Bolsonaro anuncia desistência de Renda Brasil e ameaça cartão vermelho na equipe

Anúncio foi feito nas redes sociais do presidente

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta terça-feira (15) que desistiu de lançar o programa Renda Brasil, uma reformulação do Bolsa Família.

O presidente ameaçou ainda com "cartão vermelho" integrantes da equipe econômica que defenderem medidas como o corte de benefícios de aposentados e deficientes. "Até 2022, no meu governo, está proibido falar a palavra Renda Brasil. Vamos continuar com o Bolsa Família. E ponto final", afirmou.

"Eu já disse a poucas semanas que jamais que vou tirar dinheiro dos pobres para dar para os paupérrimos. Quem, porventura, vir a propor pra mim uma medida como essa, eu só posso dar cartão vermelho para essa pessoa. É gente que não tem o mínimo de coração, o mínimo de entendimento de como vivem os aposentados do Brasil. Então vou dizer a todos vocês. Pode ser que alguém da equipe econômica tenha falado sobre esse assunto, pode ser. Jamais vamos congelar salário de aposentados, bem como jamais vamos fazer com que o auxílio para idosos e pobre com deficiência seja reduzido para qualquer coisa que seja", disse o Presidente em vídeo publicado nas redes sociais. 

Antes mesmo da divulgação do vídeo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi chamado ao Palácio do Planalto para uma audiência com o presidente. Ele adiou a participação em um evento para o encontro.

Segundo assessores palacianos, a desistência do programa social foi o tema principal da reunião, que ocorreu em um clima de irritação. Segundo relatos feitos ao jornal Folha de São Paulo, na reunião, Bolsonaro pediu a Guedes que assessores da equipe econômica evitem dar entrevistas à imprensa, para evitar novas polêmicas.

​Um membro do alto escalão do governo avalia que o próprio Guedes teria planejado esse movimento com a intenção de convencer o governo sobre a necessidade de criar o imposto sobre transações financeiras.

Na avaliação dessa fonte, o ministro fez uma manobra política ao autorizar seu subordinado a lançar essa discussão sobre o congelamento de aposentadorias. O objetivo seria mostrar que o governo não tem recursos e precisa encontrar uma fonte para financiar os novos programas.

Desde a idealização, o Renda Brasil sempre foi motivo de conflito interno no Governo Federal. Ainda em julho, uma força tarefa foi criada para agilizar o projeto que tem por objetivo substituir o Bolsa Família em todo o País.

A necessidade de um novo valor maior para as famílias carentes surgiu com o Auxílio Emergencial, que aumentou o Bolsa Família em até dez vezes dependendo das condições de cada beneficiário - no caso de mulheres chefes de família, o valor chega a R$ 1,2 mil.

Cálculos

Na força tarefa, a equipe econômica fez cálculos para que o novo programa alcançasse entre 6 milhões e 8 milhões de pessoas a mais do que o número de atendidos pelo Bolsa Família, hoje em cerca de 14 milhões.

Diante do pedido de Bolsonaro, na época, Guedes afirmou na reunião que a alternativa será o corte das deduções médicas e de educação do IR. A avaliação é que essa renúncia de receitas do governo beneficia, em sua maior parcela, famílias de renda média e alta.

De acordo com uma pessoa que estava na reunião, Guedes afirmou ter levado opções para custear o programa e ressaltou que o presidente teria que fazer escolhas - quanto mais programas revisados ou extintos, mais robusto ficaria o Renda Brasil.

Efeitos do conflito

Guedes queria extinguir benefícios como o abono salarial para abrir caminho no Orçamento a um benefício de maior valor para a população mais carente, mas Bolsonaro avisou que não vai "tirar de pobres para dar a paupérrimos" e exigiu um novo plano.

O conflito entre o ministro e o presidente resultou, em agosto, em mais volatilidade no mercado, fazendo a Bolsa de Valores cair e o dólar aumentar.