Plano de Trump prevê Vale do Jordão como um território de Israel

Região rica em recursos hídricos e estratégica para a agricultura e a segurança de Israel vira ponto central do plano de paz apresentado pelo presidente americano Donald Trump. Palestinos rejeitam proposta de anexação de terras

Escrito por Redação , mundo@svm.com.br
Legenda: Vale do Jordão, visto das Colinas de Golã, é considerado por Israel como área vital para sua segurança
Foto: Foto: Shutterstock

O Vale do Jordão, uma planície agrícola, militarizada e com importantes recursos aquíferos que segundo o plano de paz americano seria anexado por Israel, é uma faixa de terra estratégica, que representa cerca de 30% da Cisjordânia ocupada e se estende ao longo da fronteira com a Jordânia.

Israel considera essa planície entre os maciços desérticos essencial para sua segurança, na medida em que lhe permite limitar as fronteiras dos territórios palestinos e, portanto, controlar eventuais infiltrações. Se for anexado, este Vale se tornaria a fronteira oriental israelense, ampliando assim seu território contíguo à Jordânia, país com o qual Israel assinou um acordo de paz em 1994.

Apesar desse acordo, o Vale serviria, da perspectiva militar israelense, como uma zona de amortecimento, que está pouco povoada, em caso de ataques por via terrestre por parte de seus vizinhos.

O Vale do Jordão é "vital" para Israel, declarou, ontem, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em coletiva de imprensa conjunta em Washington com o presidente americano Donald Trump, anunciando que no contexto do projeto norte-americano, seu país "aplicará sua soberania" sobre essa região.

Antes das eleições legislativas de setembro passado, Netanyahu prometeu que, se fosse reeleito, anexaria o Vale, uma medida que aniquilaria "qualquer possibilidade de paz", segundo os palestinos.

Netanyahu informou que a anexação não incluirá as cidades palestinas, como Jericó, que poderá se tornar uma ilha árabe rodeada de território israelense. O rival político do premiê, e ex-comandante-chefe do exército, Benny Gantz, também se declarou a favor da anexação do vale.

Controlado por Israel

Cerca de 10 mil dos 400 mil colonos israelenses estabelecidos na Cisjordânia ocupada vivem no Vale do Jordão, segundo dados do governo israelense e ONGs. Cerca de 65 mil palestinos também vivem no local, que inclui a cidade de Jericó (com 20 mil habitantes), segundo a organização anticolônias israelense B'Tselem.

A colonização israelense, tanto da Cisjordânia como de Jerusalém Oriental, é ilegal segundo o direito internacional.

No entanto, os EUA mudaram em novembro sua posição em relação a esse assunto tão sensível, assegurando que essas colônias não são contrárias ao direito internacional.

A maior parte do Vale já é administrada por Israel, que integra a área denominada "C" da Cisjordânia, segundo os acordos de Oslo que regulam as relações entre a Autoridade Palestina e Israel desde meados da década de 1990.

A zona "C", sob controle civil e de segurança israelense, representa cerca de 60% da Cisjordânia em seu conjunto.

Recentemente, o ministro da Defesa, Natftali Bennett, afirmou que toda a área "C", e não somente o Vale do Jordão, pertence a Israel.

Água

Estendendo-se do sul do Mar da Galileia até o norte do Mar Morto, o Vale do Jordão é estratégico ao setor agrícola por seus recursos hídricos em uma região semidesértica.

Segundo o B'Tselem, 56% do Vale está reservado só ao uso militar, e 85% de suas terras não é acessível aos palestinos. Segundo dados da União Europeia, foi no Vale que as autoridades israelenses executaram a maior quantidade de demolições desde 2009 (2.403 edificações palestinas).

Repúdio palestino

A proposta de Trump de criar um Estado Palestino com a capital em Abu Dis, ao leste de Jerusalém, foi rejeitada em bloco pelos palestinos. Em uma rara convergência, o Hamas, no poder na Faixa de Gaza, e a Autoridade Palestina, do presidente Mahmud Abbas, que controla a Cisjordânia, alinharam-se no repúdio ao plano de paz.

Jerusalém

No seu plano de paz, Trump fixou um prazo de 4 anos para que os palestinos acertem um acordo de segurança com Israel e suspendam os ataques do Hamas.