Brasília. Pela sexta vez seguida, o Banco Central (BC) baixou os juros básicos da economia. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu ontem a taxa Selic em 1 ponto percentual, de 11,25% ao ano para 10,25% ao ano. A decisão era esperada pelos analistas.
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Com a redução, a Selic chega ao menor nível desde janeiro de 2014, quando estava em 10% ao ano. De outubro de 2012 a abril de 2013, a taxa foi mantida em 7,25% ao ano, no menor nível da história, e passou a ser reajustada gradualmente até alcançar 14,25% em julho de 2015. Somente em outubro do ano passado, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia.
Em comunicado, o Copom destacou que a inflação continua em queda e que o cenário internacional segue favorável para o Brasil. O Banco Central, no entanto, informou que o aumento das incertezas em relação ao clima político e ao andamento das reformas pode levar à redução do ritmo de corte da taxa Selic nas próximas reuniões.
"O Copom ressalta que a extensão do ciclo de flexibilização monetária dependerá, dentre outros fatores, das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira. O comitê entende que o aumento recente da incerteza associada à evolução do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira dificulta a queda mais célere das estimativas da taxa de juros estrutural e as torna mais incertas. Essas estimativas continuarão a ser reavaliadas pelo comitê ao longo do tempo", informou o colegiado em nota.
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA ficou em 0,14% em abril deste ano, no menor nível da história do índice registrado para o mês.
Nos 12 meses terminados em abril, o IPCA acumula 4,08%, a menor taxa em 12 meses desde julho de 2007. Até o ano passado, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelecia meta de inflação de 4,5%, com margem de tolerância de 2 pontos, podendo chegar a 6,5%. Para este ano, o CMN reduziu a margem de tolerância para 1,5 ponto percentual. A inflação, portanto, não poderá superar 6% neste ano.
Poderia ser maior
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avaliou ontem, por meio de nota, que a "recente turbulência política impediu que o Banco Central acentuasse o ritmo de queda dos juros". Ao comentar a redução da taxa Selic, a CNI afirma que o corte poderia ter sido maior, "caso o ambiente de incertezas não tivesse dificultado os horizontes da economia". "O comportamento da inflação, abaixo da meta para 2017, e suas perspectivas favoráveis permitiriam um corte mais agressivo dos juros, o que iria contribuir para a continuidade da gradual normalização da atividade econômica", diz a nota da entidade.
Na avaliação da CNI, a intensidade do ritmo de queda dos juros nas próximas reuniões depende da solução das incertezas políticas que viabilize a continuidade das reformas em discussão no Congresso. A entidade volta a defender que as reformas são "cruciais tanto para a garantia do equilíbrio fiscal de longo prazo como para a modernização das relações econômicas e a elevação da competitividade dos produtos brasileiros". "São, portanto, fundamentais para a consolidação do crescimento econômico", completou.
Queda de ritmo
Comunicado do BC divulgado após a decisão de corte indica que o ritmo de corte do juro será reduzido já na próxima reunião.
"Em função do cenário básico e do atual balanço de riscos, o Copom entende que uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em relação ao ritmo adotado hoje deve se mostrar adequada em sua próxima reunião", cita o documento divulgado pelo BC. A redução de 1 ponto porcentual era largamente esperada pelos economistas do mercado financeiro. De um total de 57 instituições consultadas pela reportagem, 47 esperavam corte de 1 ponto porcentual da Selic, oito projetavam diminuição menor, de 0,75 ponto porcentual, e duas mantinham expectativa por redução de 1,25 ponto porcentual.
Mercado
No mercado, havia a percepção de que um corte de 1,25 ponto porcentual seria possível, mas não provável. Isso porque a crise política surgida após as delações de executivos da JBS, que comprometem o governo de Michel Temer, elevou o risco para os próximos meses. O próprio presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, em comunicações recentes, havia reconhecido que as incertezas aumentaram por conta do cenário político.
Foi justamente o aumento das incertezas, que colocam em risco as reformas trabalhista e previdenciária, o principal motivo citado pelo Copom na decisão desta quarta-feira.
Opinião do especialista
Decisão veio dentro do previsto
corte de 1 ponto percentual na Selic estava dentro do previsto, em função dos últimos episódios políticos ocorridos no Brasil. A maioria dos analistas apostava no corte de 1 ponto, especialmente diante da mudança mais abrupta do cenário político. Esperava-se que o Banco Central, por isso, fosse mais parcimonioso. A inflação segue projetada em 4%, com a meta sendo 4,5%. Por incrível que pareça, após toda a hecatombe que presenciamos no País, a taxa Selic segue sendo mantida a 8% para o fim do ano, com perspectiva de crescimento do PIB. Por isso, não vejo nesse corte nada muito diferente do que já se esperava que ocorresse. As variáveis se mantém abaixo da meta da inflação. A projeção da Selic se mantém sob 8,5%. Temos ainda muitas reuniões do Copom até o fim do ano para garantir que o País consiga chegar com esse número. E a redução de 1% é adequada à medida em que a economia, a taxa de crescimento, continuam aquém do desejado. Nesse corte, a diferença não é muito grande e está dentro do que precisa para se fechar o ano com crescimento em 0,5% e IPCA abaixo de 4%. Esperava-se isso. De qualquer forma, em relação ao que o BC vinha fazendo no momento em que começou a cortar ano passado, é algo até significativo.
Ricardo Eleutério - Economista