Presidência libanesa nega ter recebido Carlos Ghosn

Suspeita-se que Ghosn tenha voado em um jato particular de Istambul para Beirute, onde entrou legalmente de acordo com as autoridades locais e onde encontrou sua família

Escrito por AFP ,
Legenda: Ghosn entrou no Líbano com passaporte francês, de acordo com documentos da autoridade aeroportuária consultados pela AFP
Foto: AFP

A presidência libanesa negou, nesta quinta-feira (2), as alegações de que o presidente Michel Aoun recebeu, em sua chegada no Líbano, Carlos Ghosn, ex-CEO da Renault-Nissan que fugiu do Japão, onde estava em prisão domiciliar.

Ghosn fugiu em condições misteriosas do Japão, onde era processado por crimes financeiros. Ele chegou a Beirute na segunda-feira (30). Em comunicado, o empresário, que tem nacionalidades libanesa, francesa e brasileira, informou que foi recebido por Aoun, uma informação negada pela presidência. "Ele não foi recebido na presidência e não se encontrou com o presidente da República", disse uma autoridade à AFP. 

Suspeita-se que Ghosn tenha voado em um jato particular de Istambul para Beirute, onde entrou legalmente de acordo com as autoridades locais e onde encontrou sua família. Segundo um de seus advogados libaneses, Carlos Abou Jaoude, a data de uma coletiva de imprensa ainda não foi definida.

As autoridades francesas disseram nesta quinta-feira que Ghosn, de 65 anos, não será extraditado se for à França. Ghosn entrou no Líbano com passaporte francês, de acordo com documentos da autoridade aeroportuária consultados pela AFP.

Segundo o canal de televisão público japonês NHK, a justiça japonesa permitiu excepcionalmente que ele mantivesse seu segundo passaporte francês em um cofre, cuja chave estava na posse de seus advogados.

As circunstâncias de sua saída do Japão, onde estava em prisão domiciliar após 130 dias de prisão, à espera de julgamento a partir de abril de 2020, permanecem incertas. Uma fonte próxima a Ghosn negou que ele fugiu escondido em uma caixa de instrumento musical, como noticiou um jornal libanês.

Ghosn é alvo de quatro acusações no Japão: duas por renda diferida não declarada pela Nissan às autoridades financeiras e duas outras por quebra de confiança com agravante. 

Preso em novembro de 2018, o magnata sempre negou as acusações, alegando ter fugido de um "sistema judicial japonês tendencioso". Foram abertas investigações no Japão e na Turquia sobre as circunstâncias de sua fuga.

Alguns libaneses o veem como um símbolo de sucesso dentro da grande diáspora libanesa. Mas seu retorno ao Líbano, palco de um vasto movimento de protesto desde outubro contra uma classe política considerada corrupta, é visto pelos manifestantes como uma demonstração da impunidade e dos privilégios dos mais ricos.