A um ano da Copa, investimento do País em infraestrutura cai

Escrito por Redação ,
Expectativa de que os investimentos em infraestrutura decolem no País, em 2013, não deve se confirmar

Rio Nos três primeiros meses do ano, R$ 14,8 bilhões foram destinados ao setor de infraestrutura no Brasil, um recuo de 4,5% frente ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento feito pela Inter. B Consultoria. Apesar da aproximação da Copa do Mundo, a concentração de leilões de concessão de rodovias, ferrovias e aeroportos no fim do ano adiará para 2014 os desembolsos mais significativos para a área.

A concentração de leilões de concessão para o fim do ano adiou para 2014 os desembolsos mais significativos para o setor de infraestrutura no Brasil , incluindo obras de reforma e ampliação de aeroportos, rodovias e ferrovias FOTO: FABIANE DE PAULA

"Se alguém esperava que 2013 fosse o ano da arrancada pode esquecer", diz o economista Cláudio Frischtak, sócio da consultoria e um dos responsáveis pelo estudo que cruza dados públicos de investimento federal, de empresas estatais, estaduais, autarquias e empresas privadas na área de infraestrutura. Isso inclui segmentos em energia elétrica, telecomunicações, rodovias, ferrovias, metrô, aeroportos, portos, hidrovias, e saneamento.

Contestação

Em nota, o Ministério do Planejamento contestou o estudo alegando que o investimento público no setor alcançou R$ 54,7 bilhões até maio, cifra que representa um crescimento de 4,5% sobre o ano passado. O governo diz que o investimento do setor privado cresceu quatro vezes mais do que o Produto Interno Bruto (PIB) desde 2007.

Para a Inter. B Consultoria, a diferença deve-se ao fato de o estudo não contabilizar investimentos no setor de óleo e gás. Só no primeiro trimestre, o orçamento da Petrobras foi de R$ 19,8 bilhões. Além disso, o dado do Governo incluiu mais dois meses na contagem. Os dados fechados pela equipe mostram que o investimento em infraestrutura atingiu 2,29% do PIB nominal em 2012, R$ 100,6 bilhões em números absolutos.

O resultado foi um avanço de 0,20 ponto percentual em comparação a 2011, mas ainda está longe dos 2,46% do PIB de 2008, ano de maior investimento relativo no setor desde o início do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

As obras da Copa e o fraco crescimento do PIB tiveram efeitos importantes na recuperação dos números de 2012. O programa de concessões do governo Dilma Rousseff também ajudou, com o início dos aportes privados e da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) nos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília.

Corrida administrativa

Apesar de admitir que os investimentos costumam se acelerar ao longo do ano, Frischtak alerta que o segundo semestre reserva apenas uma corrida administrativa do governo para acelerar os leilões de rodovias, ferrovias e aeroportos.

Outro ponto que pode conter a expansão dos aportes em infraestrutura é o desempenho da Eletrobrás. A companhia investiu R$ 9,9 bilhões em 2012, o equivalente a 10% dos recursos destinados ao setor no mesmo ano. Os desembolsos da companhia elétrica em projetos como a usina de Belo Monte garantiram um significativo avanço da contribuição das estatais federais para o setor de infraestrutura em 2012. A estatal projeta investir R$ 13,8 bilhões em 2013, mas atingiu apenas R$ 1,9 bilhão desse total até março.

A Eletrobrás não vem executando 100% do seu orçamento. O ano passado foi fora da curva em termos de investimentos - a média anual de 2007 a 2011 foi de R$ 4,6 bilhões ao ano. A preocupação é que o impulso da empresa não se repita, pois o mercado espera que sua capacidade de investimento seja reduzida após os termos desfavoráveis da antecipação da renovação das concessões do setor elétrico definidos no ano passado.


Conjuntura torna difícil financiamento de obras

Rio
Equacionar o financiamento para as futuras concessões de infraestrutura se tornou um desafio ainda maior com a crescente deterioração do ambiente financeiro global e a insatisfação política doméstica traduzida nas manifestações populares das últimas semanas. O Governo passou a última semana tentando dissipar o clima de tensão e negando que as turbulências possam afetar o cronograma de leilões previstos para os próximos meses.

O ministro dos Transportes, César Borges, saiu em defesa do programa governamental ao declarar que o financiamento às concessões continua a ser um negócio atraente. Os próximos leilões de rodovias, ferrovias, aeroportos e do trem-bala estão previstos para o período de setembro a dezembro.

O fato é que a janela de captações privadas se fechou e terá de ser compensada pela maior participação dos bancos públicos. A expectativa é que Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil financiem até 70% dos R$ 133 bilhões do Programa de Investimento e Logística, anunciado em agosto de 2012. "A conjuntura é adversa. Houve aumento da incerteza e a elevação dos juros básicos pelo Banco Central terá impacto no custo dos financiamentos", avalia o economista Cláudio Frischtak, da Inter. B Consultoria.
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