O sonho de comprar um carro foi adiado ou cancelado para alguns cearenses. Com o aumento no preço dos automóveis e nas despesas para manter o veículo, diminuiu o custo benefício do bem, levando consumidores a buscarem outras opções de mobilidade.
De acordo com dados de abril do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o preço do automóvel novo subiu 18,24% nos últimos 12 meses, enquanto o usado teve alta de 16,69%.
Além do preço do carro, também houve alta nos combustíveis (27,89%), seguro voluntário de veículo (16,43%), acessórios e peças (9,45%), conserto de automóvel (9,45%) e até em emplacamento e licença (5,91%).
Todas essas altas fizeram com que a conta não fechasse para o desenvolvedor de software Lucas Falcão, de 31 anos. Ele já estava há um ano e meio economizando para comprar um seminovo, mas decidiu deixar a compra para depois.
“Chegou um ponto em que o preço dos carros começou a subir mais rápido do que eu conseguia economizar”, conta. Segundo ele, o preço dos combustíveis também pesou na decisão de desistir do carro próprio.
Aumento generalizado
A pandemia trouxe para o mercado de automóveis uma valorização fora do normal. A paralisação de fábricas devido a medidas sanitárias levou a um desabastecimento mundial de componentes necessários para fabricar veículos.
Com uma menor produção de veículos novos, tanto os veículos saídos da fábrica como os já usados ficaram mais caros. E, junto com eles, outros custos que são interligados ao preço do automóvel também subiram.
No Ceará, o IPVA teve uma alta de em média de 21% em 2022, mesmo sem ter um aumento na alíquota cobrada.
“Como o IPVA você paga um percentual do valor do carro, um carro qualquer que valha 100 mil e você paga em torno de 4% de IPVA, paga 4 mil. Se o carro valorizar 10,20%, o IPVA vai ser cobrado mais caro porque ele está atrelado ao preço do veículo. Isso vale tanto para o novo quanto para o usado”, detalha o professor de ciências econômicas da Mackenzie, Julian Alexienco Portillo.
Já as apólices dos seguros subiram em até 50%, seguindo a mesma lógica do IPVA. Com o preço do veículo maior, o valor da cobertura também precisa acompanhar.
Portillo explica que também houve um aumento nos preços de manutenção e peças devido a uma maior presença de veículos seminovos no mercado, em meio à menor produção de veículos novos.
Tem mais carros usados em circulação e o carro usado precisa de mais manutenção. Nas oficinas mecânicas, à medida que aumenta o serviço de manutenção, quem trabalha percebe um aumento de clientes e vê um espaço para cobrar mais caro".
Os combustíveis são um caso à parte e influenciam, de alguma forma, o aumento de todos esses custos devido à alta dos fretes. Despesa com maior incremento no último ano, a gasolina e o diesel levam em conta a valorização do petróleo e o câmbio para composição dos preços.
“Se o preço do combustível está subindo de preço, fica mais caro produzir qualquer tipo de produto, para transportar a matéria-prima e o produto acabado. É como se fosse uma bola de neve. A empresa paga mais caro no produto porque tem falta de componentes e, quando consegue a matéria prima, o frete ficou mais caro”, resume.
Para o professor, essa cadeia de altas só deve se regularizar quando houver uma normalização na produção de veículos novos a nível mundial. Segundo ele, isso só deve ocorrer em 2025.
Carro por assinatura
O gerente de marketing Rafael de Santana, de 36 anos, já juntava há alguns anos para financiar seu primeiro veículo. Mas, em outubro do ano passado, ele decidiu optar por um plano de carro por assinatura ao invés do automóvel próprio.
“Fui para um feirão de veículos e fiz uma simulação para um celta 2015. Precisava dar R$ 7 mil de entrada e parcelas de R$ 760, para um carro com 7 anos de uso. Hoje pago parcela de R$ 1.045 em um carro novo, que já tá incluso seguro, IPVA, manutenção incluso. Quando comparei os planos e não teve outra escolha”, conta.
Ele afirma que uma das principais vantagens da modalidade é justamente não ter de se preocupar com outros custos, além da possibilidade de ter um carro novo todo ano. Rafael optou por um contrato de 36 meses, período no qual ele tem franquia de 1.000 km por mês.
Para ele, a economia foi de pelo menos R$ 8 mil somente na entrada, sem considerar outros custos mensais. Só de seguro, ele estima uma economia de R$ 2 mil.
Eu acho que não devo comprar, devo continuar nessa modalidade. Porque eu tenho acesso a outros modelos mais caros que eu não teria acesso com financiamento. É uma parcela parecida sem a burocracia e outros custos, porque já é incluso na mensalidade, só pago um valor fixo".
Plano adiado
Sem carro próprio, hoje o desenvolvedor de software Lucas Falcão, de 31 anos, utiliza transporte público e por aplicativo para se locomover. Apesar dos custos mensais, ele considera comprar um automóvel no futuro.
“Eu tenho que usar o Uber todo fim de semana por conta do trabalho da minha esposa, sendo que o custo do Uber é mais que o custo da gasolina. Porém, quando se tem o carro tem impostos, manutenção. Eu diria que ainda assim seria econômico ter carro, mais que o Uber”, calcula.
Ele espera uma melhora no cenário econômico com o passar das eleições para, então, deixar de depender de ônibus como meio de transporte.