Com a queda da taxa básica de juros, a Selic, nos últimos anos, até os rendimentos dos recursos aplicados no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) vinham superando os ganhos na caderneta de poupança, modalidade de investimento mais popular do País, e outras opções da renda fixa.
Porém, economistas preveem que essa perspectiva se inverta nos próximos meses com o novo ciclo de alta da Selic, o que deve tranquilizar os investidores.
Os recursos do FGTS só podem ser acessados em situações específicas, como no caso do pagamento da multa por demissão sem justa causa ou no pagamento de financiamentos imobiliários.
Dinâmica dos investimentos
A manutenção da Selic em um patamar de 2% fez com que os rendimentos do FGTS superassem os ganhos da poupança, que segue uma dinâmica de 75% da taxa básica de juros.
Isso fez com que uma das aplicações financeiras mais conhecidas no País perdesse atratividade nos últimos meses.
As contas que estão vinculadas ao fundo são remuneradas com 3% ao ano, mais a Taxa Referencial (TR) que está em zero e a distribuição dos lucros anuais do fundo, no qual o percentual é estabelecido pelo Conselho Curador.
Atualmente, segundo pesquisa direta realizada pelo Sistema Verdes Mares, o rendimento do FGTS ainda supera a poupança em mais de 0,5% pontos percentuais ao ano.
A correção também quase empata com opções financeiras mais básicas que se baseiam apenas no CDI (Certificado de Depósito Interbancário), como alguns CDBs (Certificado de Depósito Bancário), por exemplo.
Veja o rendimento anual de alguns investimentos atualmente
- Poupança: 2,45%
- FGTS: 3% + lucros anuais
- 100% do CDI: 3,4%
- 110% do CDI: 3,74%
- FGTS com lucros (2020): 4,9%
- Tesouro Selic 2024: 5,5%
- Tesouro Selic 2027: 5,73%
Inversão do jogo
Contudo, segundo o economista e professor da Universidade de Fortaleza, Allisson Martins, esse cenário deverá se inverter nos próximos meses, já que a previsão econômica para a taxa Selic é de alta até o final de 2021.
De acordo com o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, a taxa básica de juros deverá encerrar o ano em 5,5%.
Caso a perspectiva se confirme, Martins destacou que todos os investimentos de renda fixa devem acabar ganhar um reforço no rendimento.
"Os CDBs normalmente são atrelados ao CDI, que está conectado à Selic. No passado, sim, o FGTS poderia estar apresentando ganhos superiores ao CDB, mas esse jogo deve acabar invertendo com os possíveis aumentos da Selic. Se a Selic sobe, sobem o CDI e todos os investimentos que depende dele", disse Martins.
Ele ressaltou, no entanto, que o investidor deve sempre planejar a retirada dos recursos, considerando que os lucros em determinadas opções de investimento de renda fixa estão sujeitos à cobrança do Imposto de Renda (IR). Quanto maior o tempo de aplicação, menor será a alíquota de cobrança do IR.
"Nós temos de olhar o valor efetivo dos investimentos, e como temos ainda a cobrança do Imposto de Renda em alguns ativos, que varia sobre o tempo que recurso fica aplicado, o rendimento pode ser afetado. É precisa estar atento a isso", disse.
Entenda a tabela regressiva do IR em investimentos:
- Entre 0 e 180 dias: 22,5%
- Entre 181 e 360 dias: 20%
- Entre 361 e 720 dias: 17,5%
- Mais de 720 dias: 15%
Melhores opções
A opinião é corroborada pelo presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, que reforçou a perspectiva de que os investimentos de renda fixa, assim como a poupança, deverão ter rendimentos melhores que o FGTS nos próximos meses a partir do aumento da Selic.
Contudo, ele ponderou que o investidor precisa também observar o impacto da inflação sobre os recursos aplicados. Coimbra explicou que, mesmo com uma recuperação de ganhos com a alta da Selic, os investimentos na poupança e alguns títulos públicos ainda não são os mais recomendados por estarem apresentando um rendimento real negativo.
Isso acontece quando a inflação no País – hoje prevista em 5,06% pelo Banco Central – supera os rendimentos anuais dos investimentos.
Considerando o cenário, Coimbra destacou a importância de se buscar títulos públicos que tenham a lucratividade atrelada ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medidor da inflação no Brasil.
"Se fizermos um comparativo, o FGTS estava, sim, apresentando rendimentos melhores, mas se a Selic voltar a subir, a poupança tende a ter melhores resultados no futuro, superando os do Fundo. Mas é importante ressaltar que ambas ainda estão abaixo da inflação, então é preciso buscar títulos que estejam atrelados ao IPCA, por exemplo", destacou.
Cenário incerto
O presidente do Corecon-CE ainda mencionou que os recursos do FGTS só podem ser acessados em situações específicas.
Coimbra destacou que há, no Ministério da Economia, alguns projetos que poderiam dar mais liberdade sobre os recursos investidos para cada trabalhador, como os saques ao Fundo que aconteceram no ano passado, mas que não se sabe se o Governo Federal dará andamento a eles.
"Nós pudemos usar os recursos do FGTS no ano passado, mas novas medidas, que poderia liberar mais acesso à parte do Fundo, parecem estar paradas no Ministério da Economia. E no bojo dos projetos de privatização podem surgir, sim, novas ferramentas para se utilizar os recursos do FGTS, mas tudo ainda é incerto, então precisamos aguardar", afirmou.