Alimentação em Fortaleza fica mais cara; carnes mantêm preço alto

Segundo dados do IBGE, o setor de alimentação e bebidas na Capital teve elevação de 3,22% em setembro, puxado por arroz e feijão. Analistas revelam preocupação com preço das carnes, que seguem em patamar elevado

Escrito por Redação ,
Legenda: Itens da alimentação básica, como arroz e feijão e carne, em Fortaleza, ficaram mais caros em setembro

A alimentação básica do fortalezense ficou mais cara em setembro. Segundo a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o setor teve alta de 3,22%, puxado pela variação em itens básicos como o arroz e o feijão, que tiveram uma flutuação de 20,58%. Além desses produtos, a carne tem preocupado os especialistas, tendo mantido um patamar elevado de valores de revenda desde o começo deste ano. A avaliação é que a demanda externa pela carne brasileira tem elevado os preços internamente. 

Veja também

Na Capital, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o avanço é percebido tanto no IPCA, que mostra alta de 4,05% em setembro, como no levantamento mensal da Cesta Básica, que revela um encarecimento de 7 reais, considerando a quantidade necessária para uma família de quatro pessoas.

No mês de setembro, ante agosto deste ano, todos os cortes avaliados pelo IBGE ficaram mais caros: fígado (2,17%), carne de porco (4,47%), contrafilé (2,33), chã de dentro (4,31%), alcatra (4,69%), patinho (6,3%), acém (3,93%), costela (4,88%) e picanha (1,48%). 

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas de Fortaleza (Sindicarnes-CE), Francisco Everton, explica que essa elevação está ligada a dois fatores: além da pressão causada pelo aumento da demanda de outros países pela carne brasileira, o produto sazonalmente encarece no segundo semestre do ano em decorrência da entressafra. “A entressafra aumenta o custo de se criar o boi, então já existe esse fator sazonal”.

O presidente do Sindicarnes-CE também destaca que os impactos econômicos da pandemia também se traduziram na redução dos quadros de trabalhadores os frigoríficos, o que contribuiu para a elevação no preço da carne. “O trabalho no frigorífico tem que ser presencial, então com essa redução houve baixa na linha de abate do boi”, pontua.

Na avaliação dele, ainda será possível que o consumidor presencie alguma elevação nos preços. Francisco Everton acredita, porém, que após as elevações, os preços do produto devem chegar a um patamar limite e que, então, a tendência será de queda.

“Os preços podem continuar subindo, mas em uma escala bem menor porque não há fôlego por parte do consumidor para comprar a carne a qualquer preço. E se não vende no varejo, também há um freio na demanda no atacado”, detalha o presidente do Sindicarnes-CE. De acordo com Francisco Everton, cerca de 95% da carne bovina consumida no Ceará é trazida de outros estados, a exemplo de Goiás e de Tocantins.

A proteína já havia passado por um crescimento expressivo nos preços em 2019, decorrência do aumento das exportações para suprir a demanda chinesa que na época sofreu contaminação em seus rebanhos. Com a situação, houve redução da oferta no mercado interno e encarecimento do produto. De acordo com o Dieese, os R$ 157,23 necessários para comprar hoje, em Fortaleza, 4,5kg de carne representam cerca de R$ 50 a mais ante o valor necessário para adquirir a mesma quantidade do produto em setembro do ano passado.

O supervisor técnico do Dieese, Reginaldo Aguiar, corrobora que o aumento das exportações e a desvalorização do real ante o dólar são os principais motivos para o encarecimento da proteína em 2020. Ele avalia que o atual cenário “é uma extensão dos mesmos fatores vistos em 2019”, já que os preços continuam se elevando.

Mercado

“A carne é um item que, desde o fim do ano passado, tem tido o preço afetado, com o aumento das exportações, que desabasteceram e encareceram o produto dentro do mercado interno. Durante a pandemia, principalmente nos últimos três meses, a gente viu uma intensidade maior no aumento do preço da carne, principalmente neste mês de setembro”, avalia o supervisor técnico do Dieese.

Na avaliação dele, os preços devem continuar elevados até o fim deste ano. De acordo com Aguiar, isso ocorre porque para os produtores a exportação neste momento se torna mais vantajosa, considerando a valorização da carne no mercado internacional. “A moeda brasileira ao longo deste ano foi a que mais se desvalorizou frente ao dólar. Hoje, você tem um estímulo maior para vender pro mercado externo, porque o lucro que se tem é maior, o preço da carne no mercado internacional aumentou.  Enquanto houver uma demanda maior lá fora e o câmbio continuar com a diferença que está, os preços devem ficar nesse patamar ou aumentar um pouco”, acredita o supervisor técnico do Dieese.

O presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, avalia que a inflação dos produtos alimentícios acaba penalizando fortemente os mais pobres. No IPCA de Fortaleza, o grupo alimentação e bebidas apresentou alta de 3,22% em setembro deste ano. “Os indivíduos com renda menor gastam uma proporção maior do que ganham para garantir a alimentação, então sempre que há uma variação na alimentação, as camadas sociais mais baixas são mais impactadas”, explica.

Em relação ao preço da carne, ele também acredita que a demanda externa contribuiu para a pressão nos preços do produto, mas lembra ainda que a elevação do câmbio impactou o preço da carne também ao elevar os custos do transporte. “Nós tivemos, em função do câmbio, uma elevação nos preços dos combustíveis. O somatório dessas variáveis contribui para o aumento dos preços”, detalha o presidente do Corecon-CE.

Com a elevação no preço da carne bovina, o consumidor acaba buscando outras opções de proteína disponíveis no mercado com preços menores. Ricardo Coimbra explica que essa movimentação também acaba elevando os preços desses outros produtos, já que a demanda cresce. De acordo com o IBGE, itens como o frango (1,43%) e ovos (0,95%) registraram elevação em setembro. O avanço também foi observado nos preços dos embutidos, a exemplo da linguiça (4,57%), mortadela (2,30%)e presunto (1,93%).

Em setembro deste ano, a inflação oficial em Fortaleza e região metropolitana medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, divulgada ontem (9) pelo IBGE, avançou 1,22%. Com o resultado, no ano, o índice acumula alta de 2,55% em 2020. Para Coimbra, não há mais tanto espaço para o avanço da inflação. “Acredito que a principal elevação já aconteceu e que talvez a gente permaneça com preços nesse patamar elevado ou eles até caiam um pouco, porque parte dessa elevação está relacionada à demanda maior, principalmente por conta do auxílio. Como o auxílio foi reduzido pela metade, é possível que a pressão sobre os preços diminua e isso pode gerar uma estabilidade ou até queda”, explica.

Além disso, Ricardo Coimbra destaca que não vê mais espaço para a elevação do câmbio nos próximos meses. “Eu também não vejo mais tanto espaço para elevação do câmbio, talvez haja até uma diminuição. Estamos nos aproximando do fim do ano, há perspectiva de uma vacina”, pontua, justificando ainda a possibilidade de avanço das reformas tributária e administrativa e o processo eleitoral norte-americano, que podem contribuir com esse cenário.

Outros produtos

Tradicional prato da culinária cearense, o baião de dois ficou mais caro em Fortaleza e Região Metropolitana em setembro, já que o arroz e o feijão tiveram alta de 20,58%. 

Além desses itens, o óleo de soja também apresentou inflação elevada no mês, com alta de 33,96%. No ano, feijão, arroz e óleo registraram um crescimento de 70,03%, 47,83% e 60,22% respectivamente. De acordo com o gerente da pesquisa do IBGE, Pedro Kislanov, a alta do dólar e aumento da demanda interna pressionaram os preços desses itens e que o consumidor precisa buscar composições diferentes.

Ouça o podcast 'Vem Empreender'

 

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados