), como em setores inovadores (Energias Renováveis, Economia do Mar e Economia da Saúde).

Existem diversos desafios que a Indústria Cearense tem superado. Para 2022, é possível elencar a elevação da competitividade, a integração com as cadeias globais de valor e a transformação digital como chaves. 
Ricardo Cavalcante
presidente da Fiec

OLHARES PARA 2022

Emília Buarque

Presidente do Lide Ceará

O Ceará é um oásis no país, mas é difícil nos dissociar do Brasil e do mundo ao fazermos uma análise para 2022.

Se haverá uma nova onda de Covid ou não, de largada já geraria outros contextos. Porém, considerando que sigamos bem e com vacinas atualizadas, pois para bom entendedor já está clara esta necessidade, sobra para a economia o desafio dos ajustes necessários para compensar a crise mundial e nacional que está colocada.

É evidente que o Brasil chegaria bem em 2022, não fosse a pandemia. No entanto, o fato histórico deu margem a deslizes que abalaram os fundamentos. Os Estados Unidos anunciaram uma inflação acumulada de 6,7% e está reduzindo estímulos; soma-se a isto a subida dos juros globais e a crise de oferta de insumos no mundo.

A alta do câmbio no país, além da volatilidade, e as reformas que não saíram, impactam fortemente, mas são a instabilidade política e a insegurança jurídica que nos enfraquecem diante do desafio de atrair investidores ou mesmo evitar embargos e sanções a produtos brasileiros, lembrando que nossa inserção global também depende de discurso e prática em torno das questões ambientais.

Inflação é inflação, e surpreende ver alguns comemorando inflação de dois dígitos. Inflação amplia a desigualdade e ponto final.
Emília Buarque
presidente do Lide Ceará

Dois quesitos fundamentais para o bom desenrolar de 2022 serão a austeridade do governo na preservação do teto de gastos e um clima menos acirrado de debate eleitoral, o que é dificílimo.

E então chegamos ao Ceará, que segue bem, colhendo os sempre exaltados frutos dos governos anteriores até o do presente, iniciado com a era Tasso, que agora completa 35 anos, neste ciclo que Camilo Santana conclui, e que vem dando notas de estabilidade à nossa economia.

Estabilidade aqui, leia-se como elogio e crítica. Se queremos avançar, que venham as alternativas. Neste caso abro um parêntese para ressaltar o que virá em 10 ou 15 anos, como preveem os especialistas, com o advento do Hidrogênio Verde. Mas precisamos pensar nas outras pautas como turismo, varejo e serviços – essência de nossa economia –, o agro crescendo a olhos vistos, além de buscar incremento da indústria, seja com mais tecnologia ou com a entrada de investimentos externos na renovação do parque ou melhor exploração da ZPE, uma grande oportunidade que o Estado tem.

Seguimos confiantes na força dos empreendedores, nos líderes que fazem do nosso Ceará um dos raros Estados pouco endividados do país, e na resiliência do povo, a quem, este sim, precisamos apoiar.
Emília Buarque

20 ANOS DO PORTO DO PECÉM

Danilo Serpa

Presidente do Complexo do Pecém

Estamos fechando o ano de 2021 como o ano de melhor movimentação da história do Porto do Pecém. Resultado que obtivemos em onze meses de muito trabalho, antes mesmo do encerramento do ano. Ou seja, já em novembro superamos o ano de 2019 que até então, com 18,1 milhões de toneladas de cargas, era tido como o nosso melhor ano.

Por isso, temos grande expectativa para o próximo ano. Uma expectativa que passa também pelos 1.911 hectares do Setor 2 da nossa Zona de Processamento de Exportação, a ZPE Ceará. Uma nova área destinada à instalação de novos empreendimentos industriais e também de serviços. Isso porque, o novo marco regulatório para as ZPEs no Brasil passou a flexibilizar o setor para trazer ainda mais diferenciais competitivos à ZPE Ceará - primeira zona de processamento de exportação a operar no Brasil.

O Complexo do Pecém tem destaque especial no desenvolvimento econômico do país. Não à toa, em 2021 assinamos exatos 14 Memorandos de Entendimento (MoU) com importantes empresas do Brasil e do mundo.
Danilo Serpa
presidente do Complexo do Pecém

O hidrogênio verde (H²V) é produzido através de fontes renováveis e é atualmente considerado o pilar da transformação energética mundial por poder ser obtido através da eletrólise da água, uma fonte livre de carbono. Ou seja, em 2022 queremos desenvolver ainda o nosso Hub de Hidrogênio Verde, pois é fato que oferecemos oferece soluções de negócios de “A” a “Z”.

Mas antes de chegarmos a um novo ano, preciso deixar todo o meu agradecimento a cada um dos profissionais e empresas que direta ou indiretamente contribuíram para o sucesso dos nossos números. Isso é evolução, é crescimento. E o ano novo é logo ali, o ano em que celebraremos os 20 anos de operação do Porto do Pecém.

CENÁRIO FAVORÁVEL NA CONSTRUÇÃO

Patriolino Dias de Sousa

Presidente do Sinduscon-CE

O setor da construção civil vive um dos momentos mais pujantes dos últimos tempos. O mercado imobiliário no Ceará permanece aquecido, mesmo com as altas da Selic deste ano. Somos um dos principais termômetros da economia.
Patriolino Dias de Sousa
presidente do Sinduscon-CE

As atividades que integram a nossa cadeia produtiva impactam diretamente na geração de empregos, na melhoria dos principais indicadores do desenvolvimento econômico e social do nosso Estado. 

Quando lançamos o olhar para o futuro, conseguimos vislumbrar novos e promissores horizontes. O mercado imobiliário encontra-se numa curva de crescimento com cenário extremamente favorável para venda e também para a geração de emprego e renda.

EXPECTATIVA NA GERAÇÃO DE EMPREGOS

Assis Cavalcante

Presidente da CDL Fortaleza

Nós do comércio estamos na expectativa de que, em 2022, haja uma melhora na geração de emprego e renda. Mas, há alguns fatores importantes na economia que precisamos observar, como por exemplo, a questão social.

O auxílio pago pelo Governo é necessário para a sobrevivência das famílias carentes e impacta diretamente no varejo. Esse dinheiro faz a roda da economia girar.

No momento em que as vendas começam a crescer, o comércio começa a fazer pedidos às indústrias, e certamente a cadeia produtiva toda entra em ação. Além do auxílio, o crescimento econômico, para o ano que vem, depende da inflação.
Assis Cavalcante
presidente da CDL Fortaleza

Os salários corroídos não geram muita venda. As pessoas ficam preocupadas e diminui o poder de compra. Equilibrando esses dois fatores, teremos um bom crescimento econômico no próximo ano.

COMÉRCIO DE OLHO NO AUXÍLIO BRASIL

Luiz Gastão Bittencourt

Presidente do Sistema Fecomércio Ceará

A pandemia trouxe grande impacto para a economia como um todo, e o comércio foi um dos segmentos mais afetados.

Com o retorno gradual das empresas de bens, serviços e turismo, os setores dedicaram este ano para a recuperação das perdas sofridas durante o período de lockdown e de medidas de distanciamento social, que tiveram elevado custo não apenas social, mas também econômico.

Mas como a atividade comercial é bastante dinâmica, logo se adaptou à nova realidade. O que vimos em 2021 foi o hábito de compras digitais se acelerar, trazendo mudanças no perfil das lojas físicas.

De acordo com pesquisa da Nielsen, as vendas do e-commerce brasileiro somaram R$ 53,4 bilhões no primeiro semestre de 2021, com crescimento de 31% em relação ao mesmo período em 2020. Foram 42 milhões de pessoas comprando pelo e-commerce, sendo 6,2 milhões novos usuários.

Para 2022, a expectativa é que esse mercado continue crescendo e ajudando a recuperar o comércio. Além disso, o Auxílio Brasil, que garante o poder de compra principalmente dos mais pobres, terá grande impacto na elevação do consumo, recompondo a capacidade de consumo de produtos básicos, o que certamente irá reativar o comércio.
Luiz Gastão Bittencourt
presidente do Sistema Fecomércio Ceará

HORIZONTE PROMISSOR NA ENERGIA

Luis Carlos Queiroz

Presidente do Sindienergia-CE

O ano de 2021 representou uma virada de chave para o setor de energia. Em meio à descarbonização que o mundo vive, o Brasil vem tentando também não ficar de fora desse movimento tão importante.

Com a pior crise hídrica dos últimos 90 anos vivenciada neste ano e a iminência de um racionamento no país, ficou ainda mais nítida a necessidade de desenvolvermos mais energias alternativas, decorrentes de fontes abundantes, como o vento e o sol. Paralelo a isso, tivemos importantes conquistas, como a aprovação na Câmara Federal do Marco Regulatório da Geração Distribuída.

Chegamos ao final do ano com cerca de 25 mil cearenses usufruindo desse excelente negócio - sustentável e econômico - que é gerar a própria energia por meio de sistema solar fotovoltaico, um crescimento de cerca de 100%. Recentemente também, o Ceará sediou a assinatura da regulamentação das usinas híbridas. Por fim, a ascensão do Hidrogênio Verde no estado.

Dessa forma, a nossa perspectiva para 2022 é extremamente positiva, de continuidade de crescimento do setor em diversos vieses, caminhando para uma maior oferta de energia e o que é mais importante: abundante, mais barata e sustentável.
Luis Carlos Queiroz
presidente do Sindienergia-CE

FORÇA DO POLO QUÍMICO

Paulo Gurgel

Presidente do Sindquímica-CE

Podemos dizer que 2021 foi um ano ao mesmo tempo positivo e desafiador para o setor químico. Apesar de um crescimento de 30% até julho desse ano (em comparação com julho do ano passado), impulsionado, em especial, pelos segmentos de saneantes e cosméticos, tivemos alguns desafios bem marcantes, como altas no valor dos principais insumos, na energia e da inflação.

Paralelo a isso, em 2021, iniciamos as operações no nosso grande projeto atualmente, que é o Polo Químico de Guaiúba, com o start nas atividades da indústria de embalagens plásticas, Intraplast. E, em 2022, pelo menos três novas indústrias devem iniciar também suas operações no Polo.
Paulo Gurgel
Presidente do Sindquímica-CE

A ampla vacinação e um retorno mais próximo da normalidade em um pós-pandemia devem trazer, no próximo ano, a segurança que o mercado precisa para iniciar um reerguimento e melhorar índices essenciais para a continuidade do desenvolvimento do nosso setor e da economia como um todo.

SUPERMERCADOS EM EXPANSÃO

Nidovando Pinheiro

Presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu)

Uma das poucas atividades que tiveram o funcionamento continuado desde o início da pandemia, em março de 2020, foi o setor supermercadista.

Tivemos uma expansão e devemos encerrar o ano de 2021 com cerca de 100 novas lojas no Ceará, superando 2020, mas provavelmente abaixo do que deve ser inaugurado em 2022. Até julho de 2021 nós tivemos a inauguração de 73 lojas no Ceará, sendo 19 na Capital e o restante na região metropolitana e outros municípios. 

Já estamos observando uma tendência de estabilizar as vendas mensais, mas ainda acima da média, se compararmos com o período anterior à pandemia. Muito pelo fato de que surgiram novos hábitos, que têm se mantido, como o de cozinhar mais em casa. 

Acreditamos que o crescimento para setor no Ceará deverá ficar acima do patamar de 4,5% estimado pela ABRAS - Associação Brasileira de Supermercados. Acreditamos que vamos terminar 2021 com cerca de 100 novas lojas e que em 2022 superaremos as 100 inaugurações de 2021. 
Nidovando Pinheiro
presidente da Acesu

VOOS DOMÉSTICOS EM ASCENSÃO

Andreea Pal

CEO da Fraport Brasil

Agora, neste momento, estou otimista. Acho que Brasil não vai experimentar o que sucede hoje em dia na Europa com a quarta onda. Acho que por causa da disciplina e entendimento da população aqui no Brasil que em sua maioria tomou a vacina, vamos conseguir passar e sair dessa pouco a pouco.

Naturalmente, a movimentação doméstica do aeroporto é muito boa, esperamos em dezembro cerca de 93% do que tivemos antes da pandemia. A verdade é que ninguém sabe o que vai suceder depois, em fevereiro e março.

As companhias aéreas estão com muito cuidado planejando os voos para não aumentar mais do que o necessário os assentos oferecidos. Mas, do ponto de vista da movimentação doméstica, estamos otimistas para o próximo ano.
Andreea Pal
CEO da Fraport Brasil

Na parte internacional, como todo mundo, estamos sofrendo muito. Agora, com a quarta onda e a nova variante não se sabe se os Estados Unidos vão fechar de novo.

Essa esperança que tínhamos de ver a retomada dos voos para os Estados Unidos a partir de Fortaleza parece, portanto, que de novo volta ao estágio de espera.

AGRO VÊ 2022 INCERTO

Edson Brok

Presidente da Câmara Setorial do Agronegócio

Ainda estamos numa fase de ajustes, porque o aumento das máterias primas, no agronegócio em geral, afetou bastante, ainda estamos nocauteados. É muito difícil repassar esses aumentos para os compradores e consumidores finais. 

Com relação ao ano de 2021, os preços de fertilizantes e defensivos agrícolas aumentaram muito,  provavelmente vamos ter uma diminuição da produção. Alguns entes devem sair do mercado, outros devem sobreviver. 

Mas a falta de matéria-prima é no mundo inteiro. O Brasil é um país, em alguns setores, que manda no mercado mas tem que acomodar seus preços no mercado internacional. 

2022 é um ano incerto, é um ano eleitoral, porém na nossa atividade, se tratando de alimentos, não temos para onde escapar, temos que seguir produzindo. Este ano foi muito ruim, 2022 é muito incerto, mas não perdemos a esperança. 
Edson Brok
presidente da Câmara Setorial do Agronegócio

A nossa expectativa do ponto de vista institucional da Câmara será muito bom, conseguimos estabelecer um melhor diálogo com Governo e agora todas as câmaras estão centralizadas em uma só. Estamos muito mais fortes, vamos conduzir da melhor forma.